Eles descobrem a cidade à noite (e a correr)

Preferem a noite ao resto do dia e não se importam de correr sozinhos, aproveitando para descobrir as suas cidades. Para Magda Silva e Miguel Heitor, "a corrida é um óptimo gestor de stress"

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Quando muitos estão a vestir o pijama — ou, pelo menos, a calçar as pantufas —, Magda Silva e Miguel Heitor vestem calções e calçam as sapatilhas para correr. À noite, quando o tempo livre é maior e têm menos obrigações, gostam de aproveitar o ar fresco e a cidade mais silenciosa antes de dormir (mesmo no Inverno).

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Quando muitos estão a vestir o pijama — ou, pelo menos, a calçar as pantufas —, Magda Silva e Miguel Heitor vestem calções e calçam as sapatilhas para correr. À noite, quando o tempo livre é maior e têm menos obrigações, gostam de aproveitar o ar fresco e a cidade mais silenciosa antes de dormir (mesmo no Inverno).

Na última noite de São João, no Porto, Magda abdicou dos martelos e do alho-porro para ir correr. Enquanto o Porto se divertia entre a Baixa e a Foz do Douro, percorreu a cidade, com uma amiga, de uma ponta a outra, sempre a correr no meio da multidão que preenche as ruas nessa noite. Correr à noite já é tão normal para esta relações públicas que os passeios e as ruas ocupadas em noite de festa não a incomodam.

Magda Silva fazia corridas de velocidade quando era miúda mas, com o tempo, foi abandonando esta actividade física. Nunca deixou de estar ligada ao desporto — até porque trabalha, há anos, em “health clubs” — e foi uma amiga quem a convenceu a recomeçar a correr. Em Fevereiro de 2013 aderiu “à moda” de correr pela cidade e, depois de experimentar vários horários, fixou-se nas noites.

Pelas 22h00, depois do filho adormecer, pega nos calções e nas sapatilhas e vai correr. A zona da Foz do Porto é a sua favorita, mas chega a fazer 18 quilómetros (“Uma coisa quase impensável há bem pouco tempo!”) percorrendo toda a cidade. Quando chega a casa, perto da meia-noite, está “muito mais relaxada e com os pensamentos mais claros”. “A corrida é um óptimo gestor de stress”, descreve.

Equitação, judo e râguebi foram alguns dos desportos que Miguel Heitor praticou. Este estudante universitário de 25 anos, a viver em Lisboa, “não gostava de correr, achava que havia coisas muito melhores para fazer”. Até que lhe aconteceu o mesmo que a Magda: uma amiga convenceu-o a experimentar, há cerca de um ano, e hoje em dia é Miguel quem se esforça por atrair pessoas para a corrida. “Liberta e distrai e é diferente de outras modalidades porque é muito individual”, resume.

Em Lisboa, Belém e Monsanto são as zonas que este informático prefere para correr. O que mais lhe agrada na corrida é o facto de poder ir para qualquer lado, “sem obstáculos” e sem um objecto para transportar, como uma bicicleta. Mesmo quando vai acompanhado (e Miguel participa, frequentemente, nos treinos do Correr Lisboa, comunidade do amigo Bruno Claro) consegue ordenar as ideias. “Como correr é individual não tens de estar obrigatoriamente a falar com alguém, podes estar a pensar nos teus problemas.”

Quando a corrida é um vício 

Aproveitar a noite, com as estradas e os passeios mais vazios, mudou a forma como estes dois corredores vêem as suas cidades. “Sou muito mais atento: reparo nas subidas e descidas e tenho conhecido muito mais de Lisboa”, reconhece Miguel. Já Magda, que viveu vários anos em Coimbra, reencontrou zonas do Porto das quais se tinha esquecido e acha “muito cativante” descobrir a cidade a correr.

Na hora de sair de casa, Miguel e Magda têm preocupações diferentes. Enquanto o primeiro não vive sem os "gadgets", uma vez que é competitivo e gosta de saber o ritmo e o tempo de treino, a segunda prefere correr o mais leve possível, incluindo sem música e sem saber o tempo exacto que faz. “Às vezes até me custa ir correr se souber que não trouxe o relógio, para ver o meu ritmo”, confessa o jovem de 25 anos. Miguel admite estar “completamente viciado” na corrida. “Tento orientar sempre o meu dia para isso: se achar que não vou conseguir correr à noite, vou de manhã, pelas 5h30. Mas é raríssimo passar um dia sem correr.” Frequente é correr mais do que uma vez por dia.