Queres ser muito feliz numa horta?
Marc Estévez Casabosch ensina-te como no livro "Uma Horta Para Ser Feliz". Não importa se só tens uma varanda ou um pequeno saguão: cultiva o teu próprio jardim comestível e semeia felicidade
Há dez anos, deixou Barcelona sem olhar para trás e foi viver para os Pirinéus catalães. Reza a lenda que, apesar da formação em botânica, nem uma batata sabia cultivar — mas tudo se aprende. Hoje, Marc Estévez Casabosch tem 32 anos, uma mulher e um filho e tudo (ou quase) o que entra na cozinha daquela casa vem daquela terra. Por isso, espalha a mensagem: uma horta traz felicidade e qualquer pessoa, tenha uma casa grande ou pequena, pode ser feliz, por apenas 15 minutos por dia. No livro "Uma Horta Para Ser Feliz", editado este mês em Portugal pela Arte Plural, Marc explica tudo. Dos períodos de semeadura e colheita (adaptado à realidade portuguesa) à fertilidade da terra e ao poder da Lua. Tens um jardim, um pátio ou um terraço? Adopta duas galinhas. "Felizes", claro. Por uma vida saudável e um novo estilo de vida. Pelas respostas enviadas por e-mail ao P3, nota-se que Marc, para além da horticultura, da produção de cogumelos (é um especialista), dos livros e das palestras, quer mudar o mundo. Ou já o mudou.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Há dez anos, deixou Barcelona sem olhar para trás e foi viver para os Pirinéus catalães. Reza a lenda que, apesar da formação em botânica, nem uma batata sabia cultivar — mas tudo se aprende. Hoje, Marc Estévez Casabosch tem 32 anos, uma mulher e um filho e tudo (ou quase) o que entra na cozinha daquela casa vem daquela terra. Por isso, espalha a mensagem: uma horta traz felicidade e qualquer pessoa, tenha uma casa grande ou pequena, pode ser feliz, por apenas 15 minutos por dia. No livro "Uma Horta Para Ser Feliz", editado este mês em Portugal pela Arte Plural, Marc explica tudo. Dos períodos de semeadura e colheita (adaptado à realidade portuguesa) à fertilidade da terra e ao poder da Lua. Tens um jardim, um pátio ou um terraço? Adopta duas galinhas. "Felizes", claro. Por uma vida saudável e um novo estilo de vida. Pelas respostas enviadas por e-mail ao P3, nota-se que Marc, para além da horticultura, da produção de cogumelos (é um especialista), dos livros e das palestras, quer mudar o mundo. Ou já o mudou.
Cada vez mais pessoas estão a cultivar em casa para auto-consumo. A que se deve esta tendência? Moda ou necessidade?
Estamos numa mudança de ciclo. Não se trata somente da crise económica, como demasiadas vezes é dito, mas sim de estarmos a viver uma crise social e emocional de um sistema chamado capitalismo que está a dar os últimos cartuchos. Este ambiente respira-se e cada vez mais pessoas querem dar a sua mensagem, mostrar outra forma de pensar para construir algo novo. Com a nossa horta, seja grande, pequena ou minúscula, estamos a contribuir para um planeta mais digno, justo e habitável. Por sua vez, ajuda a manter o equilíbrio emocional da unidade familiar, a trabalhar valores como a paciência e a persistência, pouco comuns na sociedade em que vivemos. E também é essencial o seu valor como fonte de alimentos saudáveis e biológicos.
Dizes que bastam 15 minutos por dia para tratar da horta, mas no dia-a-dia nem sempre é fácil organizar horários. Quais são as motivações?
Se o encararmos como algo importante na nossa vida, arranjaremos esses 15 minutos. No fim de contas, toda a gente dispõe desse tempo, só é preciso integrá-lo na nossa rotina. É esta a maior garantia de êxito porque o trabalho é feito quase sem esforço, já que as tarefas não se acumulam. É a chave para que não chegue o dia em que muitas tarefas pequenas se converteram numa enorme que nos pede horas e horas do nosso tempo.
Quem vive num apartamento, apenas com uma pequena varanda, o que deve cultivar?
A relação é simples: em espaços reduzidos, plantas pequenas. Ou seja, se temos uma varanda pequena, podemos esquecer grande vegetais como abóboras, melancias ou melões para nos centrarmos em culturas que são produtivas sem precisarem de muito espaço, como espinafres, alfaces, chicória, rúcula, canónigos, cenoura. Se queremos plantar tomates ou leguminosas, como feijão ou ervilhas, devemos escolher as variedades rasteiras porque ocupam menos espaço e não é preciso estacá-las.
Quando foste viver para o campo não sabias sequer cultivar uma batata. Como aprendeste?
Se a natureza me deu duas mãos e um punhado de neurónios foi para usá-los. No fim de contas, o cultivo de alimentos é a profissão mais antiga de todas; há 10 mil anos as antigas civilizações já o faziam. Assim, com entusiasmo e paixão, dois elementos básicos da minha vida, fui praticando, estudando, investigando e aprendi. Tenho formação em botânica, por isso foi fácil relacionar conceitos e adaptar o que acontece numa floresta para um terreno de cultivo. É também por isso que a técnica que proponho é tentar imitar a natureza: não lavrar (ou fazê-lo o mínimo possível), alcochoar sempre que possível para evitar deixar a terra nua, etc. Além disso, de certo modo, penso que o facto de não saber nada também ajudou porque me permitiu fazer tudo à minha maneira, sem pressões ou preconceito. Aquilo que poderia parecer uma desvantagem é, na realidade, uma sorte. Vês com olhos de criança, com toda a inocência e humildade, e isso cria um clima mental perfeito para a aprendizagem.
O que é que um jardim comestível ensina?
Quando começas a cultivar, cada dia é uma descoberta. O próprio desenvolvimento das plantas, na verdade, já o é. E observar com atenção todas as interacções e movimentos que se vão sucedento ao longo do ano na horta é uma lição digna da melhor universidade. Depois, levar para a cozinha aquilo que durante semanas, meses ou anos antes semeaste com as tuas mãos é uma sensação que todo o ser humano devia experimentar. Depois, quando estás na cozinha tomas consciência dos valores que se escondem nos alimentos que tens em mãos, alimentos que chegaram a bom porto graças à energia que tu e o ambiente depositaram neles; abraça-te uma sensação de bem-estar difícil de contar através das palavras.