Grande coligação sobrevive na Áustria apesar da subida da extrema-direita
Extrema-direita quer discutir formação do Governo com os dois partidos maioritários.
Os eleitores austríacos voltaram a dar a vitória ao Partido Social-Democrata (SPÖ), com 27% dos votos. Os sociais-democratas caíram dois pontos face à última votação, mas mesmo assim ficaram em condições de reconduzir o chanceler Werner Faymann.
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Os eleitores austríacos voltaram a dar a vitória ao Partido Social-Democrata (SPÖ), com 27% dos votos. Os sociais-democratas caíram dois pontos face à última votação, mas mesmo assim ficaram em condições de reconduzir o chanceler Werner Faymann.
Os conservadores do Partido do Povo (ÖVP) também perderam dois pontos, obtendo 23%, um resultado que lhes permite reeditar a grande coligação que estava no Governo. A votação também assegura uma maioria dos dois aliados na Assembleia Nacional durante os próximos cinco anos.
Em terceiro surgem os nacionalistas do Partido da Liberdade (FPÖ), liderados por Heinz Christian Strache. Segundo as projecções eleitorais, o partido de extrema-direita deverá obter 22% dos votos, um forte aumento face aos resultados das últimas eleições.
Strache fez campanha pelo endurecimento das leis de imigração - pregando “o amor pelo próximo – desde que o próximo seja austríaco” - e defendeu o fim dos resgates financeiros dos países da Zona Euro em dificuldades.
“Hoje há três partidos estabelecidos na Áustria e o SPÖ não pode continuar a fingir que domina”, disse o dirigente populista na sede do partido em Viena. “Não podemos formar uma coligação de derrotados. Não podemos ser excluídos” de um futuro governo, insistiu, numa mensagem dirigida em particular aos sociais-democratas que sempre excluíram a possibilidade de vir a governar em coligação com a extrema-direita.
A subida do partido nacionalista – para quem foram os quatro pontos percentuais perdidos pelos dois partidos da Grande Coligação – foi interpretada como um sinal claro dos eleitores: segundo os analistas políticos, a transferência de votos do SPÖ e ÖVP para a extrema-direita é revelador do cansaço ou desacordo dos austríacos com a canalização das verbas europeias para o resgate às economias em dificuldades.
A narrativa eleitoral que emergiu foi de uma confiança caucionada. A Áustria, como a vizinha Alemanha, escapou à instabilidade financeira da crise do euro, exibindo um crescimento constante. E ao contrário da também vizinha Itália tem sido imune a tumultos políticos ou sociais – com a taxa de desemprego mais baixa da Zona Euro (4,7%) e o rendimento per capita mais elevado dos Dezoito, o eleitorado não tinha razões substantivas para castigar o anterior governo nas urnas.
Ao contrário das expectativas, os ecologistas dos Verdes não conseguiram traduzir o entusiasmo da sua campanha em votos, apesar de terem subido marginalmente a sua quota de há cinco anos para os 12% (as sondagens davam-lhes pelo menos 15%).
Vão repartir o hemiciclo com uma série de partidos estreantes na política parlamentar. Os ultra-liberais do Nova Áustria (NEOS), movimento fortemente pró-europeu e financiado pelos grandes patrões da indústria, que conseguiu 4,6%, e a populista “Equipa Stronach”, fundada pelo milionário austríaco radicado no Canadá, Frank Stronach, de 81 anos.
Depois de fazer fortuna como fabricante de peças para a indústria automóvel, Stronach regressou ao país natal e constituiu a sua “equipa” debaixo do lema “Verdade, Transparência, Justiça – Novos Valores para a Áustria”: os eleitores deram-lhe 6%.