John Boehner, o derrotado
O "homem de consensos" é tido como o grande vencido na batalha entre Obama e os republicanos do Tea Party
Aos 63 anos de idade, mais de 20 passados nos corredores do Congresso norte-americano, John Boehner sempre se gabou de ser um "homem de consensos", assente numa capacidade de negociação que já levou o Presidente dos EUA, Barack Obama, a perder a paciência em várias ocasiões nos últimos dois anos.
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Aos 63 anos de idade, mais de 20 passados nos corredores do Congresso norte-americano, John Boehner sempre se gabou de ser um "homem de consensos", assente numa capacidade de negociação que já levou o Presidente dos EUA, Barack Obama, a perder a paciência em várias ocasiões nos últimos dois anos.
Em 2011, quando as discussões sobre o aumento da capacidade de endividamento também deixaram o país a um passo do precipício orçamental, Obama telefonou a Boehner e garantiu que não iria assinar nenhuma proposta que não incluísse o aumento do limite da dívida. A resposta do então recém-eleito speaker da Câmara dos Representantes já deixava antever a batalha que se repetiria em 2012 e 2013: "Tudo tem um preço. E eu vou usar o limite da dívida para obter concessões que não conseguiria obter de outras formas."
Os pormenores da conversa entre os dois líderes foram contados no mês passado pelo jornalista Bob Woodward nas páginas do The Washington Post. "Não me desligues o telefone", disse Obama, depois de ter desabafado que "já não há estômago para esta porcaria".
Nascido numa família pobre no estado do Ohio, um entre 12 irmãos, John Boehner começou a trabalhar aos oito anos de idade no bar da família. A capacidade de negociação e de alcançar compromissos foi conquistada muito cedo, à força da fragilidade das condições de vida. Um dos seus irmãos, Bob Boehner, explicou à ABC, em 2010, como é que o pequeno John se transformou no duro negociador que provocou insónias a Obama e a 800.000 funcionários do Governo federal que ficaram com os ordenados suspensos por causa do shutdown de 1 de Outubro: "É preciso aprender a fazer concessões quando só há uma casa de banho."
Habituado a obter contrapartidas da Casa Branca nos últimos dois anos, John Boehner voltou a apostar este ano na mesma equação, mas desta vez parece não ter conseguido determinar o valor de duas incógnitas a tempo de resolver o problema. Primeiro, até onde estaria disposto Barack Obama a chegar na sua intransigência, após ter garantido a reeleição para o seu segundo e último mandato; e, depois, até onde estariam dispostos a chegar os membros mais radicais do Partido Republicano na sua luta contra o financiamento do programa para a cobertura obrigatória com seguros de saúde, mais conhecido como "Obamacare".
Há apenas seis meses, John Boehner, "o homem que prefere gerir os resultados a defini-los", como descreveu o antigo congressista republicano Chris Chocola à revista New York Magazine, não imaginava que viria a ser ultrapassado pela direita no interior do seu próprio partido.
"Como é que o Partido Republicano se transformou num clube kamikaze controlado por um punhado de sequestradores radicais obcecados com a ideia de lançar o caos para destruir a presidência de Barack Obama?", perguntava na semana passada David Corn, editor da revista The Nation e colunista da Mother Jones, uma publicação de esquerda.
Depois de os membros do Partido Republicano ligados ao movimento Tea Party terem deixado claro que qualquer concessão à Casa Branca teria consequências para a sua liderança, a margem de manobra de Boehner ficou cada vez mais reduzida. Agora resta saber se vai manter o seu emprego.
Texto adaptado de um perfil publicado na edicão imprensa de dia 14 de Outubro de 2013