Portugal Clube Sporting (ou a parábola das alternativas democráticas)

Façamos o exercício de substituir Sporting pela palavra Portugal. A história é a mesma: a banca é a Troika, Godinho Lopes é Passos Coelho e a nossa falência de resultados é o decrescimento económico, o aumento do desemprego e a infelicidade do povo

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Ricardo Jorge Carvalho

Não, não sou sportinguista nem venho aqui falar de futebol. Ou melhor, vou apenas servir-me do que está acontecer no Sporting Clube de Portugal, para fazer uma parábola: a parábola das alternativas democráticas.

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Não, não sou sportinguista nem venho aqui falar de futebol. Ou melhor, vou apenas servir-me do que está acontecer no Sporting Clube de Portugal, para fazer uma parábola: a parábola das alternativas democráticas.

O Sporting tem passado a última década da sua existência agonizado: endividado, mal gerido, sem resultados no futebol, eis o Sporting dos últimos tempos. Na época transacta, obteve a sua pior classificação de sempre no campeonato e apresentava uma situação económico-financeira devastadora. Mas isso foi apenas o culminar de uma estratégia de gestão incompetente que sucessivas direcções acabaram por pôr em prática.

Quando Godinho Lopes assumiu a presidência do clube, vencendo por margem mínima o seu concorrente eleitoral Bruno de Carvalho, a "intelligentsia" sportinguista dizia que Godinho Lopes era a única solução credível, que Bruno Carvalho era a aposta no incerto, na irresponsabilidade, na falência. O clube estava tão endividado e tão limitado financeiramente que tinha que ter uma direcção “eleita” pela banca e esperar que os cortes e o desinvestimento na equipa acabassem por resultar num qualquer milagre desportivo e financeiro que tirassem o Sporting do buraco em que se encontrava.

José Eduardo Bettencourt já tinha saído porque o clube estava mal. Godinho Lopes entrou para tentar salvar na continuidade. E cumpriu, mas apenas a segunda parte, a da continuidade… Quanto a salvações, estamos conversados: o Sporting viveu, sob seu comando, um dos piores momentos da sua história. No meio da turbulência, com resultados desportivos catastróficos e com as finanças em colapso, Godinho Lopes agarrou-se, o mais que pôde, ao poder, com a desculpa de que tinha condições para cumprir o mandato até ao fim e que as alternativas a si (com eleições antecipadas) eram a falência, o fim do clube, a morte… Por isso não se podia dar voz democrática aos sócios que haviam de votar irresponsavelmente num qualquer candidato salvífico, demagogo e populista. Mas as asneiras foram tantas e as contestações tamanhas que Godinho Lopes teve que ceder e os sócios puderam votar. E lá votaram naquele que todos diziam ser o vigarista que ia arruinar o Sporting, aquele em quem a banca não confiava.

Bruno de Carvalho entrou e começaram as mudanças: sim houve cortes no clube (mas principalmente nas mordomias, nos gastos supérfluos ou nos salários despropositados) mas houve uma renegociação dura com a banca em que o Sporting, afinal, conseguiu fazer valer algumas das suas posições. Depois, veio a reestruturação do departamento de futebol, a contratação de um treinador novo e a afirmação pessoal de uma liderança carismática. Resultado: com um orçamento controlado, o Sporting teve, esta época, um dos melhores arranques de campeonato da sua história e até já tem o melhor marcador da liga.

Façamos, agora, o exercício de substituir Sporting pela palavra Portugal. A história é a mesma: a banca é a Troika, Godinho Lopes é Passos Coelho e a nossa falência de resultados é o decrescimento económico, o aumento do desemprego e a infelicidade do povo. Falta-nos a alternativa mobilizadora… Mas a lição é esta: as mudanças democráticas podem provocar alterações drásticas nos resultados! Bem sei que num clube de futebol tudo é mais simples pois que um novo campeonato começa a cada nova época. Num país, temos que combater os atrasos acumulados e não basta um bom dirigente, precisamos de muitos (leia-se agentes políticos e económicos de qualidade). Mas aqueles que dizem que estamos num beco sem saída e que não há outras formas de lidar com a actual crise de Portugal não entendem o funcionamento de uma democracia e não percebem que as alternativas são sempre possíveis.

Portugal precisa de líderes carismáticos que gostem da nação e que queiram o seu desenvolvimento, precisa de renegociar a dívida e tem que travar os cortes cegos que nos conduzem a uma espiral recessiva (apostando em cortar as verdadeiras gorduras como as rendas da energia ou os contractos da PPP). Se esses líderes aparecerem, estou certo de que o povo, democraticamente, os elegerá.