É quase isso: o génio da reforma
Todos os comentadores, da esquerda à direita, passando pelo Pacheco Pereira, são unânimes: não há uma proposta concreta, apenas “slogans”, no guião para a reforma do Estado. Sendo assim, decidi avançar com um conjunto de propostas
Eis que, ao fim de tantos meses, Paulo Portas apresentou o guião para a reforma do Estado. Já não se esperava tanto por um documento desde a bula “Manifestis Probatum”, de 1179, na qual o Papa Alexandre III reconheceu Portugal como estado independente. No entanto, justiça seja feita ao Papa: a sua carta é válida há quase nove séculos; o guião de Paulo Portas não durou 24 horas.
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Eis que, ao fim de tantos meses, Paulo Portas apresentou o guião para a reforma do Estado. Já não se esperava tanto por um documento desde a bula “Manifestis Probatum”, de 1179, na qual o Papa Alexandre III reconheceu Portugal como estado independente. No entanto, justiça seja feita ao Papa: a sua carta é válida há quase nove séculos; o guião de Paulo Portas não durou 24 horas.
Este guião é como uma aspirina. Não porque resolva um problema, mas porque se dissolve demasiado depressa. O documento segue a política dos três ‘R’: repensar, reformar e reciclar o papel gasto por todos aqueles que o decidiram imprimir.
O exercício levado a cabo pelo vice-primeiro-ministro é, mais coisa, menos coisa, como mudar a mobília de lugar. Bom, talvez não seja assim tão difícil: toda a gente sabe como é difícil escolher o lugar para uma “chaise longue”.
Paulo Portas é um cinéfilo, o que explica o facto de ter chamado “guião” ao documento. Se gostasse de pintura, chamar-lhe-ia “esboço”. Se fosse especialista em gastronomia, chamar-lhe-ia “refogado”. Se fosse um tipo com “swag”, chamar-lhe-ia o “script da cena”.
Todos os comentadores, da esquerda à direita, passando pelo Pacheco Pereira, são unânimes: não há uma proposta concreta, apenas “slogans”. Sendo assim, decidi avançar com um conjunto de propostas para reformar o Estado.
Saúde
Apostar na prevenção. Muita fruta e sopa de nabos, para todos. Para complementar, aqueles produtos que são anunciados nas televendas e que previnem todas as doenças. Se, ainda assim, uma pessoa adoecer, é porque não tem salvação. Os médicos fariam o mesmo que o Presidente da República: acompanhariam atentamente a situação, mas sem nada a acrescentar.
Educação
A distribuição massiva de DVD’s da “Rua Sésamo” e a ida de Marcelo Rebelo de Sousa e de Nuno Rogeiro para o canal Panda permitiriam reduzir o número de professores.
Justiça
Os tribunais só julgariam situações graves. As questões menores seriam decididas por televoto. Com esta medida, resolveríamos dois problemas: menos processos a entupir os tribunais e mais receitas para o Orçamento do Estado.
Segurança e Defesa
Trocar todos os efectivos pelo Chuck Norris. Se ele ficasse doente… Estava a brincar, o Chuck Norris não fica com gripe. A gripe é que tenta, a todo o custo, não apanhar um Chuck Norris. Para além disso, poderíamos aproveitar a tecnologia portuguesa para fabricar um “Robocop”. Se o robô fosse um fiasco, teríamos sempre o Chuck Norris.
Cultura
Cortar o sinal de TV ao Domingo à tarde. Clonar o Pacheco Pereira.
Finanças
Já vimos que com economistas não resulta. Trocá-los-íamos por merceeiros. Perderíamos as boas mercearias, mas ganharíamos nas contas públicas. E pensemos positivo: ainda teríamos as tascas.
Segurança Social
Nesta área, há um erro evidente. Não temos que aumentar a sustentabilidade do sistema, temos que diminuir a esperança média de vida. Para isso, contamos com as minhas propostas para a saúde. E com o Chuck Norris.
Empresas Públicas
Clonar o Medina Carreira, mas sem que os clones se conhecessem. Caso contrário, poderiam acabar todos à chapada.
Para finalizar, um “slogan”, para isto colar melhor. “Não vamos reformar este Estado, vamos mandá-lo para a reforma.”
Ar grave de Paulo Portas. Silêncio. Ecrã negro. Chuck Norris. Ecrã negro. Paulo Portas. Ecrã negro. "Over and out".