Director do museu Leopold de Viena demitiu-se por causa de arte saqueada pelos nazis

Responsável quer evitar mais associações do museu às pilhagens dos nazis. Entretanto, comissão holandesa concluiu que há 139 obras nos museus do seu país com proveniência suspeita.

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A entrada do Museu Leopold fotografada esta semana em Viena REUTERS/Leonhard Foeger

A chamada Fundação Klimt tem 14 obras do pintor – quatro pinturas a óleo e dez desenhos. A propriedade de pelo menos um, um retrato de Gertrude Loew, é disputada há anos pelos herdeiros de Loew, que dizem que ela foi roubada pelos nazis e a querem reaver.

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A chamada Fundação Klimt tem 14 obras do pintor – quatro pinturas a óleo e dez desenhos. A propriedade de pelo menos um, um retrato de Gertrude Loew, é disputada há anos pelos herdeiros de Loew, que dizem que ela foi roubada pelos nazis e a querem reaver.

O Museu Leopold tentou recentemente encetar um novo capítulo na sua história depois de ter combatido inúmeras alegações – e, em alguns casos, chegando a acordo financeiro com os herdeiros dos proprietários judeus de obras de arte roubadas depois da anexação da Áustria por Hitler em 1938. Muitas foram vendidas em leilão em Viena depois de 1945 e depois compradas ao seus novos proprietários por Rudolf Leopold, que começou a coligir a sua colecção nos anos 1950 e resistiu às reclamações de restituição até à sua morte, em 2010.

No ano passado, o museu chegou a acordo quanto a uma reclamação sobre Houses by The Sea, de Schiele, feita pelos herdeiros de Jenny Steiner, proprietária de uma fábrica de seda cuja valiosa colecção de arte foi apreendida pelo regime nazi em 1938. “É uma triste verdade que há anos que o museu era conhecido em todo o mundo por ser sinónimo de arte saqueada. Por que é que devíamos conspurcar-nos outra vez com este tema?”, perguntou Natter numa entrevista telefónica com a Reuters. 

Natter era director do museu há apenas dois anos. As suas exposições incluíram Nackte Männer (Homens Nus), uma exposição que convidou nudistas para a sua noite inaugural e que se tornou tão popular que inspirou uma exposição no Museu de Orsay em Paris, Masculin/Masculin.  

A historiadora de arte Sophie Lillie, que documentou o destino de 148 colecções apreendidas pelos nazis a judeus de Viena no seu livro Was einmal war (O que foi outrora, de 2003), disse que Natter devia ser elogiado pela sua decisão de se demitir. “Penso que até certo ponto o museu Leopold tentou resolver os seus problemas porque havia muita pressão mediática sobre eles. Agora, as luzes estão mesmo sobre eles”, disse à Reuters.

Dois investigadores estão agora a vasculhar a colecção de mais de seis mil obras do museu para estabelecer a proveniência do maior número de peças possível, disse um porta-voz do museu. Em 1994, o Estado austríaco transferiu a colecção Leopold, que tinha comprado, para uma fundação privada e ajudou a construir o edifício do museu que a alberga.

O regime nazi pilhou sistematicamente centenas de milhares de obras de arte de museus e indivíduos e há um número ainda desconhecido de obras ainda desaparecidas e vários museus em todo o mundo têm levado a cabo investigações quanto à proveniência das suas peças. Uma comissão holandesa que está a investigar a pilhagem de bens naquele país durante a era nazi disse terça-feira que identificou 139 obras com origens problemáticas, entre elas um Matisse e várias outras peças, envolvendo entre outras instituições o famoso Rijksmuseum de Amesterdão. O site especial do projecto, cuja versão em inglês só surgirá em 2014, foi lançado terça-feira e detalha os resultados do trabalho desta comissão nos últimos quatro anos sobre 400 instituições.O director da Associação de Museus holandesa, Siebe Weide, disse, citado pelo El País, que este trabalho se reveste de uma obrigação moral, "uma tarefa que ninguém nos impôs".

As leis austríacas quanto à restituição de arte saqueada estão agora a ser postas à prova no caso do monumental Beethoven Frieze (1902) de Klimt, que homenageia o compositor alemão e integra a exposição permanente do museu da Secessão de Viena. Os herdeiros do seu anterior proprietário, Erich Lederer, cuja família judia fugiu quando a Alemanha nazi anexou a Áustria em 1938, podem recuperar a peça se um recurso apoiar a sua reclamação de que Lederer foi forçado a vendê-lo ao Estado austríaco a preço de saldo.

A fundação Klimt pediu a uma comissão de investigadores independentes que averigue a proveniência das suas obras e diz que a investigação sobre o retrato de Gertrude Loew estará terminada até ao final do ano.