Uma subtileza corrupta nos serviços públicos
A riqueza desta crise é que, por outro lado, o rico verdadeiro rico entra num privado e é atendido gentilmente, sendo-lhe dado um protagonismo com jantar incluído e até direito a um hotel de cinco estrelas
A vida é madrasta. Começo por uma frase típica que coloca logo no pensamento do leitor que algo não está bem, e que daqui vai sair qualquer coisa que talvez seja injusta.
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A vida é madrasta. Começo por uma frase típica que coloca logo no pensamento do leitor que algo não está bem, e que daqui vai sair qualquer coisa que talvez seja injusta.
A pobre da crise há já algum tempo que tem reduzido na saúde pública. Reduzem os funcionários, reduzem os médicos, cortam nos salários, e no mais importante, nos recursos. Todos os dias uma pessoa em cada vinte reclama pela falta de competência, seja no tempo de espera, na forma como é atendido e na falta de protagonismo que pouco dão ao doente. Um doente público — por assim dizer — tem dezenas de queixas a fazer e pouco tempo de antena para ser ouvido.
A riqueza desta crise é que, por outro lado, o verdadeiro rico entra num privado e é atendido gentilmente, sendo-lhe dado um protagonismo com jantar incluído e até direito a um hotel de cinco estrelas. Têm direito a um médico sorridente pois ele próprio sabe que ali também está a ganhar o seu, a dobrar. No subtil a dobrar é que está o ganho. Um médico que trabalhe nos dois hospitais consegue então manobrar aquele doente público insatisfeito que já tentou de tudo para ter uma consulta em condições, que até já se exaltou e não foi ouvido, que está mesmo doente e desesperado, a pagar a dobrar e ser atendido pelo mesmo, num hospital que também até começa pela letra "p" mas que acaba em "vado". Trata-se de uma situação de conflitos de interesses.
Como mostrou a reportagem da TVI emitida dia 11 de Novembro, este conflito de interesses passa por levar os doentes do Serviço Nacional de Saúde para clínicas ou hospitais privados, permitindo assim que um médico do serviço público consiga aí angariar doentes públicos — os tais desesperados para ter um pouco de dignidade — para os seus “ninhos” privados. Mais do que que conflito de interesses, também se trata de um abuso de poder. Convém que a Ordem dos Médicos mais do que alegadamente expulse esses fora da lei que trabalham imoralmente, violando todas as normas éticas, prejudicando a saúde dos doentes, coloque definitivamente um travão judicial e criminalmente nessa irregularidade.
A Ordem dos Médicos garantiu a expulsão desses profissionais dos nossos serviços e comprometeu-se a fazer uma investigação mais aprofundada sobre o assunto. Veremos...