Estudante cigana expulsa pode regressar a França, mas sozinha, diz Hollande

Presidente francês fala depois de inquérito determinar que expulsão de Leonarda foi feita “conforme a legislação em vigor”.

Foto
Leonarda Dibrani, já em Mitrovica Hazir Reka/REUTERS

Hollande diz que tomou a decisão por uma questão de “humanismo”, sublinhando que “não foi violada nenhuma regra” na expulsão da família, diz o site da revista L'Express.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Hollande diz que tomou a decisão por uma questão de “humanismo”, sublinhando que “não foi violada nenhuma regra” na expulsão da família, diz o site da revista L'Express.

A expulsão controversa da estudante Leonarda para o Kosovo, que provocou protestos de estudantes do ensino secundário em França, foi feita “conforme a legislação em vigor”, segundo um inquérito que tinha sido pedido pelo Ministério do Interior, divulgado pouco antes.

Leonarda Dibrani, 15 anos, foi levada pela polícia quando participava, com a sua turma, numa visita de estudo, por estar em França em situação ilegal. Horas depois, no dia 9 de Outubro, a sua família, de etnia cigana, já estava no Kosovo. A revista L'Express dava conta da sua reacção à proposta de Hollande: "Não vou para França sozinha", disse Leonarda."Não vou abandonar a minha família."

No entanto, o inquérito diz que as forças de segurança não mostraram “o discernimento necessário” ao interpelarem a jovem durante a excursão. O relatório recomenda que as intervenções da polícia não possam ser feitas durante o horário de actividades escolares.

A expulsão de Leonarda, e também de um outro aluno, o arménio Khatchik Kachatryan, estudante de 19 anos, que ao chegar à Arménia foi imediatamente convocado para fazer o serviço militar obrigatório, provocaram protestos. Entre 4000 e 12 mil estudantes (números da polícia e dos organizadores, respectivamente) manifestaram-se na sexta-feira em Paris, exigindo o regresso de alunos expulsos. "Queremos papéis para todos!", gritaram, e exigiram a demissão do ministro do Interior, o socialista Manuel Valls, responsável pelo programa de repatriamentos.

Mas segundo o Libération, dois terços dos franceses não querem que Leonarda regresse a França. A sua família foi instalada pelas autoridades kosovares em Mitrovica, onde os filhos não frequentam a escola porque não falam sérvio nem albanês.

Que nacionalidade têm os Dibrani?
O pai, Resat Dibrani, contou numa entrevista à AFP que apenas ele é kosovar. Os filhos nasceram em Itália, mas isso não é suficiente para obter nacionalidade italiana. De qualquer forma, diz o pai na entrevista, ele diz que queimou os documentos, achando que assim era mais fácil pedir asilo.

Uma das filhas, de 17 meses, nasceu em França e teria nacionalidade francesa. Mas o resto da família, tendo deixado a Itália, não poderia tentar pedir nacionalidade italiana, e França considerou que os documentos apresentados sugerindo perigo para a sua vida no Kosovo não eram fiáveis. Foram considerados migrantes por motivos económicos e não perseguidos politicamente.

O ministro do Interior Vals antecipou o regresso de uma viagem que tinha marcado às Antilhas, para ouvir hoje as conclusões do inquérito.

A polémica sobre a expulsão de Leonarda (aumentada pela forma como foi feita) abriu uma crise entre os socialistas no poder. O partido está dividido sobre os programas de repatriamento de cidadãos que estejam em França ilegalmente, mas Manuel Valls, antes de partir para as Antilhas, disse que não os iria mudar.