O “messias” de bolsos cheios que veio para pôr os políticos na ordem
Andrej Babis lidera o partido que pode causar a maior surpresa nas eleições checas. Define-se como “antipolítico” e quer lutar contra a corrupção do sistema partidário.
Com uma fortuna pessoal avaliada em 2000 milhões de euros, de acordo com a Forbes, que o inclui na lista de bilionários, “Andrej Babis convenceu as pessoas de que não vai para a política por dinheiro; ele já é rico o suficiente”, observa o director da agência de consultadoria PPM Factum, Jan Herzmann, citado pela Rádio Praga.
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Com uma fortuna pessoal avaliada em 2000 milhões de euros, de acordo com a Forbes, que o inclui na lista de bilionários, “Andrej Babis convenceu as pessoas de que não vai para a política por dinheiro; ele já é rico o suficiente”, observa o director da agência de consultadoria PPM Factum, Jan Herzmann, citado pela Rádio Praga.
Porquê então “sujar” as mãos na política? É o próprio Babis que responde, recorrendo a uma memória de 2011: “Depois de ver uma entrevista com o então Presidente checo, Vaclav Klaus, vangloriando-se e a negar as feridas que desmoralizam a sociedade, dei um salto na minha cadeira”, recorda, citado pelo Le Monde. “Foi então que disse a mim mesmo que não podia ficar de braços cruzados”. E não ficou.
Em 2011, criou o ANO (“Aliança dos Cidadãos Descontentes”) como um movimento cívico com o objectivo de lutar contra a corrupção na política checa e de pensar em alternativas para o desenvolvimento do país. Depois da institucionalização como partido político, Babis pretendia permanecer na sombra, mas o seu carisma catapultou-o para a liderança e há quem fale já numa possível pasta ministerial, caso as eleições comprovem a popularidade do ANO.
A verdade é que a campanha de Babis tem adoptado um discurso coincidente com aquilo que a maioria dos checos pensa neste momento. “Não somos políticos, nós trabalhamos”, é um dos slogans mais chamativos do ANO, e reflecte a desafeição do eleitorado checo para com o establishment que domina a vida política. E Babis não tem poupado esse sistema: “Temos uma pseudo-democracia em que celebramos eleições a cada quatro anos e é tudo”, podia ouvir-se do milionário durante os comícios das últimas semanas.
De comunista a milionário
Babis tem origem numa família pertencente à aristocracia comunista checoslovaca, filho de um diplomata comercial, e passou a sua infância entre Paris e Genebra. Seguindo os passos paternos, filia-se no Partido Comunista e torna-se gestor da Petrimex em Marrocos, uma empresa de comércio externo controlada pelo partido. É no Magrebe que se encontra quando se dá a Revolução de Veludo, em 1989, e o regime comunista colapsa.
Hoje, o milionário retira importância à sua militância comunista. “Eu nunca fui um comunista convicto, mas na minha família isso não era um problema, tratava-se de um meio para realizarmos os nossos desejos profissionais”, explicou ao Le Monde.
O regresso de Babis dá-se já durante os anos 1990 quando se fixa em Praga, onde trabalha na mesma Petrimex, que ainda pertencia ao Estado. Antes de ter sido afastado pela direcção eslovaca da empresa, Babis consegue fundar a Agrofert, o embrião do seu futuro império.
Desde então, a Agrofert só soube crescer. Hoje é uma holding que concentra mais de 230 empresas nos sectores alimentares, agrícola e químico, emprega 58 mil pessoas e tem um rendimento anual na ordem dos 5500 milhões de euros
Mas Babis não é imune às críticas. Recentemente, anunciou que vai adquirir a maior empresa de comunicação social do país, a MAFRA, que edita os dois maiores diários checos. As óbvias comparações com Silvio Berlusconi não se fizeram esperar. “As pessoas falam sobre Berlusconi o tempo todo, mas o que é que ele fez? Esteve em escândalos sexuais, fugiu aos impostos e enganou o Estado. Eu não faço nem farei coisas assim”, assegurou Babis, citado pela Reuters.
Outra acusação é a de que terá colaborado com os serviços secretos checos durante o regime comunista, enquanto se encontrava em Marrocos. Babis admitiu ter sido contactado, mas negou qualquer cooperação.
O seu perfil de self-made man, que vocifera contra os vícios do sistema partidário e que traz uma visão empresarial para a política parece ter criado empatia com o eleitorado. “Ofereceu-me o pequeno-almoço no metro”, contou Marek Herold à agência Efe, durante uma acção de campanha. “Estou a pensar em votar nele já que para quem é multimilionário dedica muito esforço à campanha”.