"O cinema espanhol está em coma", denunciam os produtores

Quebras na afluência de espectadores e na produção e orçamentos dos filmes espanhóis preocupam indústria, que quer novo modelo de financiamento público

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Hugh Jackman foi uma das estrelas do festival espanhol RAFA RIVAS/afp

Cerca de 1,4 milhões de espectadores deixou as salas, referem os produtores, e “em 2013 as previsões do Instituto Nacional de Estatística [de Espanha] são ainda piores, com uma queda anual, até ao mês de Julho, de 20,8%” na taxa de emprego gerada pelo cinema em Espanha, lamentou quinta-feira à noite o produtor José Antonio Félez. O El País cita ainda dados quanto aos orçamentos dos filmes espanhóis rodados em 2012, que tomam como bitola os valores acima do milhão de euros: mais de 50% dos filmes feitos no ano passado tiveram menos de um milhão para trabalhar. Isto num momento em que, apesar de tudo, há um crescimento de 19,9% nas vendas internacionais de uma indústria que conta com quatro filmes premiados com Óscares de melhor filme estrangeiro.

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Cerca de 1,4 milhões de espectadores deixou as salas, referem os produtores, e “em 2013 as previsões do Instituto Nacional de Estatística [de Espanha] são ainda piores, com uma queda anual, até ao mês de Julho, de 20,8%” na taxa de emprego gerada pelo cinema em Espanha, lamentou quinta-feira à noite o produtor José Antonio Félez. O El País cita ainda dados quanto aos orçamentos dos filmes espanhóis rodados em 2012, que tomam como bitola os valores acima do milhão de euros: mais de 50% dos filmes feitos no ano passado tiveram menos de um milhão para trabalhar. Isto num momento em que, apesar de tudo, há um crescimento de 19,9% nas vendas internacionais de uma indústria que conta com quatro filmes premiados com Óscares de melhor filme estrangeiro.

Os produtores espanhóis aproveitaram o palco de San Sebastián para exigir que o Governo intervenha rapidamente no modelo de financiamento do sector e que crie incentivos fiscais para salvar a indústria da sua dormência. A estas invectivas sobre o cenário de depressão do lado da produção juntou-se a questão, muito debatida em Espanha, da subida do IVA sobre os produtos culturais – fixou-se nos 21% em 2012, temendo-se que tenha efeitos dissuasores do lado do consumo e que tenha influído na quebra de receitas do cinema espanhol.

De acordo com a imprensa espanhola, está paralisada a comissão de trabalho que deveria estar há um ano a desenhar e negociar um novo modelo de financiamento para reagir aos problemas do Fundo Nacional da Cinematografia – o instrumento estatal através do qual o Ministério da Cultura encaminha para o sector as suas verbas de apoio públicas, a diminuir há vários anos. Apesar de ter como objectivo participar na construção de uma nova lei de financiamento do cinema que deveria vigorar já a partir de Janeiro de 2014.

O momento é “de absoluta urgência”, disse em San Sebastián Joxé Portela, o presidente da FAPAE, a confederação que agrega todas as empresas de produção de cinema e televisão espanholas. Para este responsável, “é necessário que saibamos se existe vontade política ou não para fazer avançar este novo modelo [de financiamento] porque o trabalho técnico está feito”.

Entretanto soube-se sexta-feira que a parcela que cabe à Cultura no Orçamento de Estado espanhol para 2014 crescerá 17,1%  – mais 81 milhões de euros do que em 2012  – aumento que o ministro das Finanças, Cristóbal Montoro, disse que se deve a uma aposta "em concreto" no teatro, não acrescentando mais pormenores.

Recorde-se que se se fala num coma do cinema espanhol, deste lado da fronteira os produtores, distribuidores e realizadores denunciaram 2012 como sendo “o ano zero do cinema português”. A suspensão dos concursos a apoios públicos para a produção cinematográfica ou realização de festivais em 2012 gerou uma paralisia no sector e só no final do ano foi promulgada a nova Lei do Cinema e do Audiovisual.

Esta prevê alterações na forma de captação de verbas para o sector, algumas das quais têm sido contestadas – os operadores de televisão por subscrição estão em incumprimento desde Julho quanto ao pagamento da taxa anual – e discutidas publicamente pelos agentes do sector. Outras estão a ser alvo de discussão pública por questões específicas, como o modelo de financiamento da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, que está suborçamentada pelo menos desde Abril deste ano. A sua situação será discutida no Parlamento a 9 de Outubro com dois projectos-lei (Bloco de Esquerda e PCP) e um projecto de resolução (PS) que pedem alterações à lei n.º 55/2012 para garantir estabilidade no financiamento da instituição.

No início deste ano, o Observatório Europeu do Audiovisual concluía que “o declínio [das vendas de bilhetes] no Sul da Europa reflectiu a falta de êxitos locais", enfatizando a importância do "impacto do sucesso nacional nos resultados anuais”.