Wtf*, Portugal
Reagimos timidamente. Fomos para a rua gritar. Sempre contidos. Erguemos cartazes. Dissemos que basta. Mantivemos a esperança num ano melhor...
Conhecemos as causas. Por mil vezes nos forçaram a admitir que fomos alucinados e que nos descontrolámos nos gastos. Carros novos, férias, micro-ondas. Onde já se viu num país que se dizia de primeiro mundo, numa união (julgo ainda dizer-se) europeia? Fomos sofregamente à Ilha dos Prazeres, qual Pinóquio inebriado pela vida fácil e pela total ausência de regras. Um desastre.
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Conhecemos as causas. Por mil vezes nos forçaram a admitir que fomos alucinados e que nos descontrolámos nos gastos. Carros novos, férias, micro-ondas. Onde já se viu num país que se dizia de primeiro mundo, numa união (julgo ainda dizer-se) europeia? Fomos sofregamente à Ilha dos Prazeres, qual Pinóquio inebriado pela vida fácil e pela total ausência de regras. Um desastre.
Percebemos a mensagem. Há que cortar. A direito. Travar a fundo. Inverter a vida que demos como certa e o sentido do jogo “mamã, quantos passos?”. Agora para trás. Em causa estava o futuro e havia que corrigir em dois anos o que teríamos destruído em mais de 30.
Concordámos com o caminho. Reduzimos pensões. Reduzimos reformas. Reduzimos salários. Pagámos mais impostos. Continuamos a pagar. Trabalhamos mais anos. Rasgámos contratos. Mudámos as regras. Aceitámos que o Estado tinha que emagrecer. Tinha que reformar-se.
Não estranhámos as consequências. Deixámos de injetar dinheiro na economia. Deixámos de gerar emprego. Destruímos muito do existente. Vimos milhares de jovens sair do país. Vimos mais gente a viver sem casa. Sentimos em quem nos rodeia a falta de chão. De dinheiro. De caminhos.
Reagimos timidamente. Fomos para a rua gritar. Sempre contidos. Erguemos cartazes. Dissemos que basta. Mantivemos a esperança num ano melhor. Num ciclo melhor. Num melhor orçamento que nos pudesse libertar. Que nos fizesse acreditar que tudo isto fez sentido.
Aceitamos o fado. Percebemos que quem nos governa tem, afinal, solução. Que é para piorar. Que a reforma do Estado é a fingir. Que o plano é reduzir o nível de vida para que o investimento estrangeiro comece a chegar. Assente em mão de-obra barata, num país altamente infraestruturado e às portas da Europa.
Tombamos o olhar. "Venham daí", diremos. "É mais seguro que a China”. “É também mais perto”. "Usem as estradas como se fossem vossas". "Temos bons restaurantes e tivemos, em tempos, dinheiro para lá ir". "Temos sol o ano todo e bons hotéis". "Está tudo como novo". "Apenas inaugurámos a pensar que era nosso". "Sirvam-se como se estivessem em casa e se puderem deixar à saída uma qualquer atenção...".
Deixamos de ter dúvidas: nós, portugueses, vamos dar a volta. Literalmente. E depois, de cabeça para baixo, com as finanças pessoais esfrangalhadas e a autoestima em pedaços, tentaremos o corajoso número de caminhar com as mãos. Quem sabe um dia, na loucura, possamos voltar a andar de pé. Isso é que era…
* Onde te foste meter