Ouro

À primeira vista, "Ouro" é um parente próximo do notável "Atalho" de Kelly Reichardt (2010) - um quase-mas-não-bem-western desacelerado sobre um pequeno grupo de colonos que, em final do século XIX, se perde no caminho para o Yukon. As diferenças começam aí: este grupo é composto por emigrantes alemães que deixaram para trás as suas vidas para irem procurar ouro, gente que, desiludida com a sua primeira tentativa, procura um “recomeço” em busca do sonho americano que os atraíu para longe da Europa. E o filme do alemão Thomas Arslan torna-se em qualquer coisa de francamente mais intrigante e esquivo - nem western convencional nem aventura clássica, mas com as convenções desses géneros a serem constantemente convocadas, "Ouro" evoca a espaços os épicos da emigração para os EUA, mas é no film noir ou no heist movie que assenta arraiais, um pouco como Arslan já fizera no seu excelente filme anterior, "Im Schatten" (2010, que por cá apenas vimos no festival do Estoril).

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À primeira vista, "Ouro" é um parente próximo do notável "Atalho" de Kelly Reichardt (2010) - um quase-mas-não-bem-western desacelerado sobre um pequeno grupo de colonos que, em final do século XIX, se perde no caminho para o Yukon. As diferenças começam aí: este grupo é composto por emigrantes alemães que deixaram para trás as suas vidas para irem procurar ouro, gente que, desiludida com a sua primeira tentativa, procura um “recomeço” em busca do sonho americano que os atraíu para longe da Europa. E o filme do alemão Thomas Arslan torna-se em qualquer coisa de francamente mais intrigante e esquivo - nem western convencional nem aventura clássica, mas com as convenções desses géneros a serem constantemente convocadas, "Ouro" evoca a espaços os épicos da emigração para os EUA, mas é no film noir ou no heist movie que assenta arraiais, um pouco como Arslan já fizera no seu excelente filme anterior, "Im Schatten" (2010, que por cá apenas vimos no festival do Estoril).

Há algo de Melvilliano na solidão que percorre estas personagens perdidas na paisagem, nas explosões de electricidade da guitarra de Dylan Carlson na banda-sonora, tanto como há algo de Huston na deslumbrante desolação da paisagem canadiana que nos recordou do "Tesouro de Sierra Madre" (1948). Mas tudo filtrado pelo pragmatismo teutónico de Arslan, cineasta que não dá ponto sem nó e que faz de Ouro uma meditação desapaixonada sobre a ilusão do sonho americano, apoiada em duas interpretações notáveis de Nina Hoss e Marko Mandic, as duas únicas personagens que já não acreditam em nada e nada têm a perder. Ouro é um desafio ao espectador.