Um inesperado Ty Segall
O novo álbum de Ty Segall, nome imprescindível dessa São Francisco florescente de rock"n"roll que temos tido o prazer de acompanhar nos últimos anos e que nos ofereceu os Thee Oh Sees, Sonny & The Sunsets, Wooden Shijps ou White Fence, é uma surpresa. A última vez que o ouvimos, emTwins, era um portento de guitarras fuzz e riffs capazes de derreter glaciares.Sleeper, por sua vez, quase dispensa a electricidade. É um álbum de folk-rock assombrada, ocasionalmente engrandecida por secção de cordas que dão gravidade às melodias, aqui e ali tocado pela expressão dramática do Bowie que acabara de assassinar Ziggy Stardust.
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O novo álbum de Ty Segall, nome imprescindível dessa São Francisco florescente de rock"n"roll que temos tido o prazer de acompanhar nos últimos anos e que nos ofereceu os Thee Oh Sees, Sonny & The Sunsets, Wooden Shijps ou White Fence, é uma surpresa. A última vez que o ouvimos, emTwins, era um portento de guitarras fuzz e riffs capazes de derreter glaciares.Sleeper, por sua vez, quase dispensa a electricidade. É um álbum de folk-rock assombrada, ocasionalmente engrandecida por secção de cordas que dão gravidade às melodias, aqui e ali tocado pela expressão dramática do Bowie que acabara de assassinar Ziggy Stardust.
Sleeper vem de um lugar específico. Foi a resposta de Segall a um momento dramático: a morte do pai, imediatamente seguida do corte de relações com a mãe ("não conseguiria gravar um disco eléctrico nem que me apontassem uma pistola à cabeça", disse em entrevista).
É um disco verdadeiramente nocturno, mais do que tocado pela tragédia, algo acentuado pela produção (o som é como que granulado, dando a ilusão de uma gravação caseira, captada no exacto momento da composição). Mas, naturalmente, não se espere de Segall uma exposição de alma em lírica catártica. Ty Segall é um esteta rock"n"roll e a linguagem do rock"n"roll, tal como explicado em cinco décadas de canções, é a sua. Ou seja, não nos fosse explicado o contexto da gravação e nunca o compreenderíamos ao ouvir estas canções (como deduzi-lo, por exemplo, da canção dedicada à mãe, She is crazy?).
O que temos, portanto, é um álbum surpreendente no cânone Segall pelos elementos usados, mas em que a força criativa do seu autor se impõe uma vez mais, do folk-rock sombrio de The keepers ("we live here and it smels of death") à densidade de The man man, espaço para o único momento de incontida explosão eléctrica; do onirismo transportador de She don"t care ao blues de voz sonolenta e slide fantasmagórico de 6th Street, belíssima canção pesadelo que resume magnificamente o espírito do álbum.