Último antepassado comum a nós e aos Neandertais: procura-se!
Candidatos conhecidos não têm os traços morfológicos que seria de esperar para o antepassado directo partilhado pelos dois tipos de humanos. Procuram-se agora fósseis de uma espécie de África, por enquanto totalmente desconhecida, com um milhão de anos.
A equipa inclui os três directores do sítio arqueológico de Atapuerca (em Burgos, no Norte de Espanha), José María Bermúdez de Castro, Juan-Luis Arsuaga e Eudald Carbonell. O curioso é que, até há pouco tempo, os investigadores de Atapuerca defendiam como candidato a último antepassado comum a Neandertais e a nós uma espécie humana descoberta em Atapuerca: o Homo antecessor, que viveu há 800 mil anos. A sua descoberta foi anunciada em 1997, na revista Science.
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A equipa inclui os três directores do sítio arqueológico de Atapuerca (em Burgos, no Norte de Espanha), José María Bermúdez de Castro, Juan-Luis Arsuaga e Eudald Carbonell. O curioso é que, até há pouco tempo, os investigadores de Atapuerca defendiam como candidato a último antepassado comum a Neandertais e a nós uma espécie humana descoberta em Atapuerca: o Homo antecessor, que viveu há 800 mil anos. A sua descoberta foi anunciada em 1997, na revista Science.
Originário de África, o Homo antecessor, que descenderia do Homo erectus (este surgido há cerca de dois milhões de anos), veio para a Europa. Uma vez no continente europeu, o Homo antecessor teria originado o Homo heidelbergensis (identificado pela primeira vez em 1907, na região alemã de Mauer). E, por sua vez, segundo defendia até agora a equipa responsável pelas escavações de Atapuerca, o Homo heidelbergensis teria originado os Neandertais, um ramo evolutivo que extinguiu há cerca de 28 mil anos na Península Ibérica, o seu último refúgio. Em África, o Homo antecessor teria evoluído para Homo sapiens, ou homem moderno, há cerca de 200 mil anos, e de lá saiu e se espalhou pelo mundo.
Agora, a equipa internacional, que inclui ainda cientistas dos Estados Unidos e da Áustria, concluiu, através de análise estatística, que a morfologia esperada dos dentes do antepassado directo partilhado por nós e pelos Neandertais não corresponde a nenhum fóssil conhecido. Os resultados foram publicados esta segunda-feira, na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences.
“Nenhuma das espécies anteriormente sugeridas como o último antepassado comum de Neandertais e de humanos modernos tem uma morfologia dentária totalmente compatível com a morfologia esperada deste antepassado”, sublinha Aida Gómez-Robles, da Universidade de George Washington, na capital norte-americana.
Separámo-nos há mais tempo?
O outro resultado da equipa é sobre a separação – evolutivamente falando – dos Neandertais e da nossa espécie. Enquanto os estudos genéticos estimam que os dois tipos de humanos se separaram há menos de 500 mil anos, o estudo dos fósseis tem apontado para uma separação há mais tempo.
E a análise da equipa vai agora nesse último sentido, uma vez que os cientistas consideram que os potenciais antepassados descobertos na Europa, como o Homo antecessor, partilharam afinidades morfológicas com os Neandertais há quase um milhão de anos. Isto significa que esses antepassados têm mais semelhanças morfológicas com os Neandertais do que com os humanos modernos, pelo que o ramo que levou aos Neandertais surgiu há cerca de um milhão de anos e a separação entre nós e eles ocorreu há mais tempo do que indicam os estudos genéticos. Algumas características dentárias dos Neandertais, sublinha-se no artigo científico, estavam já presentes no Homo antecessor, que depois lhas teria transmitido.
“Os nossos resultados chamam a atenção para grandes discrepâncias entre as estimativas moleculares e paleontológicas para a altura da divergência entre Neandertais e humanos modernos”, acrescenta Aida Gómez-Robles, citada num comunicado da Universidade do Indiana, também participante no estudo. “Estas discrepâncias não podem simplesmente ser ignoradas, têm de ser reconciliadas de algum modo.”
Este quebra-cabeças evolutivo poderá ser deslindado, se se encontrarem em África fósseis de espécies até agora desconhecidas e – sublinhe-se – com cerca de um milhão de anos. O problema é que, por enquanto, os fósseis humanos desta altura são pouco abundantes.
Ora se não há dúvida de que nós estamos cá e os Neandertais existiram realmente, estes resultados acabam por apontar uma nova direcção: “Este estudo diz-nos que ainda há novos hominíneos à espera de ser descobertos”, refere outro dos autores do artigo, David Polly, da Universidade do Indiana. “As descobertas de fósseis em África com um milhão de anos merecem um escrutínio apertado como possíveis antepassados comuns a Neandertais e humanos modernos.”