"Bons progressos" mas ainda sem certezas de um acordo com o Irão em Genebra
Chefes da diplomacia convergiram para a Suíça, mas divergências sobre pontos-chave ainda não foram ultrapassadas e podem bloquear um acordo que é visto como estando muito próximo.
Os sinais de que a segunda ronda de contactos em Genebra poderia resultar em algo mais do que a definição de um calendário para as negociações começaram a surgir sexta-feira, com a chegada não anunciada do secretário de Estado norte-americano, John Kerry. Juntaram-se-lhe depois os chefes da diplomacia dos três países europeus que desde 2003 negoceiam com Teerão (França, Reino Unido e Alemanha) e já neste sábado chegou à cidade suíça o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, e ainda durante o dia é esperado o representante chinês, Wang Yi.
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Os sinais de que a segunda ronda de contactos em Genebra poderia resultar em algo mais do que a definição de um calendário para as negociações começaram a surgir sexta-feira, com a chegada não anunciada do secretário de Estado norte-americano, John Kerry. Juntaram-se-lhe depois os chefes da diplomacia dos três países europeus que desde 2003 negoceiam com Teerão (França, Reino Unido e Alemanha) e já neste sábado chegou à cidade suíça o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, e ainda durante o dia é esperado o representante chinês, Wang Yi.
O prolongamento das discussões e frases ditas por diplomatas nos intervalos das reuniões reforçaram a ideia de que é possível que saia já de Genebra um acordo que, apesar de preliminar, será o primeiro entre o Irão e as potências internacionais e lançará as bases para o que poderá ser o fim do e um dos diferendos mais explosivos da actualidade.
O conteúdo das negociações permanece secreto, mas várias fontes adiantam que, em cima da mesa, estará a obrigação de o Irão parar de enriquecer urânio a 20% (concentração superior à usada nos reactores nucleares) e aceitar o reforço das inspecções. Em troca, europeus e americanos levantariam algumas das sanções impostas ao sector financeiro e descongelariam fundos iranianos cativados em instituições internacionais.
Kerry encontrou-se sexta-feira à noite, durante cinco horas, com o seu homólogo iraniano, Mohammad Javad Zarif, num encontro que mostra bem o potencial que estas negociações têm também para conduzir à reaproximação dos dois países, sem relações diplomáticas desde 1979. “Estamos a trabalhar arduamente”, disse o chefe da diplomacia americana, no regresso ao seu hotel, cerca das 23h de sexta-feira. A reunião “foi produtiva mas ainda há muito trabalho para fazer”, disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araqchi.
Contudo, na manhã deste sábado começou a ser lançada alguma água na fervura. “Há alguns pontos com os quais não estamos satisfeitos”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, que várias fontes descrevem como o mais intransigente nestas negociações. “Não aceitaremos um acordo para tolos”, sublinhou.
Várias fontes adiantam que Paris quer que Teerão aceite também suspender os trabalhos na central Arak, onde daqui a alguns meses entrará em funcionamento um reactor de águas pesadas de cuja laboração será possível extrair plutónio. Não existirá ainda também acordo sobre o que fazer ao stock de urânio já enriquecido a 20% (186 quilos, segundo o último relatório da Agência Internacional de Energia Atómica).
Ao final da manhã, depois de vários encontros bilaterais e multilaterais, Araqchi disse à agência Isna que “há um maior acordo sobre algumas questões, mas menos acordo em outras”. Acrescentou ainda que a delegação iraniana não pretende arrastar por mais tempo a sua estadia em Genebra: “As negociações não vão continuar amanhã [domingo]. Ou terminam hoje ou haverá uma outra ronda.” Um responsável da delegação iraniana disse à agência Mehr que o regime iraniano exige um alívio maior das sanções já numa primeira fase, nomeadamente o levantamento de restrições aos sectores petrolífero e bancário, medidas que penalizaram duramente a economia iraniana.
Consciente dos efeitos que terá um adiamento da decisão depois das expectativas criadas nesta ronda, Hague pediu a “todos os ministros presentes” que percebam a importância do momento e “façam tudo ao seu alcance para aproveitar o momento” para tentar selar um acordo “que o mundo não conseguiu obter durante demasiado tempo”.