Alice Munro: a mestre do conto

A prémio Nobel da Literatura deste ano, a canadiana Alice Munro, recebeu o prémio por ser “uma mestre da ficção curta contemporânea”. Só isto. E talvez seja elogio suficiente

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Ralph Orlowski/Reuters

Os galardoados com prémios Nobel da Literatura dos últimos anos receberam o seu prémio por: “criar novas partidas, aventuras poéticas e êxtase sensual e explorar a humanidade além e abaixo da civilização reinante”, “através da concentração de poesia e honestidade da prosa representar a paisagem do desapossamento”, “pela cartografia das estruturas do poder e imagens mordazes da resistência, revolta e derrota individual”, "porque através das suas imagens translúcidas condensadas nos dá uma nova visão da realidade” e por “usar um realismo alucinatório que funde os contos de fadas, a história e o contemporâneo”. Mas a prémio Nobel da Literatura deste ano, a canadiana Alice Munro, recebeu o prémio por ser “uma mestre da ficção curta contemporânea”.

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Os galardoados com prémios Nobel da Literatura dos últimos anos receberam o seu prémio por: “criar novas partidas, aventuras poéticas e êxtase sensual e explorar a humanidade além e abaixo da civilização reinante”, “através da concentração de poesia e honestidade da prosa representar a paisagem do desapossamento”, “pela cartografia das estruturas do poder e imagens mordazes da resistência, revolta e derrota individual”, "porque através das suas imagens translúcidas condensadas nos dá uma nova visão da realidade” e por “usar um realismo alucinatório que funde os contos de fadas, a história e o contemporâneo”. Mas a prémio Nobel da Literatura deste ano, a canadiana Alice Munro, recebeu o prémio por ser “uma mestre da ficção curta contemporânea”.


Só isto: “mestre da ficção curta contemporânea”. E talvez seja elogio suficiente, pois a arte de contar uma história breve e cativante é das artes mais exactas e difíceis de dominar: aquela em que, dizia Edgar Allan Poe, “não pode haver uma palavra a mais ou a menos” para se conseguir o efeito encantatório de prender a atenção do leitor.


Com veneráveis antecedentes nas histórias em redor da fogueira, no "Decameron", nas "Mil e Uma Noites", nas "Novelas Exemplares", o conto tornou-se — juntamente com o folhetim — a forma literária por excelência da revolução industrial e dela participaram alguns dos mais importantes escritores dos últimos séculos: Heinrich von Kleist, Edgar Allan Poe, Guy de Maupassant, Machado de Assis, Ambrose Bierce, Anton Tchékhov, Ivan Turgenev, Nikolai Gogol, James Joyce, Franz Kafka, Jorge Luis Borges, Robert Walser, Juan Rulfo, Ernest Hemingway, Raymond Carver, Flannery O’Connor, Donald Barthelme e muitos outros.


A força do conto é hoje tão reconhecida que surgiram os estudos da narrativa, os estudos das formas breves, os estudos das narrativas sociais, as narrativas de género, as narrativas empresariais, as narrativas motivacionais, as narrativas curativas, a programação neurolinguística e muitos outros campos que procuram entender, dominar e utilizar a força encantatória de contar histórias.


E, no entanto, o conto continua a ser visto como uma forma menor, um treino para narrativas de maior fôlego, quando na verdade é um género autónomo que, ao contrário do romance, comprime o tempo, e nos faz viver, em poucas páginas e poucos minutos, vidas inteiras de sonho, frustração, isolamento, perda e deslumbramento fugaz, como vivem as personagens das histórias de Alice Munro. E, se escrever essas histórias parece fácil, pelo menos o Comité da Nobel da Literatura está convencido do contrário, para achar que saber contá-las é justificação suficiente para o maior prémio literário do mundo.