Alemães desafiam Merkel a acolher Edward Snowden

Dezenas de personalidades da sociedade alemã defendem que o analista informático norte-americano "é um herói e não um traidor".

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A autorização de permanência de Edward Snowden na Rússia termina em Julho de 2014 AFP/WIKILEAKS

Mais de 50 personalidades de várias áreas, da política ao entretenimento, passando pelo desporto, exigem às autoridades alemãs que abram as portas ao analista informático Edward Snowden e que o recebam "como um herói".

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Mais de 50 personalidades de várias áreas, da política ao entretenimento, passando pelo desporto, exigem às autoridades alemãs que abram as portas ao analista informático Edward Snowden e que o recebam "como um herói".

Entre os testemunhos publicados neste domingo nas páginas da revista Der Spiegel sobressai o de um antigo secretário-geral do partido de Angela Merkel, Heiner Geissner: "Snowden prestou um grande serviço ao Ocidente. Agora, é a nossa vez de o ajudar." Apesar da sua viragem à esquerda nos últimos anos, principalmente em relação às políticas sociais, Heiner Geissner foi líder da CDU entre 1977 e 1989 e mantém a sua filiação ao partido de centro-direita.

A lista de defensores de Edward Snowden é longa e variada.

O vice-presidente da bancada dos sociais-democratas do SPD na câmara baixa do Parlamento, Axel Schaefer, não tem dúvidas quanto ao julgamento moral sobre as actividades do analista informático norte-americano: "Snowden é um herói e não um traidor."

O poeta e intelectual Hans Magnus Enzensberger e o autor de best-sellers Ferdinand von Schirach juntam as suas vozes ao presidente da Liga de futebol alemã, Reinhard Rauball, e ao actor Daniel Brühl, protagonista do filme Adeus, Lenine!

No seu testemunho, Hans Magnus Enzensberger afirma que "o sonho americano tornou-se um pesadelo" e qualifica o Reino Unido como "uma colónia dos EUA".

A revista alemã publica também um pequeno texto de Edward Snowden, que diz ter recebido através de um canal codificado, na sexta-feira, e em que o analista informático salienta a importância dos documentos que obteve enquanto trabalhou para a Agência de Segurança Nacional norte-americana.

"No início, alguns dos governos que foram expostos pelas revelações de vigilância em larga escala deram início a uma campanha de encobrimento. Intimidaram jornalistas e criminalizaram a publicação da verdade. Hoje, sabemos que essa estratégia foi um erro, e que esse comportamento não é do interesse público. O debate que eles tentaram parar está agora a decorrer em todo o mundo", afirma Edward Snowden.

Acordo entre Alemanha e EUA em curso
Angela Merkel está assim pressionada entre a exigência de uma acção concreta de protecção ao analista informático e a necessidade de não pôr em risco as relações do país com os EUA.

A estratégia de Merkel para ultrapassar este dilema assenta na obtenção de um acordo bilateral com o Presidente dos EUA, Barack Obama, que começou a ser desenhado na semana passada, com a visita de uma delegação do Governo alemão à Casa Branca.

O diário Frankfurter Allgemeine Zeitung avançou no sábado que os dois países estão prestes a concluir "um acordo de não-espionagem", que deverá estar concluído no início de 2014 e que impedirá a espionagem de líderes e cidadãos entre a Alemanha e os EUA.

Mas as negociações em curso entre Berlim e Washington estão a cair mal no Parlamento Europeu, onde se teme que a posição da União Europeia seja ainda mais enfraquecida. É esse o receio do eurodeputado alemão Jan Phillip Albrecht, relator da proposta de Regulamento de Protecção de Dados na União Europeia e do acordo de protecção de dados entre a União Europeia e os EUA. Em declarações ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, Albrecht considera que qualquer acordo bilateral entre um país da UE e os EUA favorece Washington na sua vontade de "acalmar a comoção sobre as actividades da NSA, sem que nada mude na vigilância em larga escala".

Para o Governo alemão, poderá ser uma oportunidade para pressionar os EUA a abrir-lhe as portas ao restrito grupo conhecido como Five Eyes (Cinco Olhos), avança o jornal britânico The Guardian. O grupo, constituído por EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá e Nova Zelândia, partilha uma colaboração profunda desde a Segunda Guerra Mundial em questões de espionagem, mas também militar e de política externa.