Deputadas turcas entram no Parlamento de véu pela primeira vez e em desafio à secularização do país
Acção de protesto foi condenada pela oposição laica, que acusa Erdogan de estar a “explorar a religião”
O partido do primeiro-ministro, Recep Erdogan, está apostado em levar a cabo a progressiva islamização da Turquia, que se assume como um Estado laico desde a fundação da República, em 1923, por Kemal Ataturk. Depois de, no início do mês, ter aprovado uma reforma que autoriza as mulheres a usarem o véu islâmico nos locais públicos, agora são as próprias deputadas do AKP que trazem a polémica para o Parlamento.
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O partido do primeiro-ministro, Recep Erdogan, está apostado em levar a cabo a progressiva islamização da Turquia, que se assume como um Estado laico desde a fundação da República, em 1923, por Kemal Ataturk. Depois de, no início do mês, ter aprovado uma reforma que autoriza as mulheres a usarem o véu islâmico nos locais públicos, agora são as próprias deputadas do AKP que trazem a polémica para o Parlamento.
Merve Kavakçi, deputada do Partido da Virtude Islâmica, predecessor do AKP, estava a tomar posse em 1999, com a cabeça coberta por um lenço, quando o primeiro-ministro de então, Bulent Ecevit, se lhe dirigiu, dizendo: “Este não é um local para desafiar o Estado. Informem esta mulher dos seus limites”. Ao mesmo tempo, um grande número de deputados pedia a saída de Kavakçi, o que acabou por acontecer. Três anos depois, o seu partido seria dissolvido por violar as leis seculares e vários elementos foram banidos da política por cinco anos, entre os quais Kavakçi.
“Momento histórico”
“Não sabemos como será a reacção, mas vamos entrar no Parlamento com os nossos véus e continuar o nosso trabalho”, referiu uma das quatro deputadas do AKP, Nurcan Dalbudak, citada pela Reuters, à entrada para a sessão parlamentar. “Vamos assistir ao início de uma era importante e vamos ter o papel principal, seremos o porta-estandarte”, acrescentou a deputada.
O principal partido da oposição, o Partido Popular Republicano (CHP), fez saber que vai contestar a decisão. “Todos os nossos membros concordam que o AKP está a explorar a religião. Nunca ficaremos em silêncio em relação a acções destinadas a eliminar o princípio do secularismo”, afirmou Dilek Yilmaz, do CHP.
A polémica da utilização do véu islâmico em locais públicos foi reacendida no início do mês, quando Erdogan anunciou um conjunto de reformas em que se prevê o levantamento da proibição do uso do véu às funcionárias públicas nos locais de trabalho. De fora ficaram as juízas, as advogadas de tribunal, as polícias e as militares.
O primeiro-ministro, cuja mulher é vista de lenço, classificou a adopção da legislação como um “momento histórico” e justificou a decisão como “uma resposta às exigências da população”. O lenço é um símbolo do Islão, o que o torna num elemento fracturante numa sociedade como a turca, muito dividida entre franjas seculares e progressistas e outras mais conservadores e religiosas.