Itália apela à UE para mudar leis da imigração e teme-se que tenham morrido 300 imigrantes
Governo italiano tenta levar União Europeia a discutir política de imigração. Mergulhadores disseram ter visto dezenas de cadáveres. Muitos terão sido levados por correntes marinhas.
“Já não temos esperança de encontrar sobreviventes”, disse à AFP um elemento das forças policiais envolvidas nas operações de resgate de um desastre que relança o debate sobre a política europeia de imigração. A Itália está esta sexta-feira a viver um dia de “luto nacional”.
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“Já não temos esperança de encontrar sobreviventes”, disse à AFP um elemento das forças policiais envolvidas nas operações de resgate de um desastre que relança o debate sobre a política europeia de imigração. A Itália está esta sexta-feira a viver um dia de “luto nacional”.
Até à manhã desta sexta-feira só foram salvas 155 pessoas das 450 a 500 que o navio transportaria, o que pode fazer do desastre a maior tragédia da imigração, nos últimos anos. Mergulhadores que exploraram a zona próxima do navio afundado disseram ter visto dezenas de cadáveres. Muitos outros terão sido levados da zona pelas correntes marinhas.
A última grande tragédia com imigrantes ocorreu em Junho de 2011, quando 200 a 270, oriundos da África subsariana e fugidos da Líbia em guerra, se afogaram ao tentarem chegar a Lampedusa. Segundo a organização não-governamental Migreurop, com sede em Paris, nos últimos 20 anos, 17 mil imigrantes morreram ao tentar chegar à Europa.
“Já não temos espaço, nem para os vivos nem para os mortos”, disse ainda na quinta-feira, poucas horas depois do naufrágio, a presidente da câmara de Lampedusa, Giusi Nicolini.
O vice-primeiro-ministro italiano, Angelino Alfano, confirmou à AFP a detenção do capitão do navio, que partiu do porto líbio de Misrata, lotado de imigrantes, maioritariamente somalis e eritreus. Já esta sexta-feira, na Câmara dos Deputados, Alfano defendeu a necessidade de “actuar, na Europa e em África”.
Na Europa, o vice-primeiro-ministro considera necessário mudar as regras “que fazem pesar demasiado a imigração clandestina sobre os países de entrada”. Na quinta-feira reivindicou a possibilidade de a Itália alargar o patrulhamento “para além das suas águas territoriais”.
Agir na UE
Alfano disse ter conversado ao telefone com o presidente da Comissão, Durão Barroso, e que este lhe deu "abertura" para reabrir o dossier da entrada de imigrantes ilegais na Europa. "Prometeu-me que virá connosco a Lampedusa para lhe mostramos o que se passa nesta parte da Europa", disse Alfano, citado pelo jornal La Repubblica. "Faremos ouvir alto a nossa voz na Europa para alterar os tratado de Dublin, o acordo internacional que atribui muito, muito, muito peso da imigração aos países de primeiro ingresso."
A ministra da Integração italiana, Cécile Kyenge, primeira negra num governo italiano, reclamou a criação de “corredores humanitários para tornar mais segura a travessia daqueles que são vítimas de organizações criminosas”.
A comissária europeia dos Assuntos Internos, Cecilia Malmström, afirmou no Twitter a sua convicção de que é preciso mudar a situação: "Os meus pensamentos estão com as vítimas e com as suas famílias. Devemos redobrar os esforços para lutar contra os traficantes de pessoas que exploram o desespero."
Mas outros recordaram em Itália que a própria legislação italiana está na origem de problemas, não só a lei Bossi-Fini, como, mais recentemente, uma alteração que transforma em crime de favorecimento da clandestinidade prestar ajuda em alto mar a embarcações de imigrantes ilegais que estejam em perigo. Por isso, diz a presidente da câmara de Lampedusa, Giusi Nicolini, os pescadores se mantêm afastados destes navios. Três barcos de pescadores afastaram-se da embarcação que transportava estes imigrantes, que se incendiou e acabou por naufragar, dado o pânico das pessoas a bordo.
As autoridades italianas informaram que cerca de 25 mil imigrantes entraram este ano em Itália, três vezes mais do que em 2012. Segundo as Nações Unidas, no ano passado, quase 500 pessoas morreram ou foram dadas como desaparecidas no mar, quando tentavam chegar à Europa.