Gabriela Ruivo Trindade: "O blogue de família tinha material para um livro"
A autora já tinha tentado publicar o seu romance e está grata à editora que o recusou por lhe ter dito que era demasiado extenso. Fez “grandes cortes” e a versão revista ganhou o Prémio Leya.
Psicóloga de profissão, mas actualmente no desemprego, a vencedora do Prémio Leya nasceu em Lisboa há 43 anos, é casada e mãe de dois filhos, e vive em Londres desde 2004. Começou a escrever Uma Outra Voz em 2008, quando percebeu que a história de um tio-avô da sua avó materna talvez desse um livro. Diz ter demorado três anos a escrever este seu romance de estreia, que a Leya publicará em 2014.
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Psicóloga de profissão, mas actualmente no desemprego, a vencedora do Prémio Leya nasceu em Lisboa há 43 anos, é casada e mãe de dois filhos, e vive em Londres desde 2004. Começou a escrever Uma Outra Voz em 2008, quando percebeu que a história de um tio-avô da sua avó materna talvez desse um livro. Diz ter demorado três anos a escrever este seu romance de estreia, que a Leya publicará em 2014.
As famílias materna e paterna de Gabriela Ruivo Trindade são ambas de Estremoz, no Alentejo, e o tio-trisavô que está na origem deste livro foi mesmo o responsável pela proclamação da república na então vila alentejana, após o 5 de Outubro de 1910. “A minha avó falava muito dele, mas eu era criança e não dava muita atenção”, diz a autora para explicar que é na verdade bastante pouco o que sabe ao certo sobre este seu antepassado, que morreu nonagenário em 1954. Mas se a avó foi a sua primeira fonte para notícias relativas a este antepassado, não foi a única. “Como a minha família é muito grande, criámos um blogue para os primos e tios todos se poderem manter em contacto, e foi aí que começaram a aparecer muitas histórias acerca deste homem.” À medida que as ia lendo, Gabriela Ruivo Trindade começou a achar que “tinha ali material para um livro”.
O seu romance “é composto por várias histórias que giram à volta de um personagem principal”, inventado a partir do que foi sabendo da biografia real deste parente. E uma das coisas que soube é que o seu tio-trisavô esteve emigrado em Angola no início do século. “A única coisa que resta desse período são as fotografias”, diz. “Havia também um diário, mas perdeu-se.” Gabriela Ruivo Trindade reproduziu as fotografias no livro, mesclando-as com a ficção, e no final do romance reinventa o diário perdido, numa “tentativa de encarnar o personagem”.
O livro, que decorre em vários cenários, de Estremoz e Lisboa a África, usa uma estrutura polifónica em que a figura do protagonista vai emergindo de histórias contadas por diversas vozes. “Não há muita acção em directo”, explica a autora, “é quase tudo em diferido”. Uma opção que acaba de algum modo por reproduzir o modo como a própria romancista se foi inteirando da vida do seu antepassado.
Gabriela Ruivo Trindade diz que começou a redigir histórias ainda em criança, pouco depois de ter aprendido a escrever, e basta dar uma vista de olhos aos vários blogues que mantém ou com os quais colabora – o principal chama-se "far far away" (http://papuinlondon.blogspot.pt) – para se perceber que é uma escritora compulsiva. Mas descontado um conto, Juba, publicado na Letrário, uma editora online, e de um outro texto que o Jornal de Leiria premiou e publicou, é uma autora inédita. Em papel, já que os seus blogues incluem micronarrativas, comentários de leitura, e até poemas, além de uma profusão de textos de natureza menos facilmente classificável.
Como o Prémio Leya costuma ser anunciado mais tarde, Gabriela diz que foi apanhada completamente de surpresa pelo telefonema matinal de Manuel Alegre a informá-la de que o júri escolhera o seu romance. “Estava mesmo a leste”, garante. Reconhece, todavia, que tinha “a esperança de que o livro chegasse chegasse aos finalistas”.
Em declarações à Lusa, diz ainda que se vinha dedicando ultimamente ao artesanato, mas que o dinheiro do prémio lhe permitirá “dedicar-se mais à escrita”. Além de Uma Outra Voz, tem um outro romance para acabar e, garantiu ao público, “uma gaveta cheia de contos e outras coisas”.