O amanhã de hoje

Talvez a melhor forma de pensar seja a que encontramos na mitologia hindu, onde se acredita que a passagem do tempo é apenas uma ilusão destinada a mascarar a eternidade

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d?vid/Flickr

O futuro é uma mulher muito maquilhada vista ao fundo da rua, que quanto mais se aproxima mais banal se torna. Em 1989, o filme "Regresso ao Futuro II" imaginava um ano de 2015 livre de advogados, onde a roupa se vestia automaticamente e os carros voavam. Vinte e quatro anos depois, o ano de 2015 já não parece assim tão interessante, mas é verdade que as coisas vistas com 20 anos de antecedências são como o Laos de uma vida: o sítio que se sabe poder existir, mas que não se acredita que alguma vez lá cheguemos.

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O futuro é uma mulher muito maquilhada vista ao fundo da rua, que quanto mais se aproxima mais banal se torna. Em 1989, o filme "Regresso ao Futuro II" imaginava um ano de 2015 livre de advogados, onde a roupa se vestia automaticamente e os carros voavam. Vinte e quatro anos depois, o ano de 2015 já não parece assim tão interessante, mas é verdade que as coisas vistas com 20 anos de antecedências são como o Laos de uma vida: o sítio que se sabe poder existir, mas que não se acredita que alguma vez lá cheguemos.

A dois anos de distância, 2015 já não é uma utopia mas uma realidade, onde todas as revoluções podem acontecer em Portugal. Está previsto que 2015 seja nada menos que o ano da estabilização das contas públicas, o ano do regresso aos mercados, o ano da retoma dos salários, o ano das eleições legislativas, o ano da obrigatoriedade do Acordo Ortográfico, o ano do Mundial de Futebol de Praia e o ano da construção da primeira cidade autossustentável em Portugal.

E todavia nada disto acontecerá em 2015, pois é necessário que já tenham acontecido em 2013. Explico: tal como só vemos na Terra a luz da explosão das supernovas muitos milhares de anos depois daquelas terem ocorrido, em 2015 ver-se-á o que se fez em 2013. E só é possível fazer em 2013 aquilo que surja em 2015 se pensarmos que cada um dos nossos atos é sempre um gesto a pensar nos olhos que nos verão no futuro. Ou seja, tal como um pintor, um escultor, um escritor cria uma obra hoje que espera que possa ser desfrutada amanhã, agir hoje é pensar o que se espera que aconteça em 2015, ou em 2016 ou em 2017. Tal como Zemeckis, ao mostrar o futuro de 2015, não estava apenas a convocar os olhos que o viam em 1989, mas estava também a convocar os olhos que veriam o seu filme em 2015.

Confusos? É bem provável, mas nada que tenha a ver com o tempo – presente, passado ou futuro – é fácil de entender. E talvez a melhor forma de pensar seja a que encontramos na mitologia hindu, onde se acredita que a passagem do tempo é apenas uma ilusão destinada a mascarar a eternidade em que vivemos, e que por isso devemos sempre fazer hoje aquilo que esperamos que seja hoje, mesmo que esse hoje seja só amanhã.