Tartarugas-verdes dão espectáculo em ilha deserta da Guiné-Bissau
Uma noite na vida das tartarugas da ilha de Poilão.
Todas as noites, especialmente entre Agosto e Novembro, o cenário repete-se na ilha deserta, apenas vigiada por um acampamento de biólogos, que, nalgumas datas, acolhe pequenos grupos de turistas autorizados a visitar a ilha do arquipélago dos Bijagós. Com um perímetro de cerca de três quilómetros, Poilão está a cerca de 50 quilómetros ao largo da costa continental guineense e é o extremo mais a sul dos Bijagós.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Todas as noites, especialmente entre Agosto e Novembro, o cenário repete-se na ilha deserta, apenas vigiada por um acampamento de biólogos, que, nalgumas datas, acolhe pequenos grupos de turistas autorizados a visitar a ilha do arquipélago dos Bijagós. Com um perímetro de cerca de três quilómetros, Poilão está a cerca de 50 quilómetros ao largo da costa continental guineense e é o extremo mais a sul dos Bijagós.
Nalgumas noites, os funcionários do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) da Guiné-Bissau chegam a contar a passagem de 500 tartarugas mãe para desovar: uma visita à ilha de cerca de uma hora para fazerem o ninho nas zonas mais altas dos areais. Pesam em média 150 quilos, chegam a ter mais de um metro de comprimento e as mais velhas podem alcançar os 80 anos.
Pelo caminho, areal acima, cruzam-se com os filhos [de posturas anteriores] em sentido contrário, atraídos pelo brilho do mar, onde vão passar a maior parte das suas vidas.
“Os filhotes saem durante a noite, quando a temperatura desce e quando há menos predadores”, explica Betânia Ferreira, bióloga marinha portuguesa e assistente técnica do IBAP.
“Fazem cócegas”, refere uma visitante sob a luz de uma lanterna, com os pés quase cobertos pelas minúsculas tartarugas, impossibilitada de se mexer enquanto elas não passarem, para não machucar nenhuma. Ao lado, outro membro do grupo descreve o cenário como um “espectáculo” da vida natural.
Quando o Sol nasce, ainda há muitos animais aprisionados no labirinto formado por zonas rochosas. São os biólogos do IBAP e os visitantes que os ajudam: são animais minúsculos, cabem aos três e quatro numa mão, mas são difíceis de segurar porque nunca param de se agitar, procurando o mar.
As tartarugas “são fiéis ao local onde nascem e como a ilha foi sempre protegida” pelos residentes do resto do arquipélago, as colónias conseguiram manter-se, livres da pressão humana, num local onde as mães regressam todos os anos, refere Betânia Ferreira, ao explicar a concentração de tartarugas-verdes em Poilão.
Na noite de Outubro em que a agência Lusa passou pela ilha, “foram detectadas 77 tartarugas mãe”, de acordo com o bloco de notas de Castro Barbosa, biólogo guineense e director do Parque Natural de João Vieira e Poilão. “Não foi muito, já chegámos a ver mais de 500 por noite”, sobretudo no início da época de desova, em Agosto.
A tartaruga-verde (Chelonia mydas) está ameaçada a nível mundial e a ilha de Poilão é “uma das grandes maternidades” da espécie, o que justifica o acompanhamento por parte dos funcionários do IBAP e de outros investigadores. O trabalho aqui é financiado pela fundação internacional para a natureza MAVA e pelo Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA) de Portugal.