A vitória de James Blake foi a surpresa nos Mercury Awards

Overgrown venceu os favoritos AM, dos Arctic Monkeys, Sing to the Moon, de Laura Mvula, ou The Next Day, de David Bowie.

Foto
James Blake mostrou canções de Overgrown na edição deste ano do Optimus Primavera Sound, no Porto paulo pimenta

O músico londrino de 25 anos, criador de música que revela alma de cantautor numa era de sombras electrónicas (começou, não por acaso, na esfera do dubstep, a música electrónica da Londres do século XXI, confluência narcótica de hip hop, trip hop ou house), manifestou-se “em júbilo e confuso”, afirmando com humor, como se pode ler no Independent, que cita declarações nos bastidores da cerimónia: “Este é o primeiro prémio que ganho, à parte de um troféu de ténis quando tinha 12 anos. Tenho a mesma estima pelos dois.” O júri descreveu Overgrown como “música de noite alta para a idade digital”: “Um disco de grande beleza, inventivo, comovente e poético.”

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O músico londrino de 25 anos, criador de música que revela alma de cantautor numa era de sombras electrónicas (começou, não por acaso, na esfera do dubstep, a música electrónica da Londres do século XXI, confluência narcótica de hip hop, trip hop ou house), manifestou-se “em júbilo e confuso”, afirmando com humor, como se pode ler no Independent, que cita declarações nos bastidores da cerimónia: “Este é o primeiro prémio que ganho, à parte de um troféu de ténis quando tinha 12 anos. Tenho a mesma estima pelos dois.” O júri descreveu Overgrown como “música de noite alta para a idade digital”: “Um disco de grande beleza, inventivo, comovente e poético.”

Antes da entrega dos prémios, que teve lugar na noite de quarta-feira no Roundhouse, em Londres, os grandes favoritos à vitória eram a estreante Laura Mvula, com Sing to the Moon, os muito respeitados Arctic Monkeys, vencedores em 2006 com Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, e agora nomeados por AM, ou, numa lógica de celebração e reconhecimento, o veterano David Bowie, que ressurgiu este ano com estrondo ao editar The Next Day. Para além da habitual discussão sobre os favoritos, a antecipação da edição deste ano foi também marcada pelo debate da natureza do Mercury. Estaria o prémio a tornar-se demasiado mainstream, questionava a imprensa, perante o facto inédito de cinco dos 12 nomeados (Arctic Monkeys, David Bowie, Jake Bugg, Disclosure e Rudimental) terem chegado a número 1 das tabelas de vendas. Em 2012, apenas um dos nomeados apresentava tal currículo e o álbum vencedor de 2009, Speech Therapy, de Speech Debelle, não teve sequer vendas suficientes para figurar nas tabelas de vendas.

Neste contexto, a vitória de James Blake surge, de certa forma, como prova de que os Mercury se mantêm como barómetro da música mais artisticamente válida criada no Reino Unido e na Irlanda. Como escreveu em título Alexei Petridis, crítico musical do Guardian, foi “a escolha surpreendente de uma lista previsível do Mercury Prize”. Algo, de resto, perceptível durante a cerimónia. Segundo o relato de Neil McCormick no Telegraph, o público presente no Roundhouse, formado na sua maioria por elementos da indústria discográfica, não prestou muita atenção à sua actuação durante a cerimónia. “Inicialmente, a sua torch song de alta tecnologia foi tão discreta que metade da sala nem sequer pareceu reparar que ele estava ali, tagarelando durante a sua soul ‘autotunada’ até que os sons sintéticos se tornaram tão profundos e ruidosos que as nossas entranhas vibravam.”

Essa evolução, uma imensa discrição que se vai entranhando pouco a pouco, serve de boa analogia para o impacto da música de James Blake, que se estreou em longa duração em 2011 com um álbum homónimo. O segundo, Overgrown, com colaborações de dois nomes tão distintos quanto Brian Eno e RZA, dos Wu-Tang Clan, aprofundou e solidificou as pistas deixadas em aberto pelas canções rarefeitas da estreia. Como escreveu Alexei Petridis, reflectindo sobre a vitória de Blake, “não é certamente o álbum mais imediato a vencer o Mercury Prize, mas assim que descobrimos o nosso caminho até Overgrown é difícil encontrar forma de sair dele.”

O segundo álbum de James Blake concorreu no Mercury com AM, dos Arctic Monkeys, Jake Bugg, de Jake Bugg, Settle, dos Disclosure, Holy Fire, dos Foals, Immunity, de Jon Hopkins, Once I Was An Eagle, de Laura Marling, Sing to the Moon, de Laura Mvula, Home, de Rudimental, Silence Yourself, das Savages, Awayland, dos Villagers e The Next Day, de David Bowie. Até ao início da cerimónia houve a expectativa de que Bowie a aproveitasse para ressurgir em palco, mas, tal como Laura Marling, não esteve presente. Enviou, contudo, um novo vídeo, o da remistura de James Murphy para Love is lost, que terá tido custos de produção inferiores a 10€.

Em 2012, o Mercury foi atribuído a An Awesome Wave, dos Alt-J. Outros vencedores foram xx dos The xx, I Am a Bird Now, de Antony & The Johnsons, Boy in Da Corner, de Dizzee Rascal, Different Class, dos Pulp, Dummy, dos Portishead, ou Screamadelica, dos Primal Scream, vencedor na estreia dos prémios, em 1992.