Ciência dos EUA em stand-by com a crise orçamental
Dezenas de milhares de funcionários de instituições científicas governamentais têm sido forçados a ficar em casa, fechando laboratórios e institutos pelos EUA, enquanto o Orçamento do país para 2013/2014 não for aprovado.
Este impasse político – que tem no centro a recusa dos republicanos em aprovar o Orçamento dos EUA para 2013/2014 se a entrada do programa de saúde Barack Obama (Obamacare) não for adiada por um ano – está a obrigar a manter em casa 800.000 funcionários norte-americanos. Em resultado disso, o país vive uma paralisia parcial das instituições dependentes do Governo, incluindo a maioria dos trabalhadores da NASA. Dos 18.000 funcionários da agência espacial, 97% não pode trabalhar, noticiava a Reuters.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Este impasse político – que tem no centro a recusa dos republicanos em aprovar o Orçamento dos EUA para 2013/2014 se a entrada do programa de saúde Barack Obama (Obamacare) não for adiada por um ano – está a obrigar a manter em casa 800.000 funcionários norte-americanos. Em resultado disso, o país vive uma paralisia parcial das instituições dependentes do Governo, incluindo a maioria dos trabalhadores da NASA. Dos 18.000 funcionários da agência espacial, 97% não pode trabalhar, noticiava a Reuters.
Mas muitas outras instituições ou já estão fechadas ou preparam-se para o fazer nos próximos dias, se o impasse continuar. O Departamento de Energia dos Estados Unidos prepara-se para encerrar os laboratórios responsáveis pelas armas nucleares e de investigação nuclear, refere o site da revista Nature: até ao final deste mês de Outubro, pelo menos três laboratórios nacionais – Los Alamos, Sandia e Argonne – vão fechar.
Um cenário parecido repete-se no Observatório Nacional de Astronomia Óptica (no Arizona), que gere um conjunto de telescópios no solo. Ou nas estações de investigação na Antárctida, de onde cientistas e operadores estão a ser chamados de volta. Se a evacuação das estações de McMurdo, Amundsen-Scott e Palmer for entretanto finalizada, tal implicará o fim das actividades científicas no terreno na campanha dos EUA na Antárctida deste ano. Manter-se-á nas estações apenas o pessoal mínimo, tal como acontece geralmente de Março a Setembro, durante o Inverno antárctico.
Nas universidades, os cientistas também não conseguem ter acesso a bases de dados importantes ou a fundos, pelo que o seu trabalho acaba por ser afectado.
Perante este cenário de ciência em espera, a directora da revista Science tinha alertado, num editorial de 3 de Outubro, para as consequências desta paragem. “Passaram-se 17 anos desde o último shutdown, também devido a uma questão médica (o Medicare)”, lembrava Marcia McNutt, antiga directora dos Serviços Geológicos (USGS). “Como líder dos USGS durante o primeiro mandado do Presidente Obama, ajudei a preparar numerosos planos de shutdowns para o que, tristemente, se tornou um exercício anual, mas felizmente nunca tive de pôr nenhum em prática”, escrevia Marcia McNutt.
“As regras governamentais para o shutdown são tão rigorosas que muitos cientistas não são autorizados a continuar o seu trabalho mesmo como voluntários sem pagamento. Não têm qualquer acesso às suas instalações ou aos seus computadores governamentais. Experiências são interrompidas, séries temporais são quebradas, a continuidade é destruída, o dinamismo perde-se”, lamentava. “As agências com missão científica têm sido responsáveis por muita da ciência aplicada com interesse público; com o shutdown não será possível monitorizar os surtos de gripe, actualizar em tempo real a informação sobre a qualidade e quantidade da água, melhorar as previsões meteorológicas, desenvolver sistemas avançados de defesa que nos mantenham seguros.”
Cheirar os pós da Lua
Foi neste ambiente geral que a sonda Lunar Atmosphere and Dust Environment Explorer (LADEE) entrou em órbita da Lua, na última segunda-feira. Tinha descolado a 7 de Setembro, a bordo de um pequeno foguetão, e no último domingo estava em posição para disparar os seus foguetões de travagem, deixando-se depois capturar pela gravidade da Lua, para entrar em órbita. A altura para esta manobra arriscada estava assim longe de ser a ideal.
Entre aqueles que se mantiveram no local de trabalho estavam os controladores de voo da sonda, que monitorizam a manobra de “vai ou racha” da sonda, referiu, citado pela Reuters, o cientista responsável pelo projecto, Greg Delory, do Centro de Investigação Ames, em Moffett Field, na Califórnia. Tudo se passou em apenas quatro minutos cruciais para a missão.
Agora, a LADEE irá afinar a sua órbita, até ficar entre os 20 e os 50 quilómetros acima da superfície da Lua, altitudes ideais para estudar os gases que a circundam e procurar poeiras electricamente carregadas que vêm do solo. Do tamanho de um pequeno carro, a sonda vai estudar a ténue atmosfera da Lua e determinar se estão a ser atiradas poeiras para o céu lunar e como lá foram parar. Para tal, tem aparelhos que, por exemplo, capturam e analisam partículas de poeira e que estudam a composição atmosférica.
Não se espera que a paralisia das instituições governamentais dos EUA vá afectar um teste às comunicações a laser da LADEE com a Terra, marcado para o final deste mês, referiu Greg Delory. A missão da sonda, de 263 milhões de dólares (193 milhões de euros), durará pelo menos 100 dias. No final, a LADEE esmagar-se-á contra a superfície lunar – e, até a esse derradeiro momento, estará a recolher e enviar informação.
Na semana passada, a NASA trouxe de volta trabalhadores para preparem uma outra sonda, a Mars Atmosphere and Volatile Evolution (MAVEN), que irá estudar, em órbita de Marte, a atmosfera deste planeta. A partida está marcada para 18 de Novembro, mas a janela de lançamento vai até 15 de Dezembro.
Entretanto, equipas mínimas estão a supervisionar os satélites de comunicação da NASA e sondas científicas, como a Juno, a caminho de Júpiter desde Agosto de 2011. O telescópio espacial Hubble ainda tem dinheiro para funcionar até ao final de Outubro e o Chandra, outro telescópio espacial, até meados de Dezembro. No entanto, várias outras missões enfrentam, na melhor das hipóteses, atrasos, como o sucessor do Hubble, o Telescópio Espacial James Webb, cuja construção está agora parada.
No site da NASA, os efeitos da falta de fundos federais estão bem visíveis: bate-se com o nariz na porta.