Filho da Mãe
Em relação a Palácio, o álbum da estreia, há uma identidade que sobressai, plenamente definida.
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Em relação a Palácio, o álbum da estreia, há uma identidade que sobressai, plenamente definida.
Com uma guitarra clássica e os loops que a multiplicam, Filho da Mãe oferece-nos uma expressividade dramática aprimorada e que, aqui, se revela particularmente inspirada. Ouça-se Um bipolar e Um bipolar dois: o dedilhado fértil e delicado, colorido outonal que haverá de escurecer em tempestade – a linha de baixo persistente, obsessiva, sobre a qual se envolve um bailado circular a que chamaríamos folk porque dele retemos o conforto de um som telúrico e intemporal (e aquela linha de baixo persistente e obsessiva que prossegue, sangue rock bombeado dentro de música sem designação definida).
Podemos tentar apontar coordenadas: ouvimos Improviso de naperon e julgamos reconhecer o trinado de Paredes, mas depois isto é guitarra enquanto drone hipnótico e guitarra clássica prenhe de electricidade; lemos o título Mali provisório e pensamos nos griots com os seus ngonis, mas não, não é isso, porque no Mali provisório de Filho da Mãe há blues para expurgar demónios e baile sem origem definida. Podemos tentar apontar coordenadas, dizíamos, mas neste disco de som cheio em que a limpidez foi posta de parte em favor da força de interpretação, todas as coordenadas indicam o mesmo ponto: Rui Carvalho é Filho da Mãe. A Cabeça é a dele. Em boa hora decidiu mostrar-nos a torrente que dela brota.