Morreu o rabi Ovadia Yosef, líder espiritual e político em Israel
Yosef era o líder espiritual do Shas, o partido dos judeus sefarditas que participou em todos os governos israelitas excepto dois.
O rabi Ovadia Yousef é visto como a figura que ajudou a restaurar uma dignidade perdida aos judeus sefarditas de Israel, que se sentiam discriminados pelos ashkenazi, e “inspirou uma renascença da vida religiosa sefardita em Israel”, diz o diário israelita Ha’aretz.
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O rabi Ovadia Yousef é visto como a figura que ajudou a restaurar uma dignidade perdida aos judeus sefarditas de Israel, que se sentiam discriminados pelos ashkenazi, e “inspirou uma renascença da vida religiosa sefardita em Israel”, diz o diário israelita Ha’aretz.
O Shas nasce em 1984 para lutar contra a discriminação de que os judeus do Médio Oriente sentem em relação aos que vieram da Europa, e Yousseff consegue cada vez mais apoio político e verbas para as instituições religiosas sefarditas.
Durante anos distribuindo apoio ora à direita, ora à esquerda, desafiando a noção de que os partidos religiosos tendiam para a direita, Yosef era procurado pelos dois campos.
O antigo deputado trabalhista Daniel Ben Simon destacavam no site Al Monitor que dos seus veredictos, um “entrou no panteão político de Israel”. Em 1990, quando um governo de unidade juntava Labour e Likud, Yosef foi questionado sobre a sua opinião em relação a uma retirada da Cisjordânia. O trabalhista Shimon Peres queria um acordo com os palestinianos dispondo-se a devolver território ocupado, enquanto o líder do Likud, Yitzhak Shamir, se opunha à ideia. Yousef disse então que no judaísmo a protecção de vidas humanas se sobrepõe a tudo o resto. Ou seja – o preço a pagar pela paz poderia ser a devolução de um território.
O Shas participou na maioria dos governos israelitas, ficando de fora apenas no Executivo de Ariel Sharon em 2003 e no actual Governo de Benjamin Netanyahu. Nas últimas eleições, uma onda de indignação para com os apoios dados aos ultra-ortodoxos pelo Estado de Israel deu um bom resultado ao partido secular de Yair Lapid, que defendeu o fim de alguns privilégios para os ultra-ortodoxos, incluindo a possibilidade de não fazer o serviço militar obrigatório. Uma política contraditória com a do Shas, que defende estes apoios: o partido ficou de fora do Governo.
Com a doença de Yousef, começou a colocar-se a grande questão – será o Shas capaz de sobreviver sem o seu grande líder espiritual? É que à medida que Ovadia Yosef se afastava de cargos formais no partido (que não ocupa desde os anos 1980), o seu poder foi sempre crescendo. Autoridade política e religiosa, não há de momento ninguém que se aproxime do seu papel.