Hienas usam perfume de bactérias para comunicar

Equipa comprova que bactérias capazes de produzir odores devido aos processos de fermentação têm um papel importante na comunicação das hienas que lhes servem de hospedeiros.

Foto
Uma hiena malhada a investigar as marcas de cheiros deixadas por outras hienas Kay E. Holekamp

Estes seres microscópicos estão presentes, por exemplo, na pele, nos intestinos ou em glândulas, onde degradam toxinas, resíduos ou outros compostos produzidos pelo animal. Neste processo de transformação, originam moléculas odoríferas que podem ser importantes para a comunicação. A investigação de Kevin Theis, publicada na edição desta semana da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, incide particularmente na fermentação realizada pelas bactérias existentes nas glândulas odoríferas de duas espécies de hienas.

As hienas-malhadas (Crocuta crocuta) estabelecem relações sociais complexas entre os indivíduos do mesmo clã (grupo hierárquico estruturado) e entre clãs diferentes. Cada grupo poderá ter entre 40 a 80 indivíduos, com machos reprodutores e várias gerações de fêmeas. A comunicação baseia-se numa grande variedade de elementos tácteis, visuais, vocais e odoríferos.

Já as hienas-riscadas (Hyaena hyaena) vivem em grupos pequenos, com uma ou duas fêmeas reprodutoras acompanhadas de machos adultos, e têm comportamentos mais solitários. As interacções dentro do grupo são reduzidas e o repertório vocal é modesto, mas a comunicação por odores parece ter um papel na marcação de território e na reprodução.

 

Um odor fétido persistente

As bactérias presentes nas glândulas odoríferas estudadas e os ácidos gordos voláteis produzidos durante a fermentação realizada por estas bactérias são diferentes entre as duas espécies de hienas. A diversidade dos compostos produzidos pelo grupo das hienas-malhadas é muito superior à das hienas-riscadas. Como as primeiras mantém relações sociais mais complexas, justifica-se que a sinalização química odorífera também seja mais complexa.

De forma geral, para as duas espécies de hienas é possível encontrar diferenças nas bactérias ou nos compostos produzidos entre machos e fêmeas, e, dentro destas, consoante o seu estado hormonal (por exemplo, com o cio e lactantes).

Todas as hienas marcam o território com uma secreção contendo vários compostos de um odor fétido persistente, detectável pelo homem, mesmo ao fim de um mês, refere Kevin Theis.

Para concretizar este estudo, os investigadores fizeram a sequenciação genética das bactérias presentes na secreção das glândulas odoríferas sem necessitar de recorrer à sua cultura em laboratório. Como a cultura de bactérias nem sempre tem sucesso, os estudos anteriores que usavam esta técnica encontraram muito menos espécies de bactérias do que a investigação que agora se apresenta.

Em conclusão, os investigadores esperam que estes resultados que mostram que as hienas usam perfume de bactérias para comunicar possam ser usados como base para estudos sobre outros animais e os seus simbiontes, pois permitem avaliar não só a comunicação química, mas também o estado de saúde e comportamento dos hospedeiros.
 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Estes seres microscópicos estão presentes, por exemplo, na pele, nos intestinos ou em glândulas, onde degradam toxinas, resíduos ou outros compostos produzidos pelo animal. Neste processo de transformação, originam moléculas odoríferas que podem ser importantes para a comunicação. A investigação de Kevin Theis, publicada na edição desta semana da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, incide particularmente na fermentação realizada pelas bactérias existentes nas glândulas odoríferas de duas espécies de hienas.

As hienas-malhadas (Crocuta crocuta) estabelecem relações sociais complexas entre os indivíduos do mesmo clã (grupo hierárquico estruturado) e entre clãs diferentes. Cada grupo poderá ter entre 40 a 80 indivíduos, com machos reprodutores e várias gerações de fêmeas. A comunicação baseia-se numa grande variedade de elementos tácteis, visuais, vocais e odoríferos.

Já as hienas-riscadas (Hyaena hyaena) vivem em grupos pequenos, com uma ou duas fêmeas reprodutoras acompanhadas de machos adultos, e têm comportamentos mais solitários. As interacções dentro do grupo são reduzidas e o repertório vocal é modesto, mas a comunicação por odores parece ter um papel na marcação de território e na reprodução.

 

Um odor fétido persistente

As bactérias presentes nas glândulas odoríferas estudadas e os ácidos gordos voláteis produzidos durante a fermentação realizada por estas bactérias são diferentes entre as duas espécies de hienas. A diversidade dos compostos produzidos pelo grupo das hienas-malhadas é muito superior à das hienas-riscadas. Como as primeiras mantém relações sociais mais complexas, justifica-se que a sinalização química odorífera também seja mais complexa.

De forma geral, para as duas espécies de hienas é possível encontrar diferenças nas bactérias ou nos compostos produzidos entre machos e fêmeas, e, dentro destas, consoante o seu estado hormonal (por exemplo, com o cio e lactantes).

Todas as hienas marcam o território com uma secreção contendo vários compostos de um odor fétido persistente, detectável pelo homem, mesmo ao fim de um mês, refere Kevin Theis.

Para concretizar este estudo, os investigadores fizeram a sequenciação genética das bactérias presentes na secreção das glândulas odoríferas sem necessitar de recorrer à sua cultura em laboratório. Como a cultura de bactérias nem sempre tem sucesso, os estudos anteriores que usavam esta técnica encontraram muito menos espécies de bactérias do que a investigação que agora se apresenta.

Em conclusão, os investigadores esperam que estes resultados que mostram que as hienas usam perfume de bactérias para comunicar possam ser usados como base para estudos sobre outros animais e os seus simbiontes, pois permitem avaliar não só a comunicação química, mas também o estado de saúde e comportamento dos hospedeiros.