Papa considera Igreja Católica muito "vaticanocêntrica"

Crítica a um governo da Igreja centrado no Vaticano, cujos interesses “são ainda em grande medida temporais”, numa entrevista publicada no dia em que começa a discutir reformas com um grupo de cardeais.

Foto
“Não existe um Deus católico… Acredito em Jesus Cristo, a sua encarnação." ALBERTO PIZZOLI/AFP

As declarações foram publicadas nesta terça-feira, dia em que começa um conselho de cardeais que pode decidir reformas na Igreja.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

As declarações foram publicadas nesta terça-feira, dia em que começa um conselho de cardeais que pode decidir reformas na Igreja.

A Cúria – governo da Igreja – não é uma corte, mas encontram-se lá “cortesãos”, afirma o Papa. Francisco adianta que fará o que estiver ao seu alcance para mudar a mentalidade “vaticanocêntrica”. A Cúria centra-se muito nos interesses do Vaticano que “são ainda em grande medida interesses temporais”.

A entrevista é feita pelo fundador do La Repubblica, Eugenio Scalfari, e segue-se a uma troca de correspondência, depois de o jornalista ter manifestando ao Papa as razões do seu ateísmo. Francisco revela que, por momentos, ponderou não aceitar a eleição para liderar a Igreja, quando foi escolhido, em Março.

Falando sobre a sua fé, o Papa afirma: “Não existe um Deus católico…Acredito em Jesus Cristo, a sua encarnação. Jesus é o meu mestre e o meu pastor, mas Deus, o pai …é a luz e o criador."

O Papa Bergoglio distingue também clericalismo de cristianismo. “Não tem nada a ver com cristianismo”, sublinha. “Acontece-me também a mim: se encontro um clerical torno-me anticlerical.”

Francisco manifesta o entendimento de que a Igreja deve relançar-se a partir do Concílio Vaticano II e abrir-se à cultura moderna, participando nos grandes debates da actualidade.

Os “males mais graves que afligem o mundo” são, afirma, “o desemprego dos jovens e a solidão em que são deixadas as pessoas idosas”. O “liberalismo selvagem” tem como resultado “tornar os fortes mais fortes, os fracos mais fracos e os excluídos mais excluídos”, diz também.

Francisco começa nesta terça-feira uma reunião com oito cardeais de todo o mundo – Itália, Chile, Índia, Alemanha, República Democrática do Congo, EUA, Austrália e Honduras –  a quem pediu que o ajudassem a reformar a administração do Vaticano. “É o princípio de uma Igreja com uma organização não apenas vertical mas também horizontal”, disse.

O reforço do papel das mulheres na Igreja, a situação dos católicos divorciados e os abusos sexuais são outros assuntos que poderão ser abordados nas discussões que se devem prolongar por três dias. A intenção de criar o conselho de cardeais foi anunciada por Francisco um mês depois da sua eleição.