A ponte de Viana do Castelo e as estórias de Gustave Eiffel

De Paris ao Panamá , por todo o mundo, a sua genialidade fala.

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De Paris ao Panamá , por todo o mundo, a sua genialidade fala.

A Torre Eiffel, em Paris, é o símbolo da cidade luz e da França. Ao certame para a sua construção responderam 700 concorrentes. Gustave Eiffel venceu. 

A Estátua da Liberdade em Nova Iorque, doação de Napoleão III à América no centenário da independência, é também arte de Gustave Eiffel. Por todo esse mundo há Eiffel.

Entre nós, construiu 24 pontes.

A de D. Maria Pia, no Porto, é um expoente de engenharia de Eiffel. Monumento nacional e internacional. Toda a gente sabe isso. A história da cultura e da arte, diz Lobo Antunes, é “aquilo que vai ficar de um povo". Deve sempre ser revisitada, pensada e revivida. Explica a solidez do passado, projecta o futuro colectivo dos povos.

Ao tempo, a arquitectura do ferro superava em beleza e magnificência a do betão e cimento armado que se lhe seguiu. Eiffel está por todo lado a demonstrá-lo.

Foi essa arquitectura que Gustave Eiffel também levou ao Norte de Portugal. A Viana do Castelo.

Com a colaboração de Théophile Seyrig, projectista e construtor da ponte Luís I, no Porto, construiu a ponte rodo-ferroviária, a ligar as duas margens do Lima. Tinha-a por sua obra prima.

Eiffel dedicava o cérebro e o corpo às pontes. Aquando daquela construção, estabeleceu residência num povoado de meia dúzia de gentes, hoje cidade com algum encanto, Barcelos.

Doeu-se aí de solidão, mantendo-se sonhador. A natureza humana é assim! Grandes homens, grandes sonhos.

Um artista de Paris encurralado na terrinha de Barcelos. Eça em Tormes! Com artes de arquitecto e engenheiro do ferro, Eiffel engenhava como sair de tamanha solidão.

Em Barcelinhos, muito junto àquele, habitava Maria Adelaide Lopes. Na paz de sacristias e rezas. E jejuns! Gordinha e roliça, como convinha às minhotas. Brincos, longos colares de oiro, ao jeito das paragens. Eiffel seduziu-a com artes de engenharia que dominava como ninguém. Públicas virtudes, defeitos privados.

As obras da ponte continuaram. Chegou a inauguração em fins do séc. XIX. Gustave Eiffel, engenheiro sabedor e de confiança, acautelando as vidas que por séculos ali passariam, projectou testar a resistência e segurança da ponte, à semelhança da D. Maria Pia. Toneladas de peso de uma à outra margem.

Não há homem grande sem mulher ainda maior, diz o povo. Maria Adelaide impôs o seu critério ao projecto idealizado por Effeil. Testou a segurança da ponte. A pé e só, atravessou a dita, de um lado ao outro do Lima, do outro ao primeiro. A ponte resistiu. Maria Adelaide concluiu ufana: “Se a ponte pôde comigo, aguentou, poderá com o comboio.” Gustave Eiffel conformou-se. Desistiu da tonelagem.

Ninguém assegura  a veracidade da estória. Se se trata da História ou de lenda. Fique-se com “a lenda que esta precede os factos”.

A ponte ainda lá está. Maria Adelaide era de peso.

Procurador-geral-adjunto