Virgem Margarida
No que é mais uma prova da fragilidade inerente ao actual cinema africano de língua portuguesa, a nova obra do veterano moçambicano Licínio Azevedo, que estreia em Portugal após mais de um ano de passagem por festivais, desperdiça uma narrativa de forte potencial num filme simplista e algo canhestro. Inspirado em factos reais ocorridos em 1975 em Moçambique, Azevedo conta a história de um grupo de prostitutas da cidade enviadas à força para um “campo de reeducação” no meio do mato, com vista à sua transformação de “mulheres de má vida” em donas de casa obedientes. O filme faz passar bem a denúncia de um fundamentalismo político cujo progressivismo ideológico mantém intacto o sexismo condescendente dos tempos coloniais, tratando as mulheres como cidadãs de segunda classe sem direito à palavra. Mas a força da premissa é desbaratada numa banal história de caserna, centrada na comandante do campo e em quatro “recrutas”, uma das quais a adolescente rural, inocente e sem documentos, que dá título ao filme. Margarida, no entanto, revela-se praticamente uma personagem secundária; é o primeiro sinal das fragilidades de argumento e construção de Virgem Margarida, que cai rapidamente num maniqueísmo excessivamente simplista, que trata as suas personagens como “bonecos” funcionais sem arcos narrativos, meras correias de transmissão para a mensagem que se quer fazer passar. É pena, há em Virgem Margarida um óptimo filme que ficou por fazer.
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No que é mais uma prova da fragilidade inerente ao actual cinema africano de língua portuguesa, a nova obra do veterano moçambicano Licínio Azevedo, que estreia em Portugal após mais de um ano de passagem por festivais, desperdiça uma narrativa de forte potencial num filme simplista e algo canhestro. Inspirado em factos reais ocorridos em 1975 em Moçambique, Azevedo conta a história de um grupo de prostitutas da cidade enviadas à força para um “campo de reeducação” no meio do mato, com vista à sua transformação de “mulheres de má vida” em donas de casa obedientes. O filme faz passar bem a denúncia de um fundamentalismo político cujo progressivismo ideológico mantém intacto o sexismo condescendente dos tempos coloniais, tratando as mulheres como cidadãs de segunda classe sem direito à palavra. Mas a força da premissa é desbaratada numa banal história de caserna, centrada na comandante do campo e em quatro “recrutas”, uma das quais a adolescente rural, inocente e sem documentos, que dá título ao filme. Margarida, no entanto, revela-se praticamente uma personagem secundária; é o primeiro sinal das fragilidades de argumento e construção de Virgem Margarida, que cai rapidamente num maniqueísmo excessivamente simplista, que trata as suas personagens como “bonecos” funcionais sem arcos narrativos, meras correias de transmissão para a mensagem que se quer fazer passar. É pena, há em Virgem Margarida um óptimo filme que ficou por fazer.