As aventuras de Jorge Daniel no País Rasca

É uma página de humor escorreito e competente, com os truques típicos do humor, como os exageros ou as associações imprevistas

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Jorge Daniel

Jorge Daniel é uma página humorística nascida há uns anos num blogue, com segundo fôlego no Facebook, criada por anónimo ou anónimos. O seu protagonista é um jovem natural da zona de Fátima, que escreve para um jornal regional, faz videoclips de casamentos e batizados, é amigo de donos de stands automóveis e DJs, se julga um engatatão e está emigrado em França onde passa música em festas.

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Jorge Daniel é uma página humorística nascida há uns anos num blogue, com segundo fôlego no Facebook, criada por anónimo ou anónimos. O seu protagonista é um jovem natural da zona de Fátima, que escreve para um jornal regional, faz videoclips de casamentos e batizados, é amigo de donos de stands automóveis e DJs, se julga um engatatão e está emigrado em França onde passa música em festas.

É uma página de humor escorreito e competente, com os truques típicos do humor, como os exageros ou as associações imprevistas, e que explora aquele Portugal que encontramos nos filmes de João Canijo ou no livro "A Rua da Estrada", de Álvaro Domingues. Ou seja: o Portugal das estradas nacionais, dos stands de automóveis usados, das discotecas manhosas, das boîtes no meio da mata, dos restaurantes de bitoque, das vivendas com torreões e telhados em bico, dos estabelecimentos que vendem equipamento para piscinas e relvados, das pedreiras abandonadas, dos concertos de música pimba, das mulheres muito pintadas à espera na berma da estrada. É o Portugal pobre, piroso e provinciano que perfaz dois terços do país, mas que não aparece nos postais turísticos e só surge na televisão quando é devastado por incêndios ou crimes sórdidos.

Só que, ao contrário da raiva de Canijo ou da ironia mordaz de Domingues, Jorge Daniel não tem problemas com esse estado de coisas. O seu humor é virado para os estereótipos e não para as causas, pretende entreter e sossegar quem se sente longe e abrigado desse mundo e não apontar dedos ou incomodar poderes instituídos.

E talvez isso seja o mais triste deste humor de Jorge Daniel: é um humor que se conforma, que banaliza, que institui como inevitável e inócua a pobreza material e espiritual de grande parte do país, e segue cantando e rindo – ou talvez passando música pimba e rindo – enquanto mais um mamarracho nasce, mais uma família emigra e mais uma reserva natural arde.