Por Abril, contra a exploração e o empobrecimento
É a resposta oportuna a uma situação cada vez mais degradada. Faltando poucas horas para a apresentação formal do Orçamento do Estado para 2014, já se sabe que o que aí vem é mais exploração e mais pobreza.
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É a resposta oportuna a uma situação cada vez mais degradada. Faltando poucas horas para a apresentação formal do Orçamento do Estado para 2014, já se sabe que o que aí vem é mais exploração e mais pobreza.
Do caminho que o Pacto de Agressão das troikas impõe ao país, já sabemos todos o resultado: um milhão e meio de portugueses no desemprego, pobreza a alastrar a sectores que nunca imaginaram vivê-la, o país desrespeitado e humilhado.
O Orçamento do Estado para 2014 é mais dessa dose: cortes brutais na protecção social à infância, à velhice, à doença, ao desemprego; cortes brutais nos serviços públicos, com consequências dramáticas na vida de milhões de portugueses, agora e no futuro; mais afundamento no plano económico, com uma dívida que não pára de crescer e já ultrapassa os 130% do PIB.
Por mais que o Governo e os poucos que ainda o apoiam digam que o caminho é duro mas inevitável, que se vislumbra a retoma, ou que interromper a política agora seria desperdiçar os sacrifícios feitos, a verdade é que o país está cada vez pior. Persistir nos erros não é sinal de coragem nem de determinação. É sinal de uma subordinação tão grande aos interesses do FMI, do BCE, da União Europeia, dos grandes grupos económicos e financeiros, que nada mais importa. Nem as vidas de milhões de pessoas, nem a soberania de um país com nove séculos.
O Governo deu, a propósito desta acção, em particular da de Lisboa, passos novos de tentativa de condicionamento e limitação dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Ao invocar questões de segurança que nunca foram colocadas noutras acções que incluíram a passagem da ponte 25 de Abril por dezenas de milhares de peões, o Governo só aparentemente mostra autoridade. Na verdade, expõe-se em toda a sua fragilidade, porque assume que não sobreviverá às imagens de uma ponte 25 de Abril cheia de um povo que exige a sua demissão. Uma tentativa desesperada de evitar dar visibilidade a uma ainda maior escala de massas ao descontentamento popular e ao isolamento do Governo, cada vez mais óbvio. Uma tentativa patética, porque a CGTP, os trabalhadores, o povo português não deixarão de exprimir todo o seu descontentamento e vontade de mudança no próximo sábado.
Marchar por Abril tem um significado profundo, que o povo português conhece bem. Abril é sinónimo de liberdade, democracia, igualdade, desenvolvimento, independência. Mas também de escola pública para todos, acesso a um dos melhores serviços de saúde do mundo, protecção social para os mais vulneráveis, emprego com direitos, direito à cultura, à mobilidade, ao desporto.
Talvez o Governo e quem nele manda esperasse que 40 anos fossem suficientes para que o povo se esquecesse do que significa Abril. Nada mais errado: Abril é presente e futuro, construído com a força do protesto, da luta e dos sonhos de muitas gerações, incluindo das que já nasceram depois. E é isso que eles não podem perdoar, mas que também não podem impedir.
Margarida Botelho é membro da Comissão Política do Comité Central do PCP