Netanyahu recua nos colonatos a pensar no Irão

O primeiro-ministro israelita suspendeu o projecto de construir mais 24 mil fogos em território palestiniano. A decisão abre nova brecha dentro do Governo

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Estava prevista a construção de 24 mil novos fogos na Cisjordânia Ammar Awad/Reuters

Entretanto, Mahmoud Abbas, presidente da AP, anunciou que a equipa de negociadores palestinianos, dirigida por Saeb Erekat, apresentou de novo a sua demissão “por falta de progressos nas conversações”. Abbas garantiu que as negociações prosseguirão mesmo que a decisão dos negociadores seja irrevogável.

A abertura do concurso para a construção das casas ocorrera na semana passada e incluía 1200 fogos na denominada zona E-1, a leste de Jerusalém, que separaria definitivamente Jerusalém Oriental da Cisjordânia, o que impediria a continuidade territorial de um futuro Estado palestiniano. Só na terça-feira o projecto foi tornado público pelo movimento pacifista israelita Paz Agora. O Departamento de Estado americano foi apanhado de surpresa e imediatamente pediu explicações a Bibi.

Este não demorou a agir. Um comunicado do seu gabinete esclareceu que “o primeiro-ministro ordenou ao ministro da Habitação, Uri Ariel, que reconsiderasse todos os planos, decididos sem concertação prévia”. “Essa iniciativa prejudica a colonização. Trata-se de uma acção que provoca um confronto inútil com a comunidade internacional no momento em que nos esforçamos por persuadir os seus membros a procurarem um melhor acordo com o Irão.”

Bibi garantiu a anulação definitiva do projecto na zona E-1. “Não haverá E-1, não quero ouvir falar disso” – terá dito, segundo um jornal israelita. Netanyahu salva a face ao fazer de Uri Ariel, dirigente de um partido extremista de colonos, o “polícia mau”, de modo a aparecer como o “polícia bom”, comentou um diário israelita. Noutra versão, apenas terá tomado conhecimento do projecto através da ministra da Justiça, Tzipi Livni, que, por sua vez, teria sido informada por “embaixadas estrangeiras”.

Entre a Palestina e o Irão

O recuo de Bibi abriu nova brecha no Governo de coligação. O ministro da Energia, Sylvan Shalom, anunciou: “Continuaremos a construir porque é a política oficial do Likud [o partido de Netanyahu].” A decisão de Bibi conta com a oposição de dois “pesos-pesados” da extrema-direita: Naftali Bennet, ministro da Economia e líder do partido pró-colonos Lar Judaico, e o poderoso Avigdor Lieberman, ministro dos Negócios Estrangeiros, reintegrado no Governo depois de ter sido absolvido num processo por corrupção.

Assinalam alguns analistas que as negociações palestinianas são uma preocupação de segunda ordem para Bibi, cuja prioridade está centrada em impedir “um mau acordo” dos americanos com o Irão. Faz concessões formais a Washington para manter a influência no dossier iraniano.

Outro analista, David Landau, antigo director do Haaretz, tem opinião diferente. Acusa Netanyahu de “amalgamar demagogicamente a ameaça (existencial) iraniana com a ameaça (desmilitarizada) palestiniana”, o que simultaneamente bloqueia as negociações com a AP e enfraquece, perante a comunidade internacional, a influência de Israel quanto ao Irão.
 
 
 

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Entretanto, Mahmoud Abbas, presidente da AP, anunciou que a equipa de negociadores palestinianos, dirigida por Saeb Erekat, apresentou de novo a sua demissão “por falta de progressos nas conversações”. Abbas garantiu que as negociações prosseguirão mesmo que a decisão dos negociadores seja irrevogável.

A abertura do concurso para a construção das casas ocorrera na semana passada e incluía 1200 fogos na denominada zona E-1, a leste de Jerusalém, que separaria definitivamente Jerusalém Oriental da Cisjordânia, o que impediria a continuidade territorial de um futuro Estado palestiniano. Só na terça-feira o projecto foi tornado público pelo movimento pacifista israelita Paz Agora. O Departamento de Estado americano foi apanhado de surpresa e imediatamente pediu explicações a Bibi.

Este não demorou a agir. Um comunicado do seu gabinete esclareceu que “o primeiro-ministro ordenou ao ministro da Habitação, Uri Ariel, que reconsiderasse todos os planos, decididos sem concertação prévia”. “Essa iniciativa prejudica a colonização. Trata-se de uma acção que provoca um confronto inútil com a comunidade internacional no momento em que nos esforçamos por persuadir os seus membros a procurarem um melhor acordo com o Irão.”

Bibi garantiu a anulação definitiva do projecto na zona E-1. “Não haverá E-1, não quero ouvir falar disso” – terá dito, segundo um jornal israelita. Netanyahu salva a face ao fazer de Uri Ariel, dirigente de um partido extremista de colonos, o “polícia mau”, de modo a aparecer como o “polícia bom”, comentou um diário israelita. Noutra versão, apenas terá tomado conhecimento do projecto através da ministra da Justiça, Tzipi Livni, que, por sua vez, teria sido informada por “embaixadas estrangeiras”.

Entre a Palestina e o Irão

O recuo de Bibi abriu nova brecha no Governo de coligação. O ministro da Energia, Sylvan Shalom, anunciou: “Continuaremos a construir porque é a política oficial do Likud [o partido de Netanyahu].” A decisão de Bibi conta com a oposição de dois “pesos-pesados” da extrema-direita: Naftali Bennet, ministro da Economia e líder do partido pró-colonos Lar Judaico, e o poderoso Avigdor Lieberman, ministro dos Negócios Estrangeiros, reintegrado no Governo depois de ter sido absolvido num processo por corrupção.

Assinalam alguns analistas que as negociações palestinianas são uma preocupação de segunda ordem para Bibi, cuja prioridade está centrada em impedir “um mau acordo” dos americanos com o Irão. Faz concessões formais a Washington para manter a influência no dossier iraniano.

Outro analista, David Landau, antigo director do Haaretz, tem opinião diferente. Acusa Netanyahu de “amalgamar demagogicamente a ameaça (existencial) iraniana com a ameaça (desmilitarizada) palestiniana”, o que simultaneamente bloqueia as negociações com a AP e enfraquece, perante a comunidade internacional, a influência de Israel quanto ao Irão.