Earthship: casas ecológicas à prova de catástrofes
O arquitecto norte-americano Michael Reynolds constrói casas feitas de garrafas, latas e pneus com terra. Estas moradias prometem ser auto-suficientes e capazes de resistir a crises
O arquitecto Michael Reynolds, de 68 anos, tem construído, um pouco por todo o mundo, casas auto-suficientes edificadas com material reciclado. Garrafas, latas e, sobretudo, pneus velhos cheios de terra. Assim se constroem as “Earthship”, moradias que prometem garantir a sobrevivência dos seus ocupantes mesmo nos piores cenários.
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O arquitecto Michael Reynolds, de 68 anos, tem construído, um pouco por todo o mundo, casas auto-suficientes edificadas com material reciclado. Garrafas, latas e, sobretudo, pneus velhos cheios de terra. Assim se constroem as “Earthship”, moradias que prometem garantir a sobrevivência dos seus ocupantes mesmo nos piores cenários.
Adepto de um mundo mais limpo e preocupado com a devastação ambiental desde os anos 70, o arquitecto norte-americano focou-se a desenvolver casas (ou “máquinas”, como prefere chamar-lhe) auto-suficientes em água, energia, saneamento e alimentação. “O que importa se há um crash económico? O que importa se a política não funciona? As pessoas continuam no comando das suas vidas”, diz Michael Reynolds em entrevista à revista online VICE.
Estas casas captam a água da chuva e permitem que seja reutilizada quatro vezes (passando por alguns processos de tratamento), podendo ser aquecida pelo sol ou através de gás natural. A electricidade é outra das poupanças importantes para o arquitecto. Ela é obtida através de sistemas solares e eólicos, sendo armazenada em baterias.
Quanto ao lixo e ao saneamento, estes “navios terrestres” reutilizam o esgoto doméstico através de células de tratamento, interiores e exteriores. Para além disso, os autoclismos usam um sistema de água-cinza tratada, o que permite a ausência de odores. A comida é cultivada numa estufa, que aproveita a água usada nos lavatórios e que é posteriormente tratada para regar as plantas.
Para garantir conforto aos donos, as “Earthship” utilizam a luz solar e a massa térmica da terra para manter a temperatura ambiente agradável. No site do projecto, é garantido que as “Earthship mantêm temperaturas confortáveis em qualquer clima”, sendo que o design do projecto varia consoante as condições climatéricas que se fazem sentir de local para local.
Várias tipologias de construção
As construções “biotecture”, de Michael Reynolds, não têm todas o mesmo preço. O seu custo depende da tipologia do projecto. Para os países desenvolvidos foi criado o “modelo global”. A planta da casa pode custar entre 3700 euros e 7500. Não obstante, por cada metro quadrado construído, o cliente tem de pagar mais 1800 euros. As “Earthship” podem ser construídas pela equipa num mês, mas o cliente tem de pagar viagem e estadia à equipa de construção.
Como estes modelos não estavam acessíveis à maioria da população, o arquitecto e a sua equipa desenvolveram os “simple survival”. Estes modelos, que custam “apenas” alguns milhares de euros, foram construídos no Haiti após o terramoto e Michael Reynolds acredita que podem resolver problemas essenciais dos países em desenvolvimento: “água, saneamento e abrigo”.
Earthship em Manhattan
Estes “navios terrestres” já chegaram a vários pontos do globo (principalmente em zonas remotas), como Espanha, EUA, França, Canadá, Holanda ou México. Agora é a vez de estas “casas” chegarem às grandes cidades. O arquitecto quer fazer um prédio sustentável em Nova Iorque. O edifício terá dois andares e vai ser instalado um espelho, com cerca de 25 metros de altura, para reflectir a luz solar sobre a casa.
Para isso, já há um terreno reservado na rua Pitt, em Manhattan, desde 2011. No entanto, só em 2012 é que o projecto teve maior projecção, devido à falta de água, electricidade e aquecimento que o furacão Sandy provocou. “Agora estão à procura de qualquer tipo de ajuda”, afirma o arquitecto.
Por agora, ainda não há data definida para o início das obras, devido à falta de licenças. No entanto, o arquitecto acredita que “há a hipótese de começar [as obras] no próximo verão”.