Arrotos de vaca: uma fonte de energia alternativa

Mochila nas costas das vacas criada para recolher os gases produzidos durante a digestão, permitindo a produção de biocombustível.

Foto
A mochila criada para recolher os gases digestivos das vacas DR

A produção de energia, para a indústria ou para os transportes, é a principal responsável pela emissão de gases com efeito de estufa, por estar ainda demasiado dependente da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão. Mas a produção animal representa também um dos grandes factores de emissão destes gases, contabilizando já 14,5% dos gases de efeito estufa devido às actividades humanas, segundo um relatório recente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês).

“Como os bovinos libertam gases com efeito de estufa para a atmosfera, propomos uma forma económica e prática de sequestrar essas emissões e utilizá-las como substituto energético”, anuncia Guillermo Berra, coordenador do grupo de Fisiologia Animal do Instituto Nacional de Tecnologia Agro-pecuária (INTA), em Castelar (na Argentina), num comunicado do instituto.

A retenção e o aproveitamento dos gases, em particular do metano, produzido pelas vacas, foram testados pelos investigadores do INTA, para reduzir a emissão de gases com efeito de estufa e contribuir para a produção de biocombustível, uma fonte de energia alternativa aos combustíveis fósseis. Solução de particular importância num país como a Argentina, um dos maiores consumidores e exportadores de carne de vaca do mundo.

Dispositivo experimental
O relatório da FAO reforça a importância de mitigar a emissão de gases com efeito de estufa na produção animal: 45% são emitidos durante a produção de alimento para os animais e 39% dizem respeito aos gases libertados pelos próprios animais como resultado dos processos digestivos. A produção de carne de vaca e de leite representam 65% dos gases da produção animal total.

Durante a digestão nas vacas, e restantes animais ruminantes, o alimento é forçado a passar em vários compartimentos, de forma a optimizar a digestão das fibras alimentares. No primeiro compartimento, o rúmen, inicia-se a digestão da celulose (açúcar complexo, constituinte das plantas), onde vários microrganismos degradam as paredes celulares vegetais. Resultam compostos essenciais ao animal, que serão absorvidos ou passarão ao próximo compartimento, o retículo. Gases como metano e dióxido de carbono são então libertados.

O INTA desenvolveu um dispositivo experimental, que canaliza os gases directamente do rúmen para um reservatório, noticiou a agência Reuters. É composto por um sistema de válvulas, bombas e tubos ligados a uma mochila de plástico, que está presa no dorso do animal. O tubo de ligação ao rúmen implicou uma incisão de apenas dois milímetros, com anestesia, e a mochila não pesa mais de 500 gramas.

300 litros de metano por dia
“Dependendo da alimentação e do tamanho do animal, uma vaca adulta poderá produzir 1200 litros de gases por dia, dos quais 250 a 300 são metano”, refere Guillermo Berra.

Estes gases assim obtidos serão sujeitos a um processo de purificação: retira-se o dióxido de carbono e o ácido sulfídrico, ficando um gás enriquecido em metano, que por sua vez poderá ser comprimido e engarrafado. “Naqueles lugares onde as redes [de energia] não chegam, os produtores teriam uma alternativa para cozinhar, iluminar as suas casas e, inclusivamente, abastecer os veículos”, afirma Guillermo Berra.

Ricardo Bualo, outro investigador do projecto, exemplifica o que se pode fazer com os cerca de 300 litros de metano libertados todos os dias pelas vacas: “Podem ser utilizados para pôr a funcionar, durante um dia, um frigorífico de 100 litros de capacidade, a uma temperatura entre os dois e os seis graus.”

Quando interrogado sobre as questões éticas e de bem-estar animal, o veterinário Guillermo Berra garante que todos os cuidados e respeito pelos animais foram tidos em consideração e que as vacas terão uma vida perfeitamente normal.
 
 
 

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A produção de energia, para a indústria ou para os transportes, é a principal responsável pela emissão de gases com efeito de estufa, por estar ainda demasiado dependente da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão. Mas a produção animal representa também um dos grandes factores de emissão destes gases, contabilizando já 14,5% dos gases de efeito estufa devido às actividades humanas, segundo um relatório recente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês).

“Como os bovinos libertam gases com efeito de estufa para a atmosfera, propomos uma forma económica e prática de sequestrar essas emissões e utilizá-las como substituto energético”, anuncia Guillermo Berra, coordenador do grupo de Fisiologia Animal do Instituto Nacional de Tecnologia Agro-pecuária (INTA), em Castelar (na Argentina), num comunicado do instituto.

A retenção e o aproveitamento dos gases, em particular do metano, produzido pelas vacas, foram testados pelos investigadores do INTA, para reduzir a emissão de gases com efeito de estufa e contribuir para a produção de biocombustível, uma fonte de energia alternativa aos combustíveis fósseis. Solução de particular importância num país como a Argentina, um dos maiores consumidores e exportadores de carne de vaca do mundo.

Dispositivo experimental
O relatório da FAO reforça a importância de mitigar a emissão de gases com efeito de estufa na produção animal: 45% são emitidos durante a produção de alimento para os animais e 39% dizem respeito aos gases libertados pelos próprios animais como resultado dos processos digestivos. A produção de carne de vaca e de leite representam 65% dos gases da produção animal total.

Durante a digestão nas vacas, e restantes animais ruminantes, o alimento é forçado a passar em vários compartimentos, de forma a optimizar a digestão das fibras alimentares. No primeiro compartimento, o rúmen, inicia-se a digestão da celulose (açúcar complexo, constituinte das plantas), onde vários microrganismos degradam as paredes celulares vegetais. Resultam compostos essenciais ao animal, que serão absorvidos ou passarão ao próximo compartimento, o retículo. Gases como metano e dióxido de carbono são então libertados.

O INTA desenvolveu um dispositivo experimental, que canaliza os gases directamente do rúmen para um reservatório, noticiou a agência Reuters. É composto por um sistema de válvulas, bombas e tubos ligados a uma mochila de plástico, que está presa no dorso do animal. O tubo de ligação ao rúmen implicou uma incisão de apenas dois milímetros, com anestesia, e a mochila não pesa mais de 500 gramas.

300 litros de metano por dia
“Dependendo da alimentação e do tamanho do animal, uma vaca adulta poderá produzir 1200 litros de gases por dia, dos quais 250 a 300 são metano”, refere Guillermo Berra.

Estes gases assim obtidos serão sujeitos a um processo de purificação: retira-se o dióxido de carbono e o ácido sulfídrico, ficando um gás enriquecido em metano, que por sua vez poderá ser comprimido e engarrafado. “Naqueles lugares onde as redes [de energia] não chegam, os produtores teriam uma alternativa para cozinhar, iluminar as suas casas e, inclusivamente, abastecer os veículos”, afirma Guillermo Berra.

Ricardo Bualo, outro investigador do projecto, exemplifica o que se pode fazer com os cerca de 300 litros de metano libertados todos os dias pelas vacas: “Podem ser utilizados para pôr a funcionar, durante um dia, um frigorífico de 100 litros de capacidade, a uma temperatura entre os dois e os seis graus.”

Quando interrogado sobre as questões éticas e de bem-estar animal, o veterinário Guillermo Berra garante que todos os cuidados e respeito pelos animais foram tidos em consideração e que as vacas terão uma vida perfeitamente normal.