Vaticano suspende o "bispo do luxo"
Gastos sumptuosos do prelado de Limburgo enfureceram fiéis e forçaram o Papa a agir.
O afastamento do “bispo do luxo”, como é conhecido na Alemanha, poderá ser um primeiro passo para a demissão, pedida numa carta aberta subscrita por quatro mil leigos e padres de Limburgo (diocese no Oeste da Alemanha, que integra Frankfurt). Mas uma decisão só será tomada depois de concluído o inquérito aberto pela Conferência Episcopal.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O afastamento do “bispo do luxo”, como é conhecido na Alemanha, poderá ser um primeiro passo para a demissão, pedida numa carta aberta subscrita por quatro mil leigos e padres de Limburgo (diocese no Oeste da Alemanha, que integra Frankfurt). Mas uma decisão só será tomada depois de concluído o inquérito aberto pela Conferência Episcopal.
“Foi criada uma situação em que o bispo não pode continuar a exercer os seus deveres”, adiantou o Vaticano em comunicado, dizendo que o Papa achou “oportuno autorizar o monsenhor Tebartz-van Elst a um período de licença fora da diocese”, que ficará entregue a um vigário-geral.
Há muito que o seu estilo autoritário e o apreço pelo estatuto associado ao cargo desagradavam aos fiéis, mas a tempestade estalou quando, em 2012, a Der Spiegel revelou que o bispo viajou em primeira classe numa deslocação à Índia para apoiar programas de apoio a crianças exploradas. O bispo processou a revista, assegurando em declarações ao tribunal que viajara em executiva.
No artigo era já denunciada a “multimilionária” renovação da residência episcopal, numa diocese “onde não há dinheiro suficiente para a manutenção das igrejas”. Mas o escândalo só atingiu proporções nacionais quando, neste Verão, a diocese revelou finalmente que as obras, inicialmente orçadas em dois milhões de euros, custaram 31 milhões (chega mesmo a falar-se em 40 milhões).
Além do apartamento pessoal, o complexo inclui uma capela privada, que custou mais de dois milhões de euros, jardins, um museu, sala de conferências e biblioteca. Tebartz-van Elst respondeu que as obras foram encomendadas pelo antecessor e que muito do que foi construído não se destinava ao seu uso pessoal. Mas a defesa caiu por terra quando a imprensa revelou que gastara 600 mil euros em obras de arte, 15 mil numa banheira e muitos milhares em alterações de última hora.
A Conferência Episcopal, até então solidária, abriu um inquérito, centenas de fiéis abandonaram a Igreja Católica e o Papa enviou um investigador a Limburgo. Na semana passada, depois de ter ficado a saber que será acusado de perjúrio no processo contra a Spiegel, viajou num voo de baixo custo para Roma, onde esperou uma semana até ser recebido por Francisco, o mesmo Papa que, nas últimas semanas, criticou os padres que conduzem carros de alta cilindrada e os “príncipes da Igreja” que passam mais tempo nos aeroportos do que nas suas dioceses.
“Com esta decisão, o Papa dá os primeiros passos para um novo começo na diocese de Limburgo”, reagiu Alois Glueck, porta-voz do principal grupo de leigos católicos alemães.