2015: P qualquer coisa
É caso para dizer que queremos ir em frente mas no carro só funciona uma mudança: a de marcha-atrás. E não é em dois anos que se muda um país
Um dia disseram-me que tinha uma visão romântica das coisas — que é como dizer da vida e do mundo — e que olhava para tudo de forma positiva. Não o nego mas confesso que, com o passar dos anos, mudei. O que não considero negativo se a mudança estiver associada a uma evolução.
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Um dia disseram-me que tinha uma visão romântica das coisas — que é como dizer da vida e do mundo — e que olhava para tudo de forma positiva. Não o nego mas confesso que, com o passar dos anos, mudei. O que não considero negativo se a mudança estiver associada a uma evolução.
Mudança e evolução. Dois substantivos que me ocorreram de imediato quando, do P3, me lançaram o desafio (a propósito da celebração dos seus dois anos de existência) de escrever um texto sobre como seria o país daqui a dois anos.
De seguida ocorreu-me um pensamento: “Vai estar tudo ainda mais fodido que hoje, provavelmente”. E creio que deve ser o que todos os portugueses, em geral, pensam. Isto se formos a considerar a actualidade, com os ataques constantes à nossa Constituição e aos vários retrocessos que se têm verificado em áreas como as da saúde, educação ou segurança social só para mencionar algumas. É caso para dizer que queremos ir em frente mas no carro só funciona uma mudança: a de marcha-atrás. E não é em dois anos que se muda um país.
Mas vamos imaginar o nosso Portugal a dois anos de distância. Como nós estará mais velho e terá como presidente da República um tal de Aníbal Cavaco Silva a quem já chamaram muitas coisas e, enfim…. Continuaremos a ser mal remunerados e a perder poder de compra. A taxa de desemprego até pode diminuir mas o trabalho será mais precário. O Paulo Portas vai continuar a ter uma palavra a dizer como raposa política que é e o Miguel Relvas vai conseguir mais uma licenciatura. O Isaltino Morais vai ser um tipo livre e, provavelmente, o julgamento do BPN ainda fará manchetes nos jornais. Vamos continuar a ser um país de emigrantes. A natalidade continuará a diminuir. Serão menos os estudantes universitários. O Mário Nogueira ainda estará a liderar a FENPROF. A electricidade, a água e os combustíveis estarão mais caros. As florestas continuarão a arder no Verão. Os políticos vão continuar a não cumprir promessas eleitorais e a culpar os seus antecessores por isso. Ou seja, mais do mesmo. Pouco irá mudar. Infelizmente.
Para alguém que dizem ser “romântico” e “positivista” o cenário que adivinho não é assim muito bom. Mas é realista. E custa. Custa sentir que o nosso país está mal. Que as pessoas estão tristes. Custa sentir que a palavra “esperança” perde sentido. Dói ouvir gente usar essa coisa tão portuguesa que é a “saudade” todos os dias. Saudade de quando as coisas corriam bem e andava tudo de sorriso estampado na face. Saudade de um Portugal feliz.
Eu fui e regressei. Quero acreditar que daqui a dois anos estaremos a entrar num novo ciclo. Baixar os braços não é opção. Estou convicto que daremos a volta à coisa. Não podemos pensar de outra forma. Somos pequenos mas gente de luta. Talvez não consigamos mudar a situação em dois anos mas a seu tempo o faremos. E, tal como o P3, estaremos por cá para o comprovar. Quando existe vontade tudo acontece.