Morreu John Tavener, compositor da espiritualidade
O compositor de Song for Athene morreu na sua casa em Dorset, aos 69 anos.
As causas da morte não foram reveladas, mas era conhecida a sua saúde frágil. Sofria do síndrome de Marfan, um distúrbio genético que se manifesta pelos membros alongados e enfraquecimento do coração, e sofrera um ataque cardíaco em 2007 que muito o debilitara e que alterara a natureza da sua música. A partir daí, a dimensão das suas obras (Veil of the Temple, de 2003, que considerava a sua obra-prima, tinha sete horas de duração) ganhou uma nova concisão, acompanhada, escrevia em obituário Tom Service, do Guardian, pela “resposta instintiva” a música que anteriormente não o atraía, como a do Beethoven tardio e de Stockhausen, e à redescoberta daquela que primeiro o inspirou, a de Mozart e Stravinski.
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As causas da morte não foram reveladas, mas era conhecida a sua saúde frágil. Sofria do síndrome de Marfan, um distúrbio genético que se manifesta pelos membros alongados e enfraquecimento do coração, e sofrera um ataque cardíaco em 2007 que muito o debilitara e que alterara a natureza da sua música. A partir daí, a dimensão das suas obras (Veil of the Temple, de 2003, que considerava a sua obra-prima, tinha sete horas de duração) ganhou uma nova concisão, acompanhada, escrevia em obituário Tom Service, do Guardian, pela “resposta instintiva” a música que anteriormente não o atraía, como a do Beethoven tardio e de Stockhausen, e à redescoberta daquela que primeiro o inspirou, a de Mozart e Stravinski.
Nascido a 28 de Janeiro de 1944 em Wembley, Londres, filho de um organista da Igreja Presbiteriana, estudou na Royal Academic of Music e viu os seus trabalhos interpretados ainda na adolescência. Em 1970 surgiria pela primeira vez como nome reconhecido pelo grande público quando a Apple, editora fundada pelos Beatles, lançou no mercado The Whale, obra de 1968 ainda marcada pelo modernismo e serialismo (“Não fiquei muito surpreendido pelo entusiasmo de John Lennon, mas fui surpreendido pelo de Ringo”, afirmou com humor anos depois).
A condição de celebridade pop da música clássica manteve-se daí em diante, enquanto a sua música se encaminhava para uma simplicidade nos antípodas do modernismo inicial, procurando exprimir uma demanda espiritual de que foi reflexo a conversão à Igreja Ortodoxa Russa, em 1977. O seu estatuto enquanto figura pública tornar-se-ia ainda mais presente na consciência colectiva quando a sua Song For Athene foi interpretada no funeral da Princesa Diana. Era desde 2000 Sir Jonh Tavener.
Manuel Pedro Ferreira, compositor e crítico de música do PÚBLICO, aponta que a importância de John Tavener reside principalmente “na abertura do campo de possibilidades de organização tonal para um repertório vocal que durante muitas décadas foi de alguma forma desprezado. Afirma-se através da música coral, conciliando uma necessidade de expressão contemporânea com uma ligação ao passado” – no caso de Tavener, fortemente ligado às tradições da Igreja Ortodoxa.
Para Manuel Pedro Ferreira, há uma convergência entre Tavener e o compositor estónio Arvo Pärt. “Também Pärt tem uma tradição ortodoxa e ambos fizeram a ponte para uma sonoridade mais hierática, ligada às tradições do leste, numa espécie de nova simplicidade que teve bastante impacto sobretudo no tratamento da voz”.
Consciente da componente comercial do meio musical, "teve a sorte", considera o crítico do PÚBLICO, "de ter uma indústria discográfica que prolongou o impacto da obra através dos discos, muitas vezes ouvidas em excertos", dada a dimensão das obras originais.
Sobre a sua música, disse Tavener: "Quis produzir música que fosse o som de Deus. Foi sempre isso que tentei fazer".