David Miranda acusado de "terrorismo" por ter documentos de Snowden
Companheiro do jornalista Glenn Greenwald ficou retido aeroporto de Heathrow durante nove horas e foram-lhe apreendidos milhares de documentos obtidos por Edward Snowden.
A acusação, revelada pela agência Reuters, consta de um documento preparado pela Scotland Yard e pelo MI5, a agência de serviços secretos britânicos que se dedica à contra-espionagem no território do Reino Unido.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A acusação, revelada pela agência Reuters, consta de um documento preparado pela Scotland Yard e pelo MI5, a agência de serviços secretos britânicos que se dedica à contra-espionagem no território do Reino Unido.
O brasileiro David Miranda esteve retido no aeroporto de Heathrow durante nove horas, no dia 18 de Agosto, durante a escala de um voo entre Berlim e o Rio de Janeiro, onde mora com o jornalista norte-americano Glenn Greenwald.
Segundo as autoridades, Miranda servia de correio entre a realizadora de documentários Laura Poitras – que tem colaborado com a revista alemã Der Spiegel na revelação dos documentos obtidos por Edward Snowden – e Greenwald.
O jornalista norte-americano, que trabalhava até há poucas semanas no jornal britânico The Guardian, admitiu que David Miranda transportava documentos secretos – as autoridades britânicas dizem ter apreendido no seu computador 58.000 documentos "que poderiam pôr em perigo a vida de pessoas se fosse divulgados".
Na acusação, preparada antes da detenção do brasileiro no aeroporto de Heathrow, lê-se que "a divulgação, ou a ameaça de divulgação [dos documentos] está preparada para influenciar um Governo e tem como objectivo promover uma causa política e ideológica". Por isso, entendem as autoridades britânicas, "cabe na definição de terrorismo".
David Miranda foi libertado ao fim de nove horas sem qualquer acusação formal e apresentou uma queixa, mas as autoridades britânicas anunciaram no mesmo dia que iriam abrir uma investigação. Na próxima semana será realizada uma audição sobre o caso, mas ainda não são conhecidos pormenores.
Num email enviado à agência Reuters, Glenn Greenwald reagiu à acusação de terrorismo de que o seu companheiro foi alvo. "Para um país que dá palestras ao mundo sobre liberdade de imprensa, o Reino Unido não oferece quase nenhuma protecção (…) Na prática, estão a comparar o terrorismo ao jornalismo."
No início da semana, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, apelou à "responsabilidade social" dos media britânicos, numa declaração que foi entendida pelo jornal The Guardian como uma ameaça velada a quem continue a divulgar as informações contidas nos documentos obtidos por Edward Snowden.
"Acho que é muito melhor apelar à responsabilidade social dos jornais. Mas se não demonstrarem alguma responsabilidade social, será muito difícil para o Governo ficar quieto e não agir", declarou o primeiro-ministro britânico.
Ouvido pela agência Reuters, Steve Aftergood, especialista em segredos de Estado na Federação de Cientistas Americanos, disse que a acusação de terrorismo contra David Miranda não é surpreendente. "Parece que as autoridades do Reino Unido tentaram apreender ou recuperar documentos oficiais sobre os quais têm direitos. A acção das autoridades foi severa, mas não foi incompreensível ou claramente contrária à lei", argumenta o especialista.