Quase um terço das crianças entre um e três anos tem excesso de peso
O excesso de peso afecta quase um terço (31,4%) das crianças portuguesas entre os 12 e os 36 meses e a obesidade já chega a 6,5% das crianças na mesma faixa etária, “valores francamente acima do desejável” que são um “sinal de alerta” para a necessidade de uma mudança dos hábitos alimentares das famílias.
Os dados apurados são “preocupantes”, “sobretudo porque acontecem numa idade muito precoce em que há uma programação do que será o futuro, com aquisição de hábitos e comportamentos”, alerta a coordenadora do EPACI Portugal 2012, Carla Rêgo. É que, “contrariamente à ideia antiga de que se vai perdendo peso à medida que se cresce, a probabilidade de o excesso de peso se manter ao longo da vida é grande”. Por isso, crianças com excesso de peso serão, provavelmente, adultos com excesso de peso. E, consequentemente, com maior risco de desenvolver doenças como diabetes, colesterol, hipertensão e cancro.
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Os dados apurados são “preocupantes”, “sobretudo porque acontecem numa idade muito precoce em que há uma programação do que será o futuro, com aquisição de hábitos e comportamentos”, alerta a coordenadora do EPACI Portugal 2012, Carla Rêgo. É que, “contrariamente à ideia antiga de que se vai perdendo peso à medida que se cresce, a probabilidade de o excesso de peso se manter ao longo da vida é grande”. Por isso, crianças com excesso de peso serão, provavelmente, adultos com excesso de peso. E, consequentemente, com maior risco de desenvolver doenças como diabetes, colesterol, hipertensão e cancro.
Para combater esta tendência, a aposta deve ser “informar e ensinar os pais relativamente a práticas alimentares saudáveis” e “garantir que é a família que se ajusta à alimentação da criança, e não o contrário”, defende. Até aos 12 meses os pediatras têm “uma p-rática correctíssima e de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS)”, congratula-se a também fundadora e presidente do Grupo Nacional de Estudo e Investigação em Obesidade Pediátrica (GNEIOP). O problema vem depois, quando a criança começa a partilhar os comportamentos alimentares da família. Isto porque, revelou o estudo desenvolvido em parceira pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, nos progenitores, com uma idade média de 34 anos, regista-se uma preocupante prevalência de excesso de peso ou obesidade de cerca de 38% nas mulheres e de 61% dos homens.
No segundo e terceiro anos de vida as bebidas açucaradas e as sobremesas e doces passam a fazer parte da vida diária das crianças em 17% e 10% dos casos, respectivamente. São valores que dão à família uma avaliação negativa: “Se a criança ingere refrigerantes, é porque eles são consumidos em casa”, lamenta Carla Rêgo, acrescentando que estas “atitudes de risco também justificam a excesso de pesos nos progenitores”. Em declarações à Lusa, o coordenador do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, Pedro Graça, deixa um conselho às famílias: “Muitas vezes, dar doces é como um gesto de ternura, uma forma de tornar as crianças mais felizes e bem-dispostas. É importante que pais e familiares percebam que a oferta de doces desde muito cedo é nefasto para a criança.”
Aliás, os especialistas vincam que a saúde da criança é pré-determinada nos primeiros mil dias de vida, que são “cruciais para o desenvolvimento da criança a todos os níveis e também ao nível dos paladares”. Mas nem tudo é mau: quase todas as crianças consomem diariamente sopa (95%) e fruta fresca (93%), apesar de só metade (43%) o fazer na quantidade desejável, de cerca de cinco porções diárias. Também o consumo de micronutrientes, como cálcio e ferro, é adequado.
Relativamente ao primeiro ano de vida, crucial para o treino de paladares e texturas, o estudo verificou que 90% das mulheres iniciam a amamentação, tendo as mães obesas menos probabilidade de o fazer. O aleitamento materno exclusivo acontece, em média, até aos quatro meses, “abaixo do aconselhável pela OMS, que recomenda os seis meses”. “É pena que não seja mais ainda, mas é interessante ver que mais de metade [53%] ainda amamenta aos seis meses”, referiu Carla Rêgo. Os valores abaixo do recomendável decorrem de “contingências laborais e de uma política na protecção à mulher desadequada.” “É claramente uma questão política”, acusa.
As crianças entre os 12 e os 36 meses consomem mais do dobro das proteínas recomendadas, o que se deve a um consumo excessivo de leite de vaca. Pedro Graça justifica à Lusa que este excesso se deve ao facto de os pais terem tendência para pensar que os filhos ficam protegidos se consumirem elevadas doses de proteína. A partir dos 12 meses o leite de vaca pode ser introduzido na dieta alimentar, apesar de as recomendações da OMS sejam para alargar o período de alimentação com leite de fórmula (em pó).