O “Breaking Bad” acabou. Longa vida ao rei! (texto sem spoilers)

"Breaking Bad" é um lembrete: "Go bad or go home". Em português, e por outras palavras: se não vives com vontade não vives de todo

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Estou a cumprir o luto. Acabou o “Breaking Bad”, para mim a melhor série de televisão da última década e talvez de sempre (quem me quiser contrariar pode usar a caixa de comentários). No recente domingo eleitoral, milhões de portugueses aguardavam o desenlace das autárquicas e eu a remoer o destino de Walter White. A série transformou-se num culto religioso, a ponto de o reputado crítico de televisão Alan Sepinwall ter insistido em ver o antepenúltimo episódio da série imediatamente depois de lhe terem removido o apêndice. Deitado na cama do hospital, mal disposto e drogado com analgésicos, mas com os dois olhos postos na TV. É isto que o “Breaking Bad” faz a uma pessoa.

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Estou a cumprir o luto. Acabou o “Breaking Bad”, para mim a melhor série de televisão da última década e talvez de sempre (quem me quiser contrariar pode usar a caixa de comentários). No recente domingo eleitoral, milhões de portugueses aguardavam o desenlace das autárquicas e eu a remoer o destino de Walter White. A série transformou-se num culto religioso, a ponto de o reputado crítico de televisão Alan Sepinwall ter insistido em ver o antepenúltimo episódio da série imediatamente depois de lhe terem removido o apêndice. Deitado na cama do hospital, mal disposto e drogado com analgésicos, mas com os dois olhos postos na TV. É isto que o “Breaking Bad” faz a uma pessoa.

Invejo aqueles que ainda não viram a série. Têm à sua frente cinco temporadas de “filet mignon” televisivo. Lembro-me que uma vez comentei com um antigo editor meu, à saída do jornal, que ia para casa ver a saga completa da “Guerra das Estrelas”. Nunca tinha visto. Ele embasbacou-se para mim e limitou-se a dizer: “Quem me dera!”. Percebo agora o que ele queria dizer com aquilo.

“Breaking Bad” é uma série épica. A começar pelo isco: um professor de Química de liceu, apagado e acachapado, é diagnosticado com cancro de pulmão. Para pagar os tratamentos médicos e providenciar um futuro para a sua família decide começar a fabricar metanfetamina. É a partir daqui que tudo estala. À letra, e ecoando o título, o Mr. White vai ganhando velhacaria. De capacho passa a gadanha. Mr. White&Heisenberg, como Jekyll&Hyde. Sabendo agora que a AMC (o canal de TV que apostou na série após recusas de outras estações) queria como protagonista o John Cusack ou o Matthew Broderick percebo como foi majestático que tenham escolhido o Bryan Cranston. E também o Aaron Paul para o papel de Jesse Pinkman, "bitch"! Todo o elenco, de resto, é sublime. Rijos, secos mas vivos. Como o deserto em torno do palco natural da série: Albuquerque, Novo México.

O criador da série, Vince Gilligan, é actualmente um guru para todos os guionistas e aspirantes a guionistas. Como é que alguém cria uma série sublime inspirada numa insípida notícia de jornal? Os diálogos vão directos ao osso, não há palavras a mais, não há equívocos. Toda a gente diz o que precisa de dizer. Todas as acções têm uma justificação e não há pontas soltas. Há azedume, negrura e vingança. Há co-dependência e redenção. Recentemente entrevistado pela “Variety”, o até aqui apagado Gilligan cita o escritor francês Gustave Flaubert: “Sê metódico e ordeiro na tua vida, como um burguês, para que possas ser violento e original no teu trabalho”. Feito v.

Em última análise, "Breaking Bad" é um lembrete: "Go bad or go home". Em português, e por outras palavras: se não vives com vontade não vives de todo.