Angelino Alfano abandona Berlusconi e reforça o Governo italiano

Alfano anuncia novo partido, ex-primeiro-ministro refunda a Força Itália.

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Silvio Berlusconi está cada vez mais sozinho ALBERTO PIZZOLI/AFP

A cisão no Povo da Liberdade — de Berlusconi, a que Alfano pertencia e em nome do qual chegou ao cargo de vice-primeiro-ministro, que mantém — estava anunciada, mas aconteceu este sábado, mal arrancou o Conselho Nacional do Partido, em Roma. Muitos senadores e deputados do Povo da Liberdade não apareceram e Alfano também não, dando o que alguns consideram ser o golpe final em Berlusconi, uma figura que definha como político e que fez uma última tentativa para manter a sobrevivência — anunciou o renascimento da Força Itália.

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A cisão no Povo da Liberdade — de Berlusconi, a que Alfano pertencia e em nome do qual chegou ao cargo de vice-primeiro-ministro, que mantém — estava anunciada, mas aconteceu este sábado, mal arrancou o Conselho Nacional do Partido, em Roma. Muitos senadores e deputados do Povo da Liberdade não apareceram e Alfano também não, dando o que alguns consideram ser o golpe final em Berlusconi, uma figura que definha como político e que fez uma última tentativa para manter a sobrevivência — anunciou o renascimento da Força Itália.

A Força Itália foi uma coligação conservadora que uniu liberais, cristãos democratas e sociais democratas formada em 1993 e que venceu as eleições legislativas desse ano, levando Berlusconi pela primeira vez para a chefia do Governo (repetiria mais duas vezes). No final de 2008, foi dissolvida para abrir caminho à nova aventura política de Berlusconi, o Povo da Liberdade.

Mas a metamorfose das formações políticas, que no passado foram o instrumento de Berlusconi para se renovar e para limpar as chefias à medida que apareciam facções, não funcionou no actual contexto político e económico italiano. Alfano soube aproveitar a seu favor o cansaço político agarrado ao nome de Berlusconi, o fim da tolerância dos "barões" do centro-direita para com as birras do líder, e afirmou-se como o chefe desta corrente. A criação do novo partido era o desfecho previsível para a crise do centro-direita.

Um dos senadores abandonou Berlusconi, Roberto Formigoni, disse à estação de televisão LA7 TV que Alfano tem do seu lado 37 senadores e 23 deputados. O que, disseram os analistas italianos, garante uma boa base de apoio a Alfano, que se mantém no Governo, e assegura a estabilidade do executivo de coligação (esquerda e direita) do primeiro-ministro Enrico Letta — na verdade, disseram, a equipa governativa fica até mais sólida.

Alfano fez saber que um grupo de trabalho já está a preparar o novo partido. Um partido com um aideologia mas mais moderado do que o radicalismo da facção mais ligada a Berlusconi no Povo da Liberdade. "Fiz uma escolha que nunca pensei fazer — disse Alfano, citado pela AFP —, não aderi à Força Itália". "As formas mais extremistas triunfaram" no Povo da Liberdade, disse o advogado de 43 anos que é também ministro do Interior.

Falcões e pombas
Os analistas políticos italianos deram outras palavras à frase de Angelino Alfano — os falcões venceram as pombas. Mas neste caso, são as pombas que saem numa posição de vantagem junto da opinião públcia cansada de Berlusconi e de tudo o que significa.

O antigo primeiro-ministro foi condenado a um ano de prisão, por uma fraude fiscal no seu grupo de media, e de acordo com a lei não poderá exercer cargos públicos durante cinco anos. O Senado já autorizou o Parlamento a votar a expulsão de Berlusconi (com senadores do Povo da Liberdade a votarem a favor) e, quando essa votação acontecer e for desfavorável ao ex-primeiro-ministro, como se espera (até pela aritmética), a carreira política de Berlusconi acaba. Já já tem 77 anos, o seu eventual regresso só poderá acontecer aos 82. Pelo meio, terá que responder noutros processos judiciais, sendo que também foi condenado noutro julgamento (o Rubygate, relacionado com prostituição de uma menor, Ruby) que está em recurso.

Para se defender dos processos, Belrusconi tentou dar um golpe político, fazer cair o Governo. Alfano travou-o, apoiado pela ala mais moderada do partido, que optou manter a coligação com a esquerda e manter a presença (que é forte) no executivo e evitar mais uma crise política em Itália, que depois últimas legislativas (ganhas pela esquerda), não conseguiu formar um Governo.

No discurso da manhã no Conselho Nacional do partido que decidiu dissolver, Berlusconi partiu para o contra-ataque e acusou Angelino Alfano de se ter vendido. "Alfano vai apoiar a esquerda, mas não devemos atacá-lo", disse à plateia num discurso populista onde atribuiu os problemas financeiros e económicos de Itália ao euro, aos ex-comunistas e, claro, aos juízes que acusa de o perseguirem. A ruptura de Alfano justificou-a com "divergências pessoais" e, nesse momento, a voz ficou trémula e emocionada.

"Vocês podem imaginar a dor que esta situação me causa. Desde 1993 que a nossa missão era a união", disse. Na sala ouviram-se comentários: "traidores, vendidos". Mas eis que o chefe os surpreende: "Apesar de tudo indicar que este novo grupo vai ajudar a esquerda, não vamos cavar um fosso entre nós e eles que depois não possamos atravessar. No futuro, teremos que nos aliar a eles. Não quero que os insultem".