Velocidade furiosa
Faz confusão pensar como é que o cinema ainda não tinha ido buscar uma história destas: a rivalidade entre os pilotos de Fórmula 1 James Hunt e Niki Lauda durante o Campeonato do Mundo de 1976, o playboy inglês e o austríaco metódico corporizando duas abordagens diferentes à descarga de adrenalina de forçar os limites da velocidade. O “duelo” encontrou argumentista à altura em Peter Morgan (A Rainha, Frost/Nixon, Hereafter - Outra Vida), sempre interessado nos desafios e nas fragilidades que a ambição levanta, e que se limita a focar a sua atenção nos factos reais, sem inventar. Por seu lado, Morgan encontrou um realizador compreensivo em Ron Howard, que não fizera grande coisa pelo seu Frost/Nixon (2008) mas cuja primeira fita atrás da câmara já metia carros ao barulho (O Massacre dos Bólides, produzido por Roger Corman em 1977).
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Faz confusão pensar como é que o cinema ainda não tinha ido buscar uma história destas: a rivalidade entre os pilotos de Fórmula 1 James Hunt e Niki Lauda durante o Campeonato do Mundo de 1976, o playboy inglês e o austríaco metódico corporizando duas abordagens diferentes à descarga de adrenalina de forçar os limites da velocidade. O “duelo” encontrou argumentista à altura em Peter Morgan (A Rainha, Frost/Nixon, Hereafter - Outra Vida), sempre interessado nos desafios e nas fragilidades que a ambição levanta, e que se limita a focar a sua atenção nos factos reais, sem inventar. Por seu lado, Morgan encontrou um realizador compreensivo em Ron Howard, que não fizera grande coisa pelo seu Frost/Nixon (2008) mas cuja primeira fita atrás da câmara já metia carros ao barulho (O Massacre dos Bólides, produzido por Roger Corman em 1977).
Não é fácil filmar a velocidade da Fórmula 1, e Howard, bem ajudado pelo director de fotografia Anthony Dod Mantle, sai-se bem; reencontra alguma da energia dos seus melhores filmes (Apollo 13, 1995; Resgate, 1996), mesmo que caia demasiadas vezes em tiques modernaços, sobretudo nas cenas fora do circuito, montadas com um frenesi algo despropositado. Mas a verdadeira vitória de Rush está na impecável reconstituição de época (tire-se o chapéu ao designer Mark Digby) e, sobretudo, nas interpretações de Chris Hemsworth e Daniel Brühl. Se o primeiro, até aqui demasiado cantonado em fitas de super-heróis, aproveita para brincar sabiamente com essa imagem, já Brühl (o puto de Adeus, Lenine!) arranca uma performance de estarrecer como Niki Lauda, que transcende o mimetismo para ir direito à essência do que faz correr um homem e dá centro e equilíbrio ao filme. Filme que é o melhor Howard em muitos anos, sugerindo que lhe fez bem sair da sua “zona de conforto” e fazendo esquecer pastelões como Uma Mente Brilhante (2001) ou O Código Da Vinci (2006), mas que não impede que pensemos a espaços no que Rush poderia ter sido nas mãos de cineasta mais inspirado.