Entrevista com Terry Jones: Isto é um Monty Python
Texto publicado originalmente no suplemento Ípsilon de 11 de Janeiro de 2008.
O que faz um Monty Python em Lisboa durante dois meses? Escreve e encena Evil Machines, amanhã em estreia mundial no Teatro Municipal São Luiz. Parquímetros do inferno, carros selvagens e aspiradores conspiratórios vão andar por aí.
Amanhã, o Teatro Municipal São Luiz é palco da estreia mundial de Evil Machines, a nova peça de Terry Jones, Monty Python extraordinário, escritor, comentador político, realizador e um punhado de outras coisas.
Com os eléctricos a passar no Chiado e a sua cadelinha Nancy a pontuar a entrevista, Terry Jones fala ao Ípsilon sobre a sua carreira, sobre a fama em crescendo dos Python e deseja a prisão de Bush e de Blair, enquanto no palco se defende a honra dos gadgets de que nos desfazemos com tanta despreocupação.
Evil Machines é uma narrativa sobre o século XXI na óptica de máquinas do século XX e de um homem que, em 1969, embarcou numa aventura deliciosamente grotesca com outros cinco amigos chamada Monty Python's Flying Circus. Essa revolução humorística Monty Python coincidiu com a revolução cultural movida pela cultura juvenil e ditou o fim da banal punchline.
Prestes a fazer 66 anos, o galês Terry Jones aceitou o desafio do compositor Luís Tinoco, mudou-se para Lisboa e desenvolveu uma peça dirigida por Cesário Costa e interpretada pela Orquestra Metropolitana de Lisboa.
Os carros selvagens, os relógios desgovernados e os comandos à distância sensuais atacam no palco do São Luiz nas próximas semanas. Entretanto, lançam-se livros sobre os Python, os DVDs com os seis actores/ autores não param de se reinventar e até se encena uma peça com os melhores sketches em português. Os Monty Python nunca estiveram tanto na moda em Portugal.
Qual é a sua relação com a tecnologia, visto que Evil Machines é uma história sobre a relação dos humanos com as máquinas?
A minha relação com a tecnologia é, como deve ser para todos, uma bênção mista. Resisti durante muito tempo a ter computador. Dizia “a minha máquina de escrever serve perfeitamente”, mas acabei por sucumbir.
Lutei contra ter um telemóvel por muito tempo, mas uso um, embora esteja quase sempre desligado.
Como surgiu a ideia para Evil Machines?
Não é a tradicional narrativa “os computadores ganham vida e matam a humanidade... “ Detesto dizer isto, mas estava a conduzir e o título surgiu-me. Comecei a escrever histórias com base nisso e compilei um livro de histórias chamado Evil Machines. A primeira história era sobre um carro que raptava pessoas. Havia outra sobre um telefone que dizia o que queríamos dizer na verdade e não o que estávamos a dizer.
Todas acabaram por se tornar uma única história, que é como a história de Evil Machines, o musical [hesita].
Afinal, é uma ópera ou um musical?
O Luís [Tinoco] está a chamar-lhe um musical, diz que nunca tinha escrito um musical. Mas há cantores de ópera profissionais e a música é bastante difícil para a orquestra e para os cantores.
Eu diria que é mais uma ópera, mas penso que o Luís vê a ópera como algo mais sério.
Teve algum papel na escolha dos 13 actores e cantores?
Sim, eu e a Anna Soderstrom, que escreveu a história comigo, estivemos em Lisboa em Maio com o Luís Tinoco e com o Cesário Costa. Passámos um dia no teatro e vimos cerca de 32 cantores. Depois do Luís e do Cesário avaliarem a forma como cantavam, eu subia para o palco e actuava um pouco com eles. Na verdade, atribuímos os papéis nesse dia.
Colocou máquinas mais antigas, como aspiradores e bombas de gasolina, no papel das máquinas que vão exterminar a humanidade devido à forma como as usamos hoje. Porque não foram os iPods ou os aparelhos de GPS a lutar pela sua honra?
É uma boa questão, os mais maliciosos deviam ter sido os iPods. Mas há uma divisão no mundo das máquinas na história. Os electrodomésticos têm noção de que se os humanos se tornarem obsoletos, em terminologia de máquinas, não terão trabalho. E há também os aspiradores, que devem ser máquinas muito perigosas [riso].
Quando estudava, odiava matemática e ciência e hoje está a dirigir uma peça que está repleta desses elementos. No 3º acto, quando tudo se torna uma questão de ver quem é mais inteligente, criador ou criatura, isso acaba reduzido a um concurso de TV. É a isso que a nossa cultura reduziu o conhecimento?
Tem razão. A nossa sociedade, através da televisão, está a nivelar tudo num patamar muito baixo. É um triste estado de coisas.
Optou por evidenciar a metacomunicação teatral. Não há esforços para esconder os assistentes de palco e alguns cenários até indicam o que são, com sinaléctica. Porquê?
Nunca me envolvi verdadeiramente com o teatro antes disto, mas o teatro de que sempre mais gostei foi aquele em que é bastante óbvio o que as pessoas estão a fazer, mas que ainda assim funciona. Há uma certa magia no teatro, vemos o que se está a passar, não é como no cinema, podemos ser mais abstractos na forma como apresentamos as coisas.
Para onde vai Evil Machines depois de Lisboa?
Vai ficar em Lisboa até meados de Fevereiro e depois irá até ao Porto. Se as pessoas gostarem, espero que vá para outros locais. Adoraria vê-la num palco de Londres. Adoraria também vê-la em Nova Iorque, mas teremos de esperar para ver.
A história de Evil Machines tem um toque de ficção infantil. Já atribuiu o facto de gostar deste universo porque ele se adequa à sua idade mental. É verdade?
Porque uma mente infantil não faz sketches sobre Proust. Não faço uma distinção entre escrever para crianças e para adultos. Escrevo apenas sobre o que me interessa. Também escrevo muitas coisas académicas, normalmente sobre História e a Idade Média, e mesmo nesses textos tento ser o mais simples possível. Não vejo a linha divisória, tal como não vejo a divisão entre o humor e o sério. As pessoas tendem a pôr-nos em prateleiras.
Gosto de pensar que há humor em qualquer situação. Mesmo na Idade Média, as pessoas riam-se. Não vejo as coisas assim, tal como não vejo as coisas de crianças ou de adultos. São simplesmente Evil Machines.
Como é que se descreveria? Comediante, escritor, realizador...
Não sou um comediante. Nunca fiz um stand-up, tenho um medo terrível de o fazer. Gosto de realizar, é divertido e menos entediante do que ser actor. No cinema há tantas esperas enquanto actor e é por isso que nunca actuei no filme de outrem.
Quando chegou à Universidade de Oxford tinha passado por um liceu que nada incentivava a sua vontade de ser actor. Quando começou a representar em Oxford e, logo a seguir, no West End de Londres, sentiu que finalmente estava a fazer o que queria?
Tenho uma composição que escrevi quando tinha sete anos em que dizia “I am hopping to be an actor”, assim mesmo, com dois “p” ["hop” saltar; “hope” esperar]. Acho que na verdade eu queria dizer que esperava tornar-me actor. Acho que ainda estou a saltitar para ser actor. Não me vejo como actor, embora goste de o fazer.
Para mim, é sobretudo a escrita que vem primeiro. Tudo vem da escrita.
Conheceu Michael Palin [outro Python] na Universidade de Oxford e começou a escrever com ele em peças e depois para TV. Como era esse processo?
No princípio escrevíamos juntos. Sentávamo-nos à secretária e discutíamos fala a fala, palavra a palavra, mas percebemos que era muito mais fácil escrever cada um em sua casa e depois ler juntos. E muitas vezes trocávamos simplesmente de guiões e cada um acrescentava coisas. Penso que nos programas dos Monty Python eu e o Mike produzíamos imenso material, montes dele, e depois o John [Cleese] e o Graham [Chapman] apareciam com apenas uma ou duas coisinhas excelentes. Depois o Eric [Idle] surgia com umas coisas verbais e depois o Terry Gilliam sugeria animações. E nós só pedíamos: “Limita-te a fazê-las, não nos descrevas o que vais fazer, por favor, não compreendemos o que estás a dizer.”
Com os Python, influenciou muita gente nas últimas quatro décadas. Quem o influenciou a si quando começou a escrever?
Penso que todos nós fomos muito influenciados por um programa de rádio chamado The Goon Show (BBC, 1951-1960), com o Spike Milligan, Peter Sellers e Harry Secombe.
Isso mostrou-nos o que se podia fazer com a rádio, como se podia ser verdadeiramente louco com imagens e ideias. Milligan influenciou seguramente a forma dos Monty Python, porque ele fazia uma série chamada Q5 na televisão e quando vi o programa, pensei: “Ele rompeu a forma como se escreve comédia para a televisão”.
Normalmente, escrevem-se sketches de três minutos com princípio, meio e fim, ou quickies de uma piada de 30 segundos. E o Milligan começava um sketch e passava para outra coisa, e para outra, e rompeu com a forma. Ele é que começou a fazer isso, esses sketches abertos. E eu pensei que podíamos casar isso com as animações que o Terry Gilliam tinha feito para o programa infantil de televisão Do Not Adjust Your Set (ITV, 1967).
Pensei que podíamos ter esse fluxo de consciência a percorrer o programa.
Qual foi a maior vitória trazida pelo fluxo de consciência?
Na verdade saiu de um cartoon que o Terry Gilliam fez para o Do Not Adjust Your Set, no qual eu, o Mike e o Eric escrevíamos, chamado Elephant.
Ele só disse [imita a voz de Gilliam]: “Não sei sobre o que é, na verdade é só fluxo de consciência, vai de uma coisa para a outra e acaba de novo no princípio.” Foi a ideia de casar esse fluxo de consciência e que um sketch podia tornar-se noutra coisa, a partir da ideia do Milligan. Foi sobretudo uma grande libertação, livrou-nos das punchlines.
Foi sempre vossa intenção encenar e interpretar os vossos textos?
Sim. O Mike Palin e eu tínhamos escrito para outras pessoas, como o [comediante] Marty Feldman, e tínhamos visto os nossos guiões serem alterados ao serem feitos e a não serem tão bons. Por isso, queríamos fazer as nossas coisas.
Eric Idle disse que o facto de os Python serem uma comuna de escritores, em que os argumentistas é que estavam ao leme, era determinante para o produto final.
Sim, o facto de todos contribuirmos e de escrevermos juntos. Normalmente, quando alguém escrevia um papel sumarento, fazia esse papel. Não tínhamos de o explicar a mais ninguém, a actores a quem tivéssemos de dizer como o fazer. Isso foi crucial. Outro aspecto crucial foi o facto de todos gostarmos do trabalho uns dos outros, respeitávamo-nos. A opinião dos outros sobre um sketch era muito importante para cada um de nós. Ocasionalmente, insistíamos que algo era engraçado quando o grupo não achava. Mas normalmente aceitávamos as opiniões dos outros.
Às vezes as coisas não se passavam assim. No Sentido da Vida há um sketch chamado Mr. Creosote, com o homem gordo que vomita no restaurante. Quando o Mike e eu escrevemos isso e o apresentámos numa reunião de escrita na verdade, acho que foi logo depois do almoço, todos disseram que não tinha graça e foi para o monte dos “rejeitados”.
Um mês mais tarde, o John telefonou-me e disse: “Estive a ler o sketch do Creosote e acho que é engraçado”. Acho que o John se apercebeu que o mais engraçado era o empregado de mesa [desempenhado no filme por John Cleese]. Essa foi uma excepção.
Qual foi a reacção da BBC e dos espectadores aos primeiros episódios de Os Malucos do Circo?
A BBC nunca gostou da série. Não pareceu haver reacção aos primeiros cinco programas. Depois, as crianças começaram a escrever a dizer que gostavam do programa. Essa foi a primeira reacção que tivemos e depois houve boa recepção da crítica. Mas a BBC continuava a odiá-lo e, depois da primeira temporada, era muito duvidoso que encomendasse uma segunda, mas fê-lo.
Hoje é mais fácil apoiarem-se programas provocadores? Não sei... O que sei é que uma coisa como os Python não teria ido para o ar hoje, porque eles teriam querido saber qual era o público-alvo. E, na altura, quando fomos ter com a BBC havia uma série de homens de fato que nos perguntaram sobre o que era a série. E nós respondíamos: “Não sabemos”.
"A quem é destinada?” “Não sabemos.” E eles fizeram “tsc, tsc, tsc” e disseram: “Bom, só vos podemos dar 13 programas” [risos]. Isto não podia acontecer hoje, eles quereriam testar o programa.
Michael Palin diz que, na sua essência, os Python eram o Terry Jones, o Terry Gilliam e ele, eram os que debatiam a essência da coisa.
O Mike disse isso?
Sim, na autobiografia Os Monty Python Pelos Monty Python (Oficina do Livro)...
Estou surpreendido. Talvez ele estivesse a falar da essência da forma dos programas. Eu peguei nessa ideia de usar o que o Milligan tinha feito, partir os sketches e usar a animação do Terry Gilliam para os ligar e quando falei nisso ao Mike e ao Terry Gilliam eles concordaram imediatamente que era uma ideia óptima. Enquanto o John, o Graham e o Eric não estavam interessados nisso. Na terceira série eu, o Mike e o Terry trabalhámos muito nisso e aí o John, o Graham e o Eric concordaram que a colagem de tudo era uma boa ideia. A verdade é que houve sempre uma divisão entre [os alunos de] Cambridge [ John Cleese, Eric Idle e Graham Chapman] e [os de] Oxford. O Terry era um Oxford honorário e ficava sempre do nosso lado [de Terry Jones e de Michael Palin] quando havia uma divisão sobre se algo era engraçado.
Acha que a sátira ainda pode mudar a sociedade?
Bom, nos anos 1960 pensávamos que podia, mas suspeito que não. O que acontece é que as pessoas que criticamos nos adoptam. O programa preferido da Margaret Thatcher era o Spitting Image [que inspirou a Contra-Informação], ela gostava de se ver retratada. Na verdade, aumenta a sua fama e suspeito que quando o Steve Bell faz os seus cartoons no Guardian e retrata o George Bush como um macaco e o Tony Blair vesgo, a imagem ajuda a reforçar a sua notoriedade.
A única coisa que o humor pode fazer é assegurar as pessoas de que há quem pense da mesma maneira. Não penso que vá converter alguém, mas penso que nos faz sentir acompanhados e nos dá uma voz.
Tendo em conta a reacção que A Vida de Brian teve e o episódio dos cartoons de Maomé há alguns anos, acha que a religião é o assunto mais delicado de satirizar?
Acho que pensaríamos duas vezes em fazer A Vida de Brian hoje. Em meados dos 1970, a religião parecia morta. As igrejas estavam vazias e não havia interesse em temas religiosos em Inglaterra. Pessoalmente, penso que a forma como a religião hoje ganhou protagonismo e se tornou um assuntochave na política mundial tem a ver com a indústria do armamento, que depois da queda do comunismo precisava de outro inimigo. No final dos anos 1980, lembro-me de ler o editorial de uma revista de armamento, Weapons Today, cujo título era Graças a Deus pelo Saddam. Foi antes da primeira Guerra do Golfo e o editor escrevia que no futuro poderíamos olhar para o islão como substituto do comunismo. Aposto que a indústria do armamento tem feito o seu melhor para acicatar o fundamentalismo islâmico.
Porque é o que qualquer empresa faz.
Depois do 11 de Setembro, veio a público criticar a Guerra ao Terrorismo. Ainda pensa que os ataques foram a melhor coisa que aconteceu à administração Bush?
Acho que era o que Bush queria e precisava. Os arquitectos do regime Bush publicaram, em 2000, um artigo Renovar as Defesas da América, publicado no site de um movimento criado por Paul Wolfowitz, Richard Pearl, Dick Cheney e outros neocons, que ali imprimiram a sua agenda. A ideia era aumentar os gastos dos EUA em armamento e para isso era preciso ir para o Iraque e Saddam Hussein dá-nos uma boa desculpa para estabelecer uma presença de uma força americana no Médio Oriente.
Não é a minha opinião, é o que eles dizem. Outra coisa que diziam que seria necessária era o convencimento da sociedade americana, salvo se sucedesse um evento cataclísmico como um novo Pearl Harbor. O 11 de Setembro deu-lhes esse evento.
Tem alguma expectativa quanto às eleições nos EUA?
Suspeito que eles vão bombardear o Irão antes das eleições e que acabarão por eleger um republicano.
Criticou a política de Blair quanto à guerra no Iraque e agora ele foi nomeado como representante do Quarteto para o Médio Oriente. O que acha disso?
É uma anedota. Blair é uma vergonha pela sua total complacência com o regime americano. Talvez ele não tivesse escolha, talvez se ele não tivesse apoiado Bush fosse deposto... Os americanos têm um grande ascendente sobre o Reino Unido, talvez seja pela economia... É única razão pela qual imagino que Blair tenha acordado bombardear um país que não nos fez qualquer mal e que o tenha feito cometer crimes de guerra. Pelos quais espero que seja acusado nos próximos anos. Espero sinceramente que Bush e Blair sejam acusados de crimes de guerra e postos na cadeia pelo que fizeram.
N'O Nome da Rosa, de Umberto Eco, as pessoas eram mortas em nome de um fanatismo que queria manter escondido o elogio do riso. O que é que há de tão perigoso no riso?
Acho que os políticos e os religiosos tentam excisar o riso. Há muitas pessoas que têm medo do riso. Mesmo quando era pequeno eu escrevia umas piadinhas nos trabalhos da escola e estavam sempre sublinhadas, com notas: “Venha ter comigo para falar sobre isto”. Qual é o problema?! Se puser piadas nas coisas sobre História que eu escrevo, as pessoas questionam. Porque é que a História tem de ser [entoa a voz grave] terrivelmente séria? Faz-me lembrar quando fizemos A Vida de Brian e vimos uma série de filmes bíblicos, A Toga, Sodoma e Gomorra, The Greatest Story Ever Told, e o que todos tinham em comum era que [voz grave] todos falavam com um grande sentido de pasmo por viverem na época de Jesus Cristo. O que é verdadeiramente herege n “A Vida de Brian é que falamos com vozes parvas.
Apesar de tanta coisa que fez após os Monty Python, alguma vez se sentiu prisioneiro da fama do grupo?
Não, na verdade ela sempre me possibilitou fazer coisas. E a fama tem sido gradual, estranhamente. Parece maior hoje do que há 30 anos. Não sei o que se passa, mas parece estar num crescendo até agora. Quando estávamos a fazer o programa de televisão não o sentíamos.
John Cleese assinala que Terry é um maníaco do controlo e que por isso é que realizar [os três filmes dos Python, um deles com Terry Gilliam] era o seu destino natural.
Ele disse que eu é que sou o maníaco do controlo?! Ele é que é o maníaco do controlo! Bom, numa série que fizemos, The Complete and Utter History of Britain, escrevemos uma paródia western à guerra e os franceses deveriam ser os índios e aparecer no topo de uma montanha. Quando chegámos ao local das filmagens, era um campo liso! Nesse momento pensei que tinha de controlar tudo, os locais, onde vai a câmara, tudo.
Depois dos Python, voltou às bibliotecas e mergulhou na História e na Literatura, duas outras paixões suas.
Na verdade, continuei a fazer isso quando gravávamos a série. Depois do Cálice Sagrado tirei um ano e escrevi o meu primeiro livro académico sobre Chaucer.
Porque se interessou tanto por Chaucer e pelos Contos da Cantuária?
É como chegar ao fundo de um mistério. Chaucer é um escritor engraçado, mas há hectares da escrita dele que parecem muito enfadonhos. E eu pensei que ele não podia ter escrito algo tão chato, deve ser da forma como estamos a olhar para ele. Foi quando tentei perceber as partes enfadonhas de Chaucer que me interessei pelo The Knight's Tale.
Em cima de quem deitaria um peso de 16 toneladas? À parte de George Bush e Tony Blair? Acho que o senhor Cheney seria a pessoa ideal, se eu deitasse pessoalmente o peso.
Tal como os outros Python, tem um asteróide com o seu nome. Sente-se honrado?
Nunca vi o meu asteróide e por isso fico um pouco nervoso sobre se será mais pequeno do que o dos outros.
Qual é o sentido da vida?
Ainda estou a trabalhar nisso, depois digo-vos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O que faz um Monty Python em Lisboa durante dois meses? Escreve e encena Evil Machines, amanhã em estreia mundial no Teatro Municipal São Luiz. Parquímetros do inferno, carros selvagens e aspiradores conspiratórios vão andar por aí.
Amanhã, o Teatro Municipal São Luiz é palco da estreia mundial de Evil Machines, a nova peça de Terry Jones, Monty Python extraordinário, escritor, comentador político, realizador e um punhado de outras coisas.
Com os eléctricos a passar no Chiado e a sua cadelinha Nancy a pontuar a entrevista, Terry Jones fala ao Ípsilon sobre a sua carreira, sobre a fama em crescendo dos Python e deseja a prisão de Bush e de Blair, enquanto no palco se defende a honra dos gadgets de que nos desfazemos com tanta despreocupação.
Evil Machines é uma narrativa sobre o século XXI na óptica de máquinas do século XX e de um homem que, em 1969, embarcou numa aventura deliciosamente grotesca com outros cinco amigos chamada Monty Python's Flying Circus. Essa revolução humorística Monty Python coincidiu com a revolução cultural movida pela cultura juvenil e ditou o fim da banal punchline.
Prestes a fazer 66 anos, o galês Terry Jones aceitou o desafio do compositor Luís Tinoco, mudou-se para Lisboa e desenvolveu uma peça dirigida por Cesário Costa e interpretada pela Orquestra Metropolitana de Lisboa.
Os carros selvagens, os relógios desgovernados e os comandos à distância sensuais atacam no palco do São Luiz nas próximas semanas. Entretanto, lançam-se livros sobre os Python, os DVDs com os seis actores/ autores não param de se reinventar e até se encena uma peça com os melhores sketches em português. Os Monty Python nunca estiveram tanto na moda em Portugal.
Qual é a sua relação com a tecnologia, visto que Evil Machines é uma história sobre a relação dos humanos com as máquinas?
A minha relação com a tecnologia é, como deve ser para todos, uma bênção mista. Resisti durante muito tempo a ter computador. Dizia “a minha máquina de escrever serve perfeitamente”, mas acabei por sucumbir.
Lutei contra ter um telemóvel por muito tempo, mas uso um, embora esteja quase sempre desligado.
Como surgiu a ideia para Evil Machines?
Não é a tradicional narrativa “os computadores ganham vida e matam a humanidade... “ Detesto dizer isto, mas estava a conduzir e o título surgiu-me. Comecei a escrever histórias com base nisso e compilei um livro de histórias chamado Evil Machines. A primeira história era sobre um carro que raptava pessoas. Havia outra sobre um telefone que dizia o que queríamos dizer na verdade e não o que estávamos a dizer.
Todas acabaram por se tornar uma única história, que é como a história de Evil Machines, o musical [hesita].
Afinal, é uma ópera ou um musical?
O Luís [Tinoco] está a chamar-lhe um musical, diz que nunca tinha escrito um musical. Mas há cantores de ópera profissionais e a música é bastante difícil para a orquestra e para os cantores.
Eu diria que é mais uma ópera, mas penso que o Luís vê a ópera como algo mais sério.
Teve algum papel na escolha dos 13 actores e cantores?
Sim, eu e a Anna Soderstrom, que escreveu a história comigo, estivemos em Lisboa em Maio com o Luís Tinoco e com o Cesário Costa. Passámos um dia no teatro e vimos cerca de 32 cantores. Depois do Luís e do Cesário avaliarem a forma como cantavam, eu subia para o palco e actuava um pouco com eles. Na verdade, atribuímos os papéis nesse dia.
Colocou máquinas mais antigas, como aspiradores e bombas de gasolina, no papel das máquinas que vão exterminar a humanidade devido à forma como as usamos hoje. Porque não foram os iPods ou os aparelhos de GPS a lutar pela sua honra?
É uma boa questão, os mais maliciosos deviam ter sido os iPods. Mas há uma divisão no mundo das máquinas na história. Os electrodomésticos têm noção de que se os humanos se tornarem obsoletos, em terminologia de máquinas, não terão trabalho. E há também os aspiradores, que devem ser máquinas muito perigosas [riso].
Quando estudava, odiava matemática e ciência e hoje está a dirigir uma peça que está repleta desses elementos. No 3º acto, quando tudo se torna uma questão de ver quem é mais inteligente, criador ou criatura, isso acaba reduzido a um concurso de TV. É a isso que a nossa cultura reduziu o conhecimento?
Tem razão. A nossa sociedade, através da televisão, está a nivelar tudo num patamar muito baixo. É um triste estado de coisas.
Optou por evidenciar a metacomunicação teatral. Não há esforços para esconder os assistentes de palco e alguns cenários até indicam o que são, com sinaléctica. Porquê?
Nunca me envolvi verdadeiramente com o teatro antes disto, mas o teatro de que sempre mais gostei foi aquele em que é bastante óbvio o que as pessoas estão a fazer, mas que ainda assim funciona. Há uma certa magia no teatro, vemos o que se está a passar, não é como no cinema, podemos ser mais abstractos na forma como apresentamos as coisas.
Para onde vai Evil Machines depois de Lisboa?
Vai ficar em Lisboa até meados de Fevereiro e depois irá até ao Porto. Se as pessoas gostarem, espero que vá para outros locais. Adoraria vê-la num palco de Londres. Adoraria também vê-la em Nova Iorque, mas teremos de esperar para ver.
A história de Evil Machines tem um toque de ficção infantil. Já atribuiu o facto de gostar deste universo porque ele se adequa à sua idade mental. É verdade?
Porque uma mente infantil não faz sketches sobre Proust. Não faço uma distinção entre escrever para crianças e para adultos. Escrevo apenas sobre o que me interessa. Também escrevo muitas coisas académicas, normalmente sobre História e a Idade Média, e mesmo nesses textos tento ser o mais simples possível. Não vejo a linha divisória, tal como não vejo a divisão entre o humor e o sério. As pessoas tendem a pôr-nos em prateleiras.
Gosto de pensar que há humor em qualquer situação. Mesmo na Idade Média, as pessoas riam-se. Não vejo as coisas assim, tal como não vejo as coisas de crianças ou de adultos. São simplesmente Evil Machines.
Como é que se descreveria? Comediante, escritor, realizador...
Não sou um comediante. Nunca fiz um stand-up, tenho um medo terrível de o fazer. Gosto de realizar, é divertido e menos entediante do que ser actor. No cinema há tantas esperas enquanto actor e é por isso que nunca actuei no filme de outrem.
Quando chegou à Universidade de Oxford tinha passado por um liceu que nada incentivava a sua vontade de ser actor. Quando começou a representar em Oxford e, logo a seguir, no West End de Londres, sentiu que finalmente estava a fazer o que queria?
Tenho uma composição que escrevi quando tinha sete anos em que dizia “I am hopping to be an actor”, assim mesmo, com dois “p” ["hop” saltar; “hope” esperar]. Acho que na verdade eu queria dizer que esperava tornar-me actor. Acho que ainda estou a saltitar para ser actor. Não me vejo como actor, embora goste de o fazer.
Para mim, é sobretudo a escrita que vem primeiro. Tudo vem da escrita.
Conheceu Michael Palin [outro Python] na Universidade de Oxford e começou a escrever com ele em peças e depois para TV. Como era esse processo?
No princípio escrevíamos juntos. Sentávamo-nos à secretária e discutíamos fala a fala, palavra a palavra, mas percebemos que era muito mais fácil escrever cada um em sua casa e depois ler juntos. E muitas vezes trocávamos simplesmente de guiões e cada um acrescentava coisas. Penso que nos programas dos Monty Python eu e o Mike produzíamos imenso material, montes dele, e depois o John [Cleese] e o Graham [Chapman] apareciam com apenas uma ou duas coisinhas excelentes. Depois o Eric [Idle] surgia com umas coisas verbais e depois o Terry Gilliam sugeria animações. E nós só pedíamos: “Limita-te a fazê-las, não nos descrevas o que vais fazer, por favor, não compreendemos o que estás a dizer.”
Com os Python, influenciou muita gente nas últimas quatro décadas. Quem o influenciou a si quando começou a escrever?
Penso que todos nós fomos muito influenciados por um programa de rádio chamado The Goon Show (BBC, 1951-1960), com o Spike Milligan, Peter Sellers e Harry Secombe.
Isso mostrou-nos o que se podia fazer com a rádio, como se podia ser verdadeiramente louco com imagens e ideias. Milligan influenciou seguramente a forma dos Monty Python, porque ele fazia uma série chamada Q5 na televisão e quando vi o programa, pensei: “Ele rompeu a forma como se escreve comédia para a televisão”.
Normalmente, escrevem-se sketches de três minutos com princípio, meio e fim, ou quickies de uma piada de 30 segundos. E o Milligan começava um sketch e passava para outra coisa, e para outra, e rompeu com a forma. Ele é que começou a fazer isso, esses sketches abertos. E eu pensei que podíamos casar isso com as animações que o Terry Gilliam tinha feito para o programa infantil de televisão Do Not Adjust Your Set (ITV, 1967).
Pensei que podíamos ter esse fluxo de consciência a percorrer o programa.
Qual foi a maior vitória trazida pelo fluxo de consciência?
Na verdade saiu de um cartoon que o Terry Gilliam fez para o Do Not Adjust Your Set, no qual eu, o Mike e o Eric escrevíamos, chamado Elephant.
Ele só disse [imita a voz de Gilliam]: “Não sei sobre o que é, na verdade é só fluxo de consciência, vai de uma coisa para a outra e acaba de novo no princípio.” Foi a ideia de casar esse fluxo de consciência e que um sketch podia tornar-se noutra coisa, a partir da ideia do Milligan. Foi sobretudo uma grande libertação, livrou-nos das punchlines.
Foi sempre vossa intenção encenar e interpretar os vossos textos?
Sim. O Mike Palin e eu tínhamos escrito para outras pessoas, como o [comediante] Marty Feldman, e tínhamos visto os nossos guiões serem alterados ao serem feitos e a não serem tão bons. Por isso, queríamos fazer as nossas coisas.
Eric Idle disse que o facto de os Python serem uma comuna de escritores, em que os argumentistas é que estavam ao leme, era determinante para o produto final.
Sim, o facto de todos contribuirmos e de escrevermos juntos. Normalmente, quando alguém escrevia um papel sumarento, fazia esse papel. Não tínhamos de o explicar a mais ninguém, a actores a quem tivéssemos de dizer como o fazer. Isso foi crucial. Outro aspecto crucial foi o facto de todos gostarmos do trabalho uns dos outros, respeitávamo-nos. A opinião dos outros sobre um sketch era muito importante para cada um de nós. Ocasionalmente, insistíamos que algo era engraçado quando o grupo não achava. Mas normalmente aceitávamos as opiniões dos outros.
Às vezes as coisas não se passavam assim. No Sentido da Vida há um sketch chamado Mr. Creosote, com o homem gordo que vomita no restaurante. Quando o Mike e eu escrevemos isso e o apresentámos numa reunião de escrita na verdade, acho que foi logo depois do almoço, todos disseram que não tinha graça e foi para o monte dos “rejeitados”.
Um mês mais tarde, o John telefonou-me e disse: “Estive a ler o sketch do Creosote e acho que é engraçado”. Acho que o John se apercebeu que o mais engraçado era o empregado de mesa [desempenhado no filme por John Cleese]. Essa foi uma excepção.
Qual foi a reacção da BBC e dos espectadores aos primeiros episódios de Os Malucos do Circo?
A BBC nunca gostou da série. Não pareceu haver reacção aos primeiros cinco programas. Depois, as crianças começaram a escrever a dizer que gostavam do programa. Essa foi a primeira reacção que tivemos e depois houve boa recepção da crítica. Mas a BBC continuava a odiá-lo e, depois da primeira temporada, era muito duvidoso que encomendasse uma segunda, mas fê-lo.
Hoje é mais fácil apoiarem-se programas provocadores? Não sei... O que sei é que uma coisa como os Python não teria ido para o ar hoje, porque eles teriam querido saber qual era o público-alvo. E, na altura, quando fomos ter com a BBC havia uma série de homens de fato que nos perguntaram sobre o que era a série. E nós respondíamos: “Não sabemos”.
"A quem é destinada?” “Não sabemos.” E eles fizeram “tsc, tsc, tsc” e disseram: “Bom, só vos podemos dar 13 programas” [risos]. Isto não podia acontecer hoje, eles quereriam testar o programa.
Michael Palin diz que, na sua essência, os Python eram o Terry Jones, o Terry Gilliam e ele, eram os que debatiam a essência da coisa.
O Mike disse isso?
Sim, na autobiografia Os Monty Python Pelos Monty Python (Oficina do Livro)...
Estou surpreendido. Talvez ele estivesse a falar da essência da forma dos programas. Eu peguei nessa ideia de usar o que o Milligan tinha feito, partir os sketches e usar a animação do Terry Gilliam para os ligar e quando falei nisso ao Mike e ao Terry Gilliam eles concordaram imediatamente que era uma ideia óptima. Enquanto o John, o Graham e o Eric não estavam interessados nisso. Na terceira série eu, o Mike e o Terry trabalhámos muito nisso e aí o John, o Graham e o Eric concordaram que a colagem de tudo era uma boa ideia. A verdade é que houve sempre uma divisão entre [os alunos de] Cambridge [ John Cleese, Eric Idle e Graham Chapman] e [os de] Oxford. O Terry era um Oxford honorário e ficava sempre do nosso lado [de Terry Jones e de Michael Palin] quando havia uma divisão sobre se algo era engraçado.
Acha que a sátira ainda pode mudar a sociedade?
Bom, nos anos 1960 pensávamos que podia, mas suspeito que não. O que acontece é que as pessoas que criticamos nos adoptam. O programa preferido da Margaret Thatcher era o Spitting Image [que inspirou a Contra-Informação], ela gostava de se ver retratada. Na verdade, aumenta a sua fama e suspeito que quando o Steve Bell faz os seus cartoons no Guardian e retrata o George Bush como um macaco e o Tony Blair vesgo, a imagem ajuda a reforçar a sua notoriedade.
A única coisa que o humor pode fazer é assegurar as pessoas de que há quem pense da mesma maneira. Não penso que vá converter alguém, mas penso que nos faz sentir acompanhados e nos dá uma voz.
Tendo em conta a reacção que A Vida de Brian teve e o episódio dos cartoons de Maomé há alguns anos, acha que a religião é o assunto mais delicado de satirizar?
Acho que pensaríamos duas vezes em fazer A Vida de Brian hoje. Em meados dos 1970, a religião parecia morta. As igrejas estavam vazias e não havia interesse em temas religiosos em Inglaterra. Pessoalmente, penso que a forma como a religião hoje ganhou protagonismo e se tornou um assuntochave na política mundial tem a ver com a indústria do armamento, que depois da queda do comunismo precisava de outro inimigo. No final dos anos 1980, lembro-me de ler o editorial de uma revista de armamento, Weapons Today, cujo título era Graças a Deus pelo Saddam. Foi antes da primeira Guerra do Golfo e o editor escrevia que no futuro poderíamos olhar para o islão como substituto do comunismo. Aposto que a indústria do armamento tem feito o seu melhor para acicatar o fundamentalismo islâmico.
Porque é o que qualquer empresa faz.
Depois do 11 de Setembro, veio a público criticar a Guerra ao Terrorismo. Ainda pensa que os ataques foram a melhor coisa que aconteceu à administração Bush?
Acho que era o que Bush queria e precisava. Os arquitectos do regime Bush publicaram, em 2000, um artigo Renovar as Defesas da América, publicado no site de um movimento criado por Paul Wolfowitz, Richard Pearl, Dick Cheney e outros neocons, que ali imprimiram a sua agenda. A ideia era aumentar os gastos dos EUA em armamento e para isso era preciso ir para o Iraque e Saddam Hussein dá-nos uma boa desculpa para estabelecer uma presença de uma força americana no Médio Oriente.
Não é a minha opinião, é o que eles dizem. Outra coisa que diziam que seria necessária era o convencimento da sociedade americana, salvo se sucedesse um evento cataclísmico como um novo Pearl Harbor. O 11 de Setembro deu-lhes esse evento.
Tem alguma expectativa quanto às eleições nos EUA?
Suspeito que eles vão bombardear o Irão antes das eleições e que acabarão por eleger um republicano.
Criticou a política de Blair quanto à guerra no Iraque e agora ele foi nomeado como representante do Quarteto para o Médio Oriente. O que acha disso?
É uma anedota. Blair é uma vergonha pela sua total complacência com o regime americano. Talvez ele não tivesse escolha, talvez se ele não tivesse apoiado Bush fosse deposto... Os americanos têm um grande ascendente sobre o Reino Unido, talvez seja pela economia... É única razão pela qual imagino que Blair tenha acordado bombardear um país que não nos fez qualquer mal e que o tenha feito cometer crimes de guerra. Pelos quais espero que seja acusado nos próximos anos. Espero sinceramente que Bush e Blair sejam acusados de crimes de guerra e postos na cadeia pelo que fizeram.
N'O Nome da Rosa, de Umberto Eco, as pessoas eram mortas em nome de um fanatismo que queria manter escondido o elogio do riso. O que é que há de tão perigoso no riso?
Acho que os políticos e os religiosos tentam excisar o riso. Há muitas pessoas que têm medo do riso. Mesmo quando era pequeno eu escrevia umas piadinhas nos trabalhos da escola e estavam sempre sublinhadas, com notas: “Venha ter comigo para falar sobre isto”. Qual é o problema?! Se puser piadas nas coisas sobre História que eu escrevo, as pessoas questionam. Porque é que a História tem de ser [entoa a voz grave] terrivelmente séria? Faz-me lembrar quando fizemos A Vida de Brian e vimos uma série de filmes bíblicos, A Toga, Sodoma e Gomorra, The Greatest Story Ever Told, e o que todos tinham em comum era que [voz grave] todos falavam com um grande sentido de pasmo por viverem na época de Jesus Cristo. O que é verdadeiramente herege n “A Vida de Brian é que falamos com vozes parvas.
Apesar de tanta coisa que fez após os Monty Python, alguma vez se sentiu prisioneiro da fama do grupo?
Não, na verdade ela sempre me possibilitou fazer coisas. E a fama tem sido gradual, estranhamente. Parece maior hoje do que há 30 anos. Não sei o que se passa, mas parece estar num crescendo até agora. Quando estávamos a fazer o programa de televisão não o sentíamos.
John Cleese assinala que Terry é um maníaco do controlo e que por isso é que realizar [os três filmes dos Python, um deles com Terry Gilliam] era o seu destino natural.
Ele disse que eu é que sou o maníaco do controlo?! Ele é que é o maníaco do controlo! Bom, numa série que fizemos, The Complete and Utter History of Britain, escrevemos uma paródia western à guerra e os franceses deveriam ser os índios e aparecer no topo de uma montanha. Quando chegámos ao local das filmagens, era um campo liso! Nesse momento pensei que tinha de controlar tudo, os locais, onde vai a câmara, tudo.
Depois dos Python, voltou às bibliotecas e mergulhou na História e na Literatura, duas outras paixões suas.
Na verdade, continuei a fazer isso quando gravávamos a série. Depois do Cálice Sagrado tirei um ano e escrevi o meu primeiro livro académico sobre Chaucer.
Porque se interessou tanto por Chaucer e pelos Contos da Cantuária?
É como chegar ao fundo de um mistério. Chaucer é um escritor engraçado, mas há hectares da escrita dele que parecem muito enfadonhos. E eu pensei que ele não podia ter escrito algo tão chato, deve ser da forma como estamos a olhar para ele. Foi quando tentei perceber as partes enfadonhas de Chaucer que me interessei pelo The Knight's Tale.
Em cima de quem deitaria um peso de 16 toneladas? À parte de George Bush e Tony Blair? Acho que o senhor Cheney seria a pessoa ideal, se eu deitasse pessoalmente o peso.
Tal como os outros Python, tem um asteróide com o seu nome. Sente-se honrado?
Nunca vi o meu asteróide e por isso fico um pouco nervoso sobre se será mais pequeno do que o dos outros.
Qual é o sentido da vida?
Ainda estou a trabalhar nisso, depois digo-vos.