O “leal e estável” Juncker procura reeleição no Luxemburgo

O Grão-ducado vai hoje a eleições antecipadas, depois de o Governo de Juncker ter perdido o apoio dos socialistas

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Juncker vem a Portugal a 17 de Maio GEORGES GOBET/AFP

Um escândalo que envolveu os serviços secretos do Grão-ducado precipitou a queda do Governo do CSV (democracia cristã) de Juncker, que viu o seu parceiro de coligação, os socialistas do LSAP, retirar-lhe o apoio. Com um Governo minoritário, as eleições foram antecipadas sete meses. Para um país onde apenas por uma vez o CSV não ganhou as eleições desde a Segunda Guerra Mundial, estes têm sido meses bem agitados.

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Um escândalo que envolveu os serviços secretos do Grão-ducado precipitou a queda do Governo do CSV (democracia cristã) de Juncker, que viu o seu parceiro de coligação, os socialistas do LSAP, retirar-lhe o apoio. Com um Governo minoritário, as eleições foram antecipadas sete meses. Para um país onde apenas por uma vez o CSV não ganhou as eleições desde a Segunda Guerra Mundial, estes têm sido meses bem agitados.

Naquele que é um país amante de estabilidade política, um Governo sem o CSV é um cenário improvável, mas o jogo das coligações pode ditar uma derrota aos democratas cristãos mesmo que estes sejam os mais votados. As últimas sondagens, efectuadas ainda durante o Verão, revelam uma perda de três lugares do CSV para o Partido Democrático (liberais), que ultrapassa assim os socialistas. Num parlamento com apenas 60 lugares, esta pequena variação pode ser crucial.

À partida, os liberais devem coligar-se com os Verdes, com quem governam a cidade de Luxemburgo. Mas, para deixar Juncker de fora do Governo, os socialistas teriam de alinhar num acordo a três, rompendo uma relação governativa que esteve no poder 25 dos últimos 30 anos. Estabilidade, mais uma vez. Perante uma luta “contra todos”, o CSV joga a cartada que melhor conhece: Juncker. Os luxemburgueses já o conhecem, sabem com o que podem contar. Não é à toa que a campanha para a sua reeleição tem o slogan “Justo e Estável”, assumindo contornos quase presidenciais.

Uma mudança de fundo aguarda o Luxemburgo. Aquela que é a segunda praça financeira do mundo em termos de investimentos estrangeiros tem no horizonte o fim do sigilo bancário, um regime que tem atraído dinheiro de todo o mundo. Outra questão aflorada pela imprensa local é o alargamento do direito de voto nas legislativas aos estrangeiros. Num país em que 40% da população não é nacional (e 13% é portuguesa) esta é uma questão que se reveste de todo o interesse.

Mas, mais que umas eleições legislativas, aquilo a que se vai assistir hoje “é um referendo a favor ou contra Juncker”, escrevia o diário francófono L’Essentiel, na semana passada. O discurso dos seus opositores centra-se na culpabilização do primeiro-ministro pela subida do desemprego, que está perto dos 7%, e pela dívida galopante. No Grão-ducado ninguém perdoa Juncker pela atenção excessiva que deu à gestão da crise económica europeia, ao mesmo tempo que deixou os problemas internas para segundo plano.

O receio de que Juncker volte a ocupar um posto na hierarquia europeia e a história se repita é alimentado pelos rumores de que possa vir a suceder a Herman Van Rompuy, à frente do Conselho. Mas é o próprio, num tom algo poético, que assegura o seu total compromisso com o Luxemburgo: “Os comboios passam, mas eu já não estou no cais”.