O guião, a nuvem e algo a fazer lembrar “Amor e Sexo”
Antes de olhar para o conteúdo do discurso de 112 páginas vale a pena olhar para o formato. Conclusão: Paulo Portas é amigo dos que vêem mal. Este tipo de documentos costuma ser apresentado num corpo de letra 12, vá lá, 13, o também líder do CDS usou o corpo 16 e com espaçamento duplo entre linhas (por certo para a malta tirar notas).
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Antes de olhar para o conteúdo do discurso de 112 páginas vale a pena olhar para o formato. Conclusão: Paulo Portas é amigo dos que vêem mal. Este tipo de documentos costuma ser apresentado num corpo de letra 12, vá lá, 13, o também líder do CDS usou o corpo 16 e com espaçamento duplo entre linhas (por certo para a malta tirar notas).
Olhemos agora para a dita nuvem do guião que era para ter sido apresentado em meados de Fevereiro e chegou em finais de Outubro. “Portugal”, “deve”, “reforma”, “Estado” são as palavras mais repetidas. Bate certo com o objectivo do guião. Há, porém, uma dúvida: o “deve” é com o sentido de dever mesmo, de “cumprir” (termo que aparece muito pequeno), ou tem a ver com a dívida colossal que Portugal tem de pagar?
Ainda entre as palavras gordas do guião de Portas temos “despesa”, “política”, “Governo”, “saúde”, “pública”, “social”, “reforçar” e “crescimento”.
Mais alguns dados: “emprego” é mais magro que “empresas”; “garantir” e “trabalho” são do mesmo tamanho e surgem lado a lado; “aumentar” e “reduzir” foram citadas mais ou menos o mesmo número de vezes.
Entre as palavras menos ditas estão “portugueses”, “relação”, “escolha”, “objectivo”, “forma”, “sentido”, “IRS”, “ajustamento” e “todos”.
Nesta autópsia electrónica ao guião, e tendo em conta que foi elaborado e apresentado por Paulo Portas, estranha-se a ausência de algumas palavras. “Linha” e “vermelha”; “decisão” e “irrevogável”; “lavoura” e “pensionistas”; “baixar” e “impostos”. “Penta” também não aparece.
Outra palavra ausente das cem mais é “cortar”. É pena porque entra num dos parágrafos mais bonitos do guião. Um momento, por certo, inspirado na cantiga Amor e Sexo imortalizada por Rita Lee.
“‘Cortar’ é reduzir; reformar é melhorar. ‘Cortar’ é cumprir metas; reformar, é mudar de modelo. ‘Cortar’ é uma consequência dos erros passados, reformar pode e deve ser a condição para acertar no futuro. ‘Cortar’ obedece a uma restrição orçamental. Reformar cria condições para, estruturalmente, o Estado ser menos pesado e a sociedade ser
mais forte.”
"Amor é isso/Sexo é aquilo/E coisa e tal!/E tal e coisa!/Uh! Uh! Uh!/Ai o amor!/Hum! O sexo!".
Obrigado, Rita Lee. Obrigado, Paulo Portas.