Ex-director do Colégio Militar elogia "coragem" de agressores

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Apesar de ter admitido que toda a comunidade educativa encarou os maus tratos como "uma barbaridade", o major-general disse, na sexta-feira passada, que o facto de ambos terem decidido continuar a frequentar o estabelecimento de ensino – mesmo depois de terem sido apontados a dedo no colégio por uma chapada de um deles, ao qual acabou por ser aplicada uma suspensão de cinco dias, ter originado uma perfuração de tímpano a um colega mais novo – revelou "coragem".

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Apesar de ter admitido que toda a comunidade educativa encarou os maus tratos como "uma barbaridade", o major-general disse, na sexta-feira passada, que o facto de ambos terem decidido continuar a frequentar o estabelecimento de ensino – mesmo depois de terem sido apontados a dedo no colégio por uma chapada de um deles, ao qual acabou por ser aplicada uma suspensão de cinco dias, ter originado uma perfuração de tímpano a um colega mais novo – revelou "coragem".

"Tiro-lhes o chapéu, por terem continuado no Colégio Militar", disse Raul Passos, que, no final desse período escolar, e já depois da suspensão, deu os parabéns ao autor da chapada pelos seus resultados académicos, tal como fazia habitualmente com todos os estudantes.

O objectivo, explicou, foi levantar-lhe o moral, depois de tudo por que tinha passado. "Foi uma situação traumática – quer para ele, quer para o aluno que ele agrediu. E também para todo o Colégio Militar", justificou. "Não resisti a dar-lhe os parabéns por ter conseguido ultrapassar a situação". Para o major-general, que, na altura dos factos, em 2007, dirigia a instituição de ensino, com os cinco dias de suspensão, o assunto tinha "ficado encerrado".

Ao todo, são oito os alunos do Colégio Militar que respondem em tribunal pelo crime de maus tratos contra três colegas mais novos. Tinham entre 17 e 22 anos, e as suas vítimas entre 10 e 13. Raul Passos demonstrou alguma estranheza quando o advogado das famílias das vítimas, Garcia Pereira, lhe perguntou quantas participações tinha feito ao Ministério Público do sucedido. "Nenhuma", respondeu. "Desconhecia que tinha essa obrigação. Nós desencadeávamos era processos disciplinares".

O major-general disse aos juízes não se recordar de quantos processos tinha levantado em 2007 por maus tratos aos alunos mais novos, mas, na anterior audiência do julgamento, um professor do Colégio Militar contou que, num ano, chegavam a ser abertos 80 processos, por os mais velhos "passarem das marcas" com os colegas.