Voando com as libélulas de Portugal

Investiga sinistros a tempo inteiro e insectos nas horas vagas. Ernestino Maravalhas anda atrás das libélulas há mais de 30 anos e agora publica o primeiro guia de campo português para este grupo.

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Em caso de dúvida, chame-se libélulas a todas elas, que não estará errado, porque libélulas também é o nome comum do grupo — a ordem Odonata. E se a origem do nome libélula ou libelinha é incerta, Odonata vem do grego e diz respeito à estrutura bocal dotada de dentes. As mandíbulas destes predadores vorazes têm sobretudo quitina (açúcar complexo), tal como o exosqueleto dos insectos, e, quando serrilhadas, têm o aspecto de dentes afiados.

Mandíbulas dilacerantes e asas enormes fizeram com que estes animais de voos graciosos fossem temidos pelo homem. Reflexo disso é o conjunto de outros nomes comuns atribuídos às libélulas: tira-olhos, cavalinho-das-bruxas, dragões-voadores ou balanças-do-diabo.

Se ainda hoje tememos as libélulas, com uma envergadura de asas de 1,8 a 12 centímetros, o que pensaríamos se nos tivéssemos cruzado com a Meganeura monyi, com 75 centímetros de envergadura? Foi o maior insecto voador de todos os tempos, há 300 milhões de anos, antes mesmo de existirem dinossauros.

A este gigante do mundo dos insectos chamou-se Meganeura porque tinha nervuras muito distintas nas asas, que até ficaram conservadas no registo fóssil. “As asas da ordem Odonata são estruturas membranosas muito delgadas e reforçadas por inúmeras nervuras”, lê-se no guia. As nervuras têm assim função de conferir resistência à membrana alar.

O formato das quatro asas é uma das principais diferenças entre os dois grupos dos Odonata: nas libélulas, da subordem Anisoptera, o par de asas anterior (mais perto da cabeça) tem uma forma diferente do par posterior; nas libelinhas, da subordem Zygoptera, os dois pares de asas são semelhantes. Observar o formato alar, durante o voo destes animais que podem bater as asas mais de 50 vezes por minuto, pode ser complicado. Mas não em repouso, porque os insectos das duas subordens têm comportamentos distintos: as libélulas mantêm as asas abertas e as libelinhas fecham-nas sobre o corpo.

No livro As Libélulas de Portugal, um guia de campo, são também indicadas as diferenças nos olhos, nos segmentos do abdómen ou nas estruturas reprodutoras, que permitem identificar a espécie no terreno. Apresentam-se microfotografias para todos os pormenores relevantes.

Cada uma destas imagens de pormenor é composta pelo empilhamento digital de várias fotografias (um dos casos chega às 150) tiradas com diferentes profundidades de campo, para permitir focar o maior número de detalhes possível em cada plano. “É a primeira vez que esta técnica de stacking é utilizada num guia de entomologia [ciência que estuda os insectos]”, sublinha Ernestino Maravalhas, autor destas fotografias.

Fotografias iniciais no lixo
Quando, no final de 2011, este entomólogo de 53 anos descobriu a técnica de empilhamento digital, deitou fora todas as fotografias que até então tinha tirado aos exemplares de colecções museológicas. “Parece um absurdo.” Conta que, em relação às novas fotos, demorou um dia inteiro a empilhar 50 só para ter uma boa imagem da cabeça de uma libélula.

Outro traço importante destes animais, cujos dois pares de asas se podem mover de modo independente e com um ritmo tão elevado, é a forte musculatura torácica, mais evidente nas poderosas libélulas do que nas delicadas libelinhas. Regra geral, as libelinhas não se afastam muito dos locais onde nasceram, enquanto as libélulas podem voar 100 quilómetros, indica Ernestino Maravalhas.

Algumas espécies de libélulas que têm aparecido em Portugal são migradoras, vindas de África para a Europa, devido ao aumento das temperaturas no continente europeu. Uma das recordistas da migração, que também vive em Portugal, é a Anax ephippiger, do grupo das libélulas maiores, e pode ir até à Islândia.

Já as libelinhas, provavelmente não aguentariam a travessia do estreito de Gibraltar, afirma Ernestino Maravalhas. O que torna ainda mais impressionante a existência, nos Açores, de uma espécie de libelinha — a Ischnura hastata — que só é conhecida no continente americano. Não se sabe quando ou como esta população terá chegado às ilhas açorianas, nem tão pouco como terá desenvolvido um dos seus aspectos mais distintivos — a reprodução por partenogénese. Exclusivamente composta por fêmeas, a sua descendência açoriana é originada sem haver fecundação, ou seja, as filhas são clones das progenitoras. É o único caso conhecido de partenogénese em libélulas e libelinhas.

No país, há 65 espécies
No total das ilhas portuguesas, conhecem-se somente sete espécies, entre elas a Sympetrum nigrifemur, exclusiva da Madeira (e das Canárias). O número aumenta para 65 espécies presentes em Portugal continental, sendo metade das espécies na Europa (130). São apenas uma pequena parte das 6500 a nível mundial, porque este grupo concentra-se preferencialmente nas regiões tropicais.

Esta distribuição justifica-se porque estes insectos necessitam de calor, para aquecer o corpo e se poderem movimentar, e também porque adultos e larvas têm mais facilidade em encontrar e apanhar as presas durante os meses mais quentes. Necessitam ainda de água, onde a maioria das espécies deposita os ovos e onde as larvas se desenvolvem.

A dependência da água torna estas espécies vulneráveis tanto à destruição do habitat (devido por exemplo a represas nos rios, poluição aquática ou seca dos pontos de água), como à introdução de espécies exóticas, como a gambúsia ou o lagostim-vermelho-do-luisiana que predam as larvas. “É provável que o aquecimento global agrave o impacto e a extensão destas ameaças. Este é um dos maiores perigos presentes e futuros para sobrevivência das libélulas”, alerta o relatório Estatuto de Conservação e Distribuição das Libélulas na Bacia do Mediterrâneo, da União Internacional para a Conservação da Natureza.

Para Patrícia Garcia Pereira, especialista em borboletas, o afastamento dos portugueses em relação à natureza compromete a sua conservação, pelo que incentiva, no prefácio do guia, “qualquer pessoa interessada” a utilizá-lo: “A prática de observar, identificar, registar e partilhar dados faunísticos, agora acessível a todos, é essencial para o aumento do conhecimento sobre a nossa diversidade.”

Limitado às libélulas que aparecem em Portugal, o guia tem um mapa para cada espécie com a zona do país onde pode ser observada, a indicação do habitat preferido e a altura do ano em que é provável ver os adultos em voo. Os mapas foram criados com a colaboração de várias pessoas, que através das redes sociais indicavam onde tinham visto os insectos. Depois, os dois autores do livro deslocavam-se ao local para confirmar as informações: Ernestino Maravalhas registava os dados (cartografia, habitat...), enquanto Albano Soares se ocupava das fotos de campo.

Interessava a Ernestino Maravalhas que no guia houvesse informação rigorosa cientificamente, mas que ao mesmo tempo fosse fácil de usar por todos. “As imagens são em tamanho natural para que seja mais fácil para observadores amadores. Queria um guia acessível mesmo para as crianças.” Conta como o seu neto, na altura com dez anos, o acompanhava nalgumas saídas de campo, e como foi capaz de encontrar algumas espécies difíceis de localizar.

A linguagem simples, as fotografias e ilustrações de pormenor, os gráficos e a apresentação bilingue (português e inglês) tornam este guia utilizável por muitas pessoas. Está a ser vendido fora do país, pela distribuidora dinamarquesa Apollo Booksellers. Em Portugal, não está nas livrarias, mas pode ser comprado no site Naturfun, ou através de instituições que apoiaram a publicação. O preço de editor é 20 euros.

“Este livro vem preencher uma lacuna”, frisa Ernestino Maravalhas. “Não há guias dedicados exclusivamente à fauna e flora portuguesas. E os guias europeus têm muitas espécies que nunca veremos por cá.” Enquanto proprietário e editor da Booky Publishers, que lançou este livro, quer publicar mais guias de campo de espécies nativas.

“O guia de campo As Libélulas de Portugal contém informação científica original e constitui um salto qualitativo no conhecimento”, afirma Patrícia Garcia Pereira, acrescentando que os insectos são o grupo com maior diversidade em qualquer ecossistema terrestre e os pilares do seu bom funcionamento.

“Gosto do trabalho de campo, de contar, registar e identificar”, revela Ernestino Maravalhas. “Gosto muito da biogeografia, de perceber até onde vão as espécies e porquê.” Os seis anos de trabalho de campo intensivo para concretizar esta obra actualizaram a cartografia das libélulas e os autores prepararam-se para publicar os resultados em revistas científicas. “A Macromia splendens [libélula protegida pela legislação portuguesa e comunitária] era considerada rara, mas agora que se conhece melhor o seu habitat pode ver-se muitas vezes.”

Devido à falta de verbas, ainda há muitos desertos de informação, zonas mal estudadas, como a bacia do rio Sorraia, refere o investigador. “Ainda não estamos a trabalhar com modelos de probabilidade de ocorrência, mas vamos fazê-lo.” Desta forma, os cientistas prevêem que espécies poderão estar em cada local e fazer uma gestão do trabalho de campo, evitando ir a zonas que não têm as espécies que querem estudar.

Ernestino Maravalhas, que reside no concelho da Maia, é profissional de seguros a tempo inteiro e investigador nas horas vagas. Diz que tem muitas ideias e trabalhos em mãos para desenvolver nos próximos anos. O grande sonho, que alimenta pouco a pouco, é fazer uma cartografia completa dos pontos de água em Portugal, desde rios até charcos temporários e lagos: “Tenho uma predilecção por meios aquáticos.” Daí também a paixão pelas libélulas, que estuda desde 1982, quando começou a trabalhar com o médico Serafim da Silva Aguiar, outro amante deste grupo.

Sabe que não tem tempo para investigar todos os grupos de animais que mereciam ter um guia, mas enquanto editor gostaria de publicar livros de outros autores. Por agora, dedica-se à continuação do seu primeiro livro, As Borboletas de Portugal, de 2003, com três novos volumes. O próximo, a sair em 2015, será sobre as 1050 espécies de borboletas nocturnas do país.
 
 

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Em caso de dúvida, chame-se libélulas a todas elas, que não estará errado, porque libélulas também é o nome comum do grupo — a ordem Odonata. E se a origem do nome libélula ou libelinha é incerta, Odonata vem do grego e diz respeito à estrutura bocal dotada de dentes. As mandíbulas destes predadores vorazes têm sobretudo quitina (açúcar complexo), tal como o exosqueleto dos insectos, e, quando serrilhadas, têm o aspecto de dentes afiados.

Mandíbulas dilacerantes e asas enormes fizeram com que estes animais de voos graciosos fossem temidos pelo homem. Reflexo disso é o conjunto de outros nomes comuns atribuídos às libélulas: tira-olhos, cavalinho-das-bruxas, dragões-voadores ou balanças-do-diabo.

Se ainda hoje tememos as libélulas, com uma envergadura de asas de 1,8 a 12 centímetros, o que pensaríamos se nos tivéssemos cruzado com a Meganeura monyi, com 75 centímetros de envergadura? Foi o maior insecto voador de todos os tempos, há 300 milhões de anos, antes mesmo de existirem dinossauros.

A este gigante do mundo dos insectos chamou-se Meganeura porque tinha nervuras muito distintas nas asas, que até ficaram conservadas no registo fóssil. “As asas da ordem Odonata são estruturas membranosas muito delgadas e reforçadas por inúmeras nervuras”, lê-se no guia. As nervuras têm assim função de conferir resistência à membrana alar.

O formato das quatro asas é uma das principais diferenças entre os dois grupos dos Odonata: nas libélulas, da subordem Anisoptera, o par de asas anterior (mais perto da cabeça) tem uma forma diferente do par posterior; nas libelinhas, da subordem Zygoptera, os dois pares de asas são semelhantes. Observar o formato alar, durante o voo destes animais que podem bater as asas mais de 50 vezes por minuto, pode ser complicado. Mas não em repouso, porque os insectos das duas subordens têm comportamentos distintos: as libélulas mantêm as asas abertas e as libelinhas fecham-nas sobre o corpo.

No livro As Libélulas de Portugal, um guia de campo, são também indicadas as diferenças nos olhos, nos segmentos do abdómen ou nas estruturas reprodutoras, que permitem identificar a espécie no terreno. Apresentam-se microfotografias para todos os pormenores relevantes.

Cada uma destas imagens de pormenor é composta pelo empilhamento digital de várias fotografias (um dos casos chega às 150) tiradas com diferentes profundidades de campo, para permitir focar o maior número de detalhes possível em cada plano. “É a primeira vez que esta técnica de stacking é utilizada num guia de entomologia [ciência que estuda os insectos]”, sublinha Ernestino Maravalhas, autor destas fotografias.

Fotografias iniciais no lixo
Quando, no final de 2011, este entomólogo de 53 anos descobriu a técnica de empilhamento digital, deitou fora todas as fotografias que até então tinha tirado aos exemplares de colecções museológicas. “Parece um absurdo.” Conta que, em relação às novas fotos, demorou um dia inteiro a empilhar 50 só para ter uma boa imagem da cabeça de uma libélula.

Outro traço importante destes animais, cujos dois pares de asas se podem mover de modo independente e com um ritmo tão elevado, é a forte musculatura torácica, mais evidente nas poderosas libélulas do que nas delicadas libelinhas. Regra geral, as libelinhas não se afastam muito dos locais onde nasceram, enquanto as libélulas podem voar 100 quilómetros, indica Ernestino Maravalhas.

Algumas espécies de libélulas que têm aparecido em Portugal são migradoras, vindas de África para a Europa, devido ao aumento das temperaturas no continente europeu. Uma das recordistas da migração, que também vive em Portugal, é a Anax ephippiger, do grupo das libélulas maiores, e pode ir até à Islândia.

Já as libelinhas, provavelmente não aguentariam a travessia do estreito de Gibraltar, afirma Ernestino Maravalhas. O que torna ainda mais impressionante a existência, nos Açores, de uma espécie de libelinha — a Ischnura hastata — que só é conhecida no continente americano. Não se sabe quando ou como esta população terá chegado às ilhas açorianas, nem tão pouco como terá desenvolvido um dos seus aspectos mais distintivos — a reprodução por partenogénese. Exclusivamente composta por fêmeas, a sua descendência açoriana é originada sem haver fecundação, ou seja, as filhas são clones das progenitoras. É o único caso conhecido de partenogénese em libélulas e libelinhas.

No país, há 65 espécies
No total das ilhas portuguesas, conhecem-se somente sete espécies, entre elas a Sympetrum nigrifemur, exclusiva da Madeira (e das Canárias). O número aumenta para 65 espécies presentes em Portugal continental, sendo metade das espécies na Europa (130). São apenas uma pequena parte das 6500 a nível mundial, porque este grupo concentra-se preferencialmente nas regiões tropicais.

Esta distribuição justifica-se porque estes insectos necessitam de calor, para aquecer o corpo e se poderem movimentar, e também porque adultos e larvas têm mais facilidade em encontrar e apanhar as presas durante os meses mais quentes. Necessitam ainda de água, onde a maioria das espécies deposita os ovos e onde as larvas se desenvolvem.

A dependência da água torna estas espécies vulneráveis tanto à destruição do habitat (devido por exemplo a represas nos rios, poluição aquática ou seca dos pontos de água), como à introdução de espécies exóticas, como a gambúsia ou o lagostim-vermelho-do-luisiana que predam as larvas. “É provável que o aquecimento global agrave o impacto e a extensão destas ameaças. Este é um dos maiores perigos presentes e futuros para sobrevivência das libélulas”, alerta o relatório Estatuto de Conservação e Distribuição das Libélulas na Bacia do Mediterrâneo, da União Internacional para a Conservação da Natureza.

Para Patrícia Garcia Pereira, especialista em borboletas, o afastamento dos portugueses em relação à natureza compromete a sua conservação, pelo que incentiva, no prefácio do guia, “qualquer pessoa interessada” a utilizá-lo: “A prática de observar, identificar, registar e partilhar dados faunísticos, agora acessível a todos, é essencial para o aumento do conhecimento sobre a nossa diversidade.”

Limitado às libélulas que aparecem em Portugal, o guia tem um mapa para cada espécie com a zona do país onde pode ser observada, a indicação do habitat preferido e a altura do ano em que é provável ver os adultos em voo. Os mapas foram criados com a colaboração de várias pessoas, que através das redes sociais indicavam onde tinham visto os insectos. Depois, os dois autores do livro deslocavam-se ao local para confirmar as informações: Ernestino Maravalhas registava os dados (cartografia, habitat...), enquanto Albano Soares se ocupava das fotos de campo.

Interessava a Ernestino Maravalhas que no guia houvesse informação rigorosa cientificamente, mas que ao mesmo tempo fosse fácil de usar por todos. “As imagens são em tamanho natural para que seja mais fácil para observadores amadores. Queria um guia acessível mesmo para as crianças.” Conta como o seu neto, na altura com dez anos, o acompanhava nalgumas saídas de campo, e como foi capaz de encontrar algumas espécies difíceis de localizar.

A linguagem simples, as fotografias e ilustrações de pormenor, os gráficos e a apresentação bilingue (português e inglês) tornam este guia utilizável por muitas pessoas. Está a ser vendido fora do país, pela distribuidora dinamarquesa Apollo Booksellers. Em Portugal, não está nas livrarias, mas pode ser comprado no site Naturfun, ou através de instituições que apoiaram a publicação. O preço de editor é 20 euros.

“Este livro vem preencher uma lacuna”, frisa Ernestino Maravalhas. “Não há guias dedicados exclusivamente à fauna e flora portuguesas. E os guias europeus têm muitas espécies que nunca veremos por cá.” Enquanto proprietário e editor da Booky Publishers, que lançou este livro, quer publicar mais guias de campo de espécies nativas.

“O guia de campo As Libélulas de Portugal contém informação científica original e constitui um salto qualitativo no conhecimento”, afirma Patrícia Garcia Pereira, acrescentando que os insectos são o grupo com maior diversidade em qualquer ecossistema terrestre e os pilares do seu bom funcionamento.

“Gosto do trabalho de campo, de contar, registar e identificar”, revela Ernestino Maravalhas. “Gosto muito da biogeografia, de perceber até onde vão as espécies e porquê.” Os seis anos de trabalho de campo intensivo para concretizar esta obra actualizaram a cartografia das libélulas e os autores prepararam-se para publicar os resultados em revistas científicas. “A Macromia splendens [libélula protegida pela legislação portuguesa e comunitária] era considerada rara, mas agora que se conhece melhor o seu habitat pode ver-se muitas vezes.”

Devido à falta de verbas, ainda há muitos desertos de informação, zonas mal estudadas, como a bacia do rio Sorraia, refere o investigador. “Ainda não estamos a trabalhar com modelos de probabilidade de ocorrência, mas vamos fazê-lo.” Desta forma, os cientistas prevêem que espécies poderão estar em cada local e fazer uma gestão do trabalho de campo, evitando ir a zonas que não têm as espécies que querem estudar.

Ernestino Maravalhas, que reside no concelho da Maia, é profissional de seguros a tempo inteiro e investigador nas horas vagas. Diz que tem muitas ideias e trabalhos em mãos para desenvolver nos próximos anos. O grande sonho, que alimenta pouco a pouco, é fazer uma cartografia completa dos pontos de água em Portugal, desde rios até charcos temporários e lagos: “Tenho uma predilecção por meios aquáticos.” Daí também a paixão pelas libélulas, que estuda desde 1982, quando começou a trabalhar com o médico Serafim da Silva Aguiar, outro amante deste grupo.

Sabe que não tem tempo para investigar todos os grupos de animais que mereciam ter um guia, mas enquanto editor gostaria de publicar livros de outros autores. Por agora, dedica-se à continuação do seu primeiro livro, As Borboletas de Portugal, de 2003, com três novos volumes. O próximo, a sair em 2015, será sobre as 1050 espécies de borboletas nocturnas do país.