Mais de 650 mil casas no país não usam água da torneira
Crise leva mais portugueses a usar poços e furos. Entidade reguladora alerta para os riscos de contaminação.
O recurso a fontes alternativas está aumentar com a crise económica. A situação preocupa a Entidade Reguladora para os Serviços de Água e Resíduos (ERSAR), que alerta para o risco de se estar a consumir água poluída.
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O recurso a fontes alternativas está aumentar com a crise económica. A situação preocupa a Entidade Reguladora para os Serviços de Água e Resíduos (ERSAR), que alerta para o risco de se estar a consumir água poluída.
Jaime Melo Baptista, presidente da ERSAR, diz que os poços e furos estão mais sujeitos a contaminação. Além disso, não há garantia de a água captada no quintal de uma habitação é controlada em termos de qualidade com o mesmo nível da que sai da torneira. “A probabilidade de se consumir uma água não adequada é muito elevada”, avisa Melo Baptista.
O presidente da ERSAR refere que apenas parte das habitações não ligadas à rede de abastecimento estarão a valer-se de furos e poços. “Podem não ser muitas, mas há um risco em termos de saúde pública”, diz.
Esses números referem-se a 2011, mas há sinais de que, com a crise, está a aumentar a procura de alternativas para poupar na factura da água. “Temos tido reclamações crescentes dos operadores”, afirma Melo Baptista. As habitações devem obrigatoriamente aderir aos serviços de abastecimento.
Os preços da água têm vindo a subir nos últimos anos, reflectindo cada vez mais os custos dos serviços de abastecimento, conforme é exigido pela legislação nacional e comunitária. Em 2012, a factura média de uma família, para a água, saneamento e resíduos, subiu 8%, segundo dados da ERSAR. (Veja aqui o preço da água concelho a concelho).
A taxa de adesão das casas aos sistemas de abastecimento será agora revista, com dados de 2012, num relatório que sairá ainda este ano, sobre a qualidade dos serviços prestados aos utilizadores.
Um primeiro relatório, sobre a qualidade da água para consumo humano em 2012, foi divulgado esta terça-feira. A sua principal conclusão é a de que 98,2% da população foi abastecida com “água segura” — um indicador que significa que a água é controlada e tem qualidade. Em 2011 eram 98,07%. A meta para 2013 é chegar aos 99% e, segundo Jaime Melo Baptista, “está praticamente atingida”.
Foram feitas 550 mil análises à qualidade da água, representando 99,85% das que eram obrigatórias. A taxa de cumprimento dos valores-limite de poluição foi de 98,35%. Os 1,65% que escaparam às normas em 2012 têm a ver sobretudo com sistemas de abastecimento pequenos, onde ainda há problemas de desinfecção da água, ou em locais onde há contaminação natural por elementos como ferro, manganês ou arsénio.
Os furos e poços particulares representam uma origem de água que não está abrangida pelo sistema de controlo da ERSAR, daí a preocupação da entidade.
Também os fontanários estão na mira da ERSAR. Em 2012, foram controlados 313 que servem de fonte única de água a cerca de 20 mil pessoas, em locais onde não há rede de abastecimento. A maior parte está na região Centro (57%). Cerca de 93% dos fontanários fornecem “água segura”, contra a média nacional de 98%. De todas as análises que revelam problemas na qualidade do país, uma em cada seis análises (16%) refere-se a fontanários.